Templo de A-Má, o mais antigo ainda existente em Macau.
Templo de A-Má, o mais antigo ainda existente em Macau.

Centro Histórico de Macau: 20 anos de Património Mundial

O dia 15 de julho de 2025 assinala o 20.º aniversário da inscrição do Centro Histórico de Macau na Lista do Património Mundial da UNESCO.
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No dia 15 de julho de 2025, celebra-se o 20.º aniversário da inscrição do Centro Histórico de Macau na Lista do Património Mundial da UNESCO. Este conjunto arquitetónico, composto por 22 edificações e 8 largos, constitui um testemunho da convivência harmoniosa entre os estilos arquitetónicos orientais e ocidentais. Cada pedra e telha revela a base multicultural de Macau, refletindo o seu caráter inclusivo e o diálogo contínuo entre as civilizações do Oriente e do Ocidente ao longo de mais de quatro séculos, continuando a atrair a atenção do mundo.

Entre os monumentos, destaca-se o Templo de A-Má (ou Templo da Barra), considerado o exemplo mais emblemático da herança cultural chinesa em Macau. Construído no primeiro ano da era Hongzhi da dinastia Ming (1488), este templo é o mais antigo do género ainda existente na cidade. Segundo a tradição, quando os portugueses chegaram pela primeira vez a Macau no século XVI, desembarcaram nas proximidades do templo. Ao perguntarem aos habitantes locais o nome daquele lugar, estes, pensando que a pergunta se referia ao templo, responderam “A-Ma-Gau”. Os portugueses transcreveram foneticamente essa palavra como “Macau”, que viria a tornar-se o nome oficial da cidade em português.

O templo foi construído junto à encosta e de frente para o mar, sendo composto pelo Pavilhão de Orações, o Pavilhão da Benevolência, o Pavilhão de Guanyin e o Pavilhão Budista Zhengjiao Chanlin. As suas estruturas encontram-se dispostas de forma harmoniosa, integrando-se perfeitamente na paisagem natural. Atualmente, o Largo do Templo de A-Má (ou Largo do Pagode da Barra) recebe sombra de antigas figueiras tropicais e está constantemente envolto em fumaça de incenso. O contraste entre este templo tradicional e os edifícios de estilo ocidental ao redor não é dissonante, mas sim um exemplo vívido da convivência multicultural que caracteriza Macau.

A Casa do Mandarim, uma residência construída em 1869 no estilo tradicional Lingnan, é um dos edifícios chineses mais importantes no Centro Histórico de Macau. Trata-se do maior complexo residencial tradicional ainda existente em Macau e foi morada do célebre pensador reformista chinês Zheng Guanying. Foi neste local que Zheng escreveu a sua obra Advertências em Tempos de Prosperidade, cujas ideias reformistas exerceram grande influência no pensamento político da China moderna. A casa segue o traçado típico das residências tradicionais de Lingnan, mas incorpora também elementos da arquitetura ocidental, refletindo um estilo único de fusão arquitetónica entre Oriente e Ocidente.

Outro exemplo representativo da arquitetura residencial de estilo Lingnan é a Casa de Lou Kau, construída em 1889. Foi a residência da família de Lou Wa Sio (Lou Kau), um conhecido comerciante do final da dinastia Qing. Sendo uma das moradias da última fase do período imperial e início da República da China mais bem preservadas em Macau, a Casa de Lou Kau exibe em cada pormenor a riqueza da cultura tradicional chinesa. Delicadas esculturas em tijolo, relevos em estuque cinzento e janelas manchu revelam a sofisticação e o esplendor da arquitetura Lingnan. No interior, biombos, mobiliário e obras de caligrafia e pintura demonstram o elevado nível cultural da família residente. Apesar de predominar o estilo chinês, a residência também integra arcos e vitrais coloridos, entre outros elementos ocidentais.

As janelas coloridas de estilo manchu da Casa de Lou Kau, que combinam técnicas artesanais chinesas e ocidentais, estão maioritariamente dispostas ao longo do eixo central e em redor do pátio interior, servindo tanto para ventilação e iluminação como para decoração, refletindo o caráter distinto da residência.
As janelas coloridas de estilo manchu da Casa de Lou Kau, que combinam técnicas artesanais chinesas e ocidentais, estão maioritariamente dispostas ao longo do eixo central e em redor do pátio interior, servindo tanto para ventilação e iluminação como para decoração, refletindo o caráter distinto da residência.

Outro edifício exemplar do património cultural chinês no Centro Histórico de Macau é Sam Kai Vui Kun, que originalmente servia como local de reunião e deliberação para os comerciantes locais, tendo-se transformado posteriormente num templo dedicado a Kuan Tai (Guan Yu), uma evolução funcional que reflete a prosperidade de Macau enquanto centro de comércio internacional.

A partir de meados do século XVI, com o estabelecimento dos portugueses em Macau, a cidade tornou-se um importante entreposto comercial no Extremo Oriente, onde se cruzavam mercadorias vindas da China, Portugal, Japão, Sudeste Asiático e até da Europa. Neste contexto de florescente atividade mercantil, surgiu a ideia de construção da associação por parte dos comerciantes da Rua dos Mercadores, da Rua das Estalagens e da Rua dos Ervanários (conhecidas como as “Três Ruas”), que uniram esforços para financiar o projeto.

No interior do edifício, o culto a Kuan Tai simboliza a valorização do espírito de lealdade e justiça, tão prezado pela classe mercantil tradicional chinesa. A sua arquitetura segue o estilo típico Lingnan, com tijolos cinzentos, telhas escuras, vigas talhadas e pinturas ornamentadas, evidenciando o refinamento técnico dos artesãos da dinastia Qing.

O património cultural chinês do Centro Histórico de Macau é portador de uma memória histórica rica, representando a continuidade e a inovação da cultura chinesa na cidade. Ao longo de mais de quatro séculos, estes edifícios conviveram lado a lado com construções de estilo ocidental, testemunhando a história notável de Macau como elo entre o Oriente e o Ocidente, tanto no comércio como na cultura.

Passear por entre estes monumentos é embarcar numa viagem pelas tradições da cultura chinesa, mas também mergulhar no charme do encontro entre civilizações. No 20.º aniversário da sua inscrição na Lista do Património Mundial, estes valiosos testemunhos culturais continuam a contar a história singular de Macau, dando a conhecer ao mundo a vitalidade e a inclusividade da civilização chinesa.

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