Da Roménia com indignação

Título romeno duplamente nomeado nos Óscares, enquanto documentário e filme internacional, Colectiv, de Alexander Nanau, desmonta um caso que abanou o país.

De Cristi Puiu, com A Morte do Sr. Lazarescu, a Cristian Mungiu, com O Exame, o novo cinema romeno tem estudado, através da ficção, a moral enviesada de um país ainda não estruturalmente recuperado após o fim da ditadura comunista de Ceausescu, em 1989. A mesma vontade de sondar a desmoralização interna de um sistema está na génese do documentário Colectiv - Um Caso de Corrupção, de Alexander Nanau, centrado no escândalo que decorreu de um incêndio num clube noturno de Bucareste a 30 outubro de 2015, fazendo 27 vítimas mortais e 180 feridos, dos quais, meses após o internamento, e apesar de se tratar de queimaduras menos graves, morreram mais 37. O que é que justificou essas mortes, numa altura em que o governo assegurava que tudo estava a ser feito para salvar as vítimas? Infeções bacterianas derivadas de questões sanitárias hospitalares.

Colectiv segue o trabalho de investigação de Catalin Tolontan, jornalista de um diário desportivo (Gazeta Sporturilor), que, com uma pequena equipa, chegou a dados muito concretos sobre a origem do mal: o uso de desinfetantes cujos princípios ativos eram diluídos em virtude de um gigante esquema de corrupção nos hospitais. Quando a verdade veio ao de cima, a indignação popular foi tal que, entre protestos e conferências de imprensa desastrosas, o governo social-democrata acabou por demitir-se, sendo substituído durante um ano, até novas eleições.

A partir daí, é também o esforço de um jovem ministro interino com a pasta da saúde que Colectiv observa, na sua perplexidade mais sincera: como resolver um problema que é só a ponta do icebergue num sistema corrompido pela própria classe política? Sem recorrer a entrevistas formais, Alexander Nanau faz a câmara imergir na dinâmica de quem investiga, de quem denuncia e de quem tenta alcançar soluções, apesar do desânimo. Colectiv cresce, nessa medida, enquanto objeto de puro labor jornalístico, com o desassossego e a paixão pelo desvelar da verdade de filmes como O Caso Spotlight. Por sinal, esta última uma produção de 2015, ano em que Nanau começou a trabalhar no seu documentário.

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