Coleção de Arte Manuel de Brito saiu de Algés após 12 anos no Palácio dos Anjos

O Centro de Arte Manuel de Brito, cuja coleção tem obras de Júlio Pomar, Paula Rego, ou Eduardo Batarda, saiu daquele espaço por não renovação do protocolo com a câmara de Oeiras.
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Contactado hoje pela agência Lusa, Rui Brito, um dos herdeiros do colecionador, indicou que todas as peças já foram retiradas do espaço, e lamentou a "falta de interesse por parte da autarquia em manter a coleção em Algés".

Desde novembro de 2006, quando o Centro de Arte Manuel de Brito (CAMB) foi inaugurado, com a exposição antológica de Menez, "Dos anos 10 aos anos 50", o centro realizou dezenas de exposições, sobretudo de artistas portugueses e do mundo lusófono, representados na coleção.

Ao longo da vida, Manuel de Brito (1928-2005) - um dos primeiros e maiores galeristas e livreiros do país - reuniu cerca de duas mil obras de arte, desde escultura, pintura e desenho, criando uma das maiores e mais importantes coleções privadas de arte do país.

O protocolo assinado para 11 anos de cedência do espaço pela Câmara Municipal de Oeiras, na altura, como atualmente, liderada por Isaltino Morais, terminou em novembro de 2017, mas com a realização das eleições autárquicas, as negociações para a renovação foram sendo adiadas.

"A nossa ideia era renovar o protocolo porque gostamos do espaço, e era adequado, mas as condições foram-se deteriorando, e notámos um desinvestimento da autarquia", comentou Rui Brito, cuja família também detém a histórica Galeria 111, em Lisboa e no Porto.

Sobre os motivos da não renovação do protocolo, disse que a câmara alegou, na altura, "a falta de apresentação de um projeto consistente".

"Mas eu percebi logo que não havia interesse da parte da autarquia em renovar, e que já existiam outros planos para o Palácio dos Anjos. Não houve sequer vontade de ouvir a nossa proposta", comentou Rui Brito.

Ao longo dos 11 anos, o CAMB apresentou exposições com mais de 2.000 obras da coleção, que, entretanto, cresceu com novas aquisições, reunindo atualmente 160 artistas portugueses - como Paula Rego, Júlio Pomar, Graça Morais, Menez, António Dacosta e Eduardo Batarda - e 43 estrangeiros.

"Mas continuamos a colaborar e fazer cedências com vários museus. Este ano tivemos várias solicitações da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação de Serralves, do Museu Júlio Pomar, entre outros", indicou o herdeiro e atual gestor da coleção, em conjunto com a mãe, Maria Arlete Alves da Silva, viúva do galerista e colecionador.

"Sobretudo a minha mãe foi incansável na programação ao longo destes anos", salientou, acrescentando que a apresentação da coleção "foi feita numa postura de serviço público ao longo de todo este tempo, mas pouco valorizada pela autarquia", que voltou a ser liderada por Isaltino Morais.

Questionado sobre o destino da coleção, se pretende fazê-la sair de Portugal ou vendê-la, Rui Brito respondeu que o objetivo é "mantê-la no país e encontrar um novo espaço".

"Já surgiram outras propostas que estamos a avaliar", disse, escusando-se a indicar quais, por ser "ainda prematuro".

Contactada pela agência Lusa sobre a não renovação do protocolo, a câmara de Oeiras respondeu com um comunicado no qual "reconhece e agradece o esforço e o empenho pessoal" da viúva de Manuel de Brito.

"Sem contabilizar os custos com o funcionamento e manutenção do edifício e os ordenados dos técnicos em dedicação exclusiva, ao longo dos 12 anos, o Município de Oeiras investiu no CAMB mais de dois milhões de euros", indica.

Afirma ainda, no comunicado, que, nesse período, o projeto expositivo do CAMB "foi-se esgotando, registando-se um decréscimo acentuado do número de visitantes anuais".

Em 2007, segundo os números da autarquia, foram 11.461 visitantes, em 2009 foram 19.377 visitantes, em 2012, 7.500 visitantes e, em 2017, foram 6.881 visitantes.

Alega ainda que os herdeiros de Manuel de Brito não apresentaram uma proposta de projeto sólido para o futuro do Palácio dos Anjos, tendo sido acordada a saída da coleção.

No comunicado, a autarquia anuncia a realização de obras no edifício e a criação, em 2019, de um Centro de Artes Visuais "com a principal missão de formar novos públicos sob o mote "aprender a olhar"".

"Será dada particular atenção à comunidade escolar, através da realização contínua de atividades no âmbito do Programa Oeiras Educa", descreve.

Entre outras, o CAMB apresentou as exposições "O Véu da Noiva", de Ana Vidigal e Ruth Rosengarten, "Anos 60", exposição antológica de Eduardo Luiz, "Anos 70", exposição antológica de António Dacosta, "À Volta do Papel", uma exposição que cobriu um século, com 100 artistas e 245 obras expostas.

A criação do CAMB foi feita em homenagem a Manuel de Brito, galerista falecido em novembro de 2005, um dos primeiros e maiores galeristas e livreiros do país, e uma figura singular na cultura portuguesa do século XX.

Através da Galeria 111, que abriu em Lisboa, em 1964, e no Porto, em 1971, foi apoiando jovens artistas portugueses em início de carreira, como foi o caso de Paula Rego, uma das artistas portuguesas mais reconhecidas internacionalmente.

Um ano após o falecimento do galerista e colecionador, através de um protocolo celebrado entre a família e a Câmara Municipal de Oeiras, o património artístico ficou exposto no Palácio dos Anjos, alvo de renovação para o efeito.

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