Nos tempos que correm, é muito provável que o leitor interessado em cinema, mesmo restringindo o seu consumo às plataformas, sinta que a acumulação de novos filmes vai a par de uma crescente banalização da oferta. Aliás, creio que isso será tanto mais claro quanto mais filmes são descobertos através das referidas plataformas. Nesta conjuntura de desperdício de talentos, o novo Echo Valley, coproduzido pela Apple Studios e a Scott Free (de Ridley Scott), agora disponível na Apple TV+, pode ser um bom/mau exemplo.Entenda-se: não serei eu a demonizar a produção das plataformas, quanto mais não seja porque é daí que provêm (com ou sem passagem prévia pelas salas escuras) alguns dos títulos marcantes dos últimos anos — ou seja, não nos vamos queixar da existência de O Irlandês (2019), de Martin Scorsese, apenas porque tem chancela da Netflix...Seja como for, a indigência criativa de um filme como Echo Valley dá que pensar. Até porque nele encontramos uma atriz tão talentosa como Julianne Moore, lado a lado com Sydney Sweeney que, para lá da sua “imagem de marca” (gerada nas plataformas, precisamente), teve uma brilhante composição em Reality (2023), de Tina Satter, genuíno filme político infelizmente foi muito pouco visto. Isto sem esquecer as breves participações de Kyle MacLachlan, eterno Dale Cooper de Twin Peaks, e Fiona Shaw, grande senhora do teatro britânico.Tudo se passa a partir das atribulações de uma mãe (Moore) que, depois da morte da mulher com quem era casada, tenta manter a gestão da sua quinta que é também uma escola de equitação. A sua filha (Sweeney), toxicodependente, aparece regularmente para tentar extorquir-lhe dinheiro, por fim arrastando-a para o apagamento dos traços de um crime que terá cometido...As “surpresas” de tudo isto são tanto mais monótonas quanto, se tivermos visto o trailer, conseguimos antecipar mais de metade das peripécias que nos são servidas com pomposo dramatismo. A realização de Michael Pearce distingue-se (ou melhor, não se distingue) por uma preguiçosa vulgaridade televisiva, para mais associada a uma montagem que parece confundir a fabricação de “suspense” com a ocultação de informações ao espetador... As convulsões do final, em que, apesar de tudo, estaria a “complexa” explicação dos acontecimentos, esgotam-se nuns escassos minutos de gratuita “aceleração” factual.Dir-se-ia que, para lá dos méritos pontuais das suas opções de produção, as plataformas se substituíram aos estúdios clássicos (sobretudo de Hollywood), tentando refazer as glórias de géneros como o “drama policial”. Em boa verdade, fica a sensação de que alguns dos envolvidos deviam empenhar-se um pouco mais no estudo dos mestres do classicismo..Ser ou não ser 'queer', eis a questão.A primeira série de Wong Kar Wai é outra cantiga