"Não é só por causa das suas origens húngaras, ele era muito mais do que isso. Carlos Mardel foi muito importante para a história de Lisboa. O facto de ser um arquiteto húngaro é um bónus para nós." afirma, no início da visita, Miklos Halmai, embaixador da Hungria em Portugal, que apresentou credenciais em 2019..Carlos Mardel nasceu em 1695 em Pozsony (atual Bratislava) então no reino da Hungria. É um nome pouco ouvido, mas, de facto, muito importante para a história de Lisboa, ou não estivesse ele por trás do Aqueduto das Águas Livres, do Chafariz do Rato e do Reservatório da Mãe d"água. A estas obras na capital há que somar ainda o Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras..O arquiteto era uma presença silenciosa que não procurava fama e pouco se sabe sobre a sua vida ou porque razões veio para Portugal. Existem algumas especulações, mas nenhuma delas é certa. "Não há muitas imagens dele. Provavelmente, só existe um retrato. Não era muito uma estrela e era humilde." diz o diplomata Húngaro.."Nós nunca teríamos tido um aqueduto e a reconstrução de Lisboa se não tivéssemos tido um Carlos Mardel" afirma o coordenador da equipa de investigação do Museu de Lisboa, Paulo Almeida Fernandes, desafiado pelo DN para fazer um enquadramento sobre o arquiteto..O Aqueduto das Águas Livres e a Mãe D"água tiveram papéis essenciais na Lisboa do século XVIII. Estes dois monumentos ligados a Mardel serviram para a distribuição de água, suplementos e saneamento na época. Nestas duas obras, o húngaro demonstrou grande capacidade de liderança e grande criatividade enquanto arquiteto. Herda estes projetos e em ambos introduz alterações significativas e que marcam muito da identidade dos mesmos.."Na altura ainda se discutia onde a Mãe D"Água devia estar porque ia dar todo o canal de água para abastecer Lisboa. Portanto, ele impõe essa localização nas amoreiras. Um sítio relativamente alto para depois poder fazer todos os ramais de ligação aos chafarizes", explica Paulo Almeida Fernandes. A sua experiência militar possibilitou ainda que o reservatório tivesse uma estrutura sofisticada e ao mesmo tempo útil..O arquiteto húngaro construiu pouco tempo depois do reservatório os três grandes chafarizes ligados à Mãe D"Água: São Pedro de Alcântara (que já não existe), do Rato e da Esperança..Para Miklos Halmai, o Chafariz do Rato "é muito central e num sentido arquitetónico, o mais significante". Com uma funcionalidade extremamente interessante, o chafariz tem dois andares: um andar pensado para uso dos animais e o andar superior, claro, para as pessoas.."Quando os turistas vêm a Lisboa não costumam visitar este tipo de monumento, apenas por acaso. Na Hungria, nós não temos este tipo de chafarizes, é uma coisa muito portuguesa", sublinha o embaixador..No chafariz é possível encontrar símbolos distintos da arquitetura de Mardel. Um dos mais marcantes na sua assinatura é a clarabóia. Ao longo do aqueduto estão presentes também os elementos característicos desta personalidade. Um sítio de várias histórias é dos poucos sítios onde se mostra e identifica quem foi o arquiteto que está por trás. Construído antes do terramoto de 1755, foi uma das poucas obras que sobreviveu à devastação do dia 1 de Novembro, Dia de todos os Santos. Ficou para contar a história.."O Aqueduto das Águas Livres é uma das coisas que mostramos, quando alguém vem da Hungria e dizemos que foi desenhado pelo Carlos Mardel." declara Halmai..Estando a trabalhar no Aqueduto das Águas Livres, o arquiteto rapidamente ascendeu a postos de liderança de várias instituições que existiam. No entanto, não foi a primeira escolha para a reconstrução da cidade depois do terramoto, mas sim Manuel Da Maia, que era o engenheiro-mor do reino. Carlos Mardel ascende ao cargo de liderança da reconstrução de Lisboa, depois da morte dos seus superiores..O Marquês de Pombal escolhe, no entanto, o arquiteto húngaro e não qualquer dos outros para fazer o seu palácio pessoal. Este palácio é ainda hoje em dia utilizado como sede da Câmara de Oeiras. Uma faceta diferente que mostra como não é apenas "um técnico e que tinha estilo.".O embaixador da Hungria em Lisboa pretende um dia fazer uma exposição para dar a conhecer melhor o trabalho de Carlos Mardel, através dos desenhos e arquivos que existem nos dois países. O objetivo é divulgar a mensagem, a cultura húngara e o seu trabalho..mariana.goncalves@dn.pt