Biografia de Camões por Isabel Rio Novo vai ter edição americana
“É uma lança na América”. A notícia foi dada no Facebook pelo editor Rui Couceiro: “a biografia de Luís de Camões, de autoria de Isabel Rio Novo, vai ser publicada nos Estados Unidos. E não será numa editora qualquer: a Contraponto vendeu os direitos de Fortuna, Caso, Tempo e Sorte à prestigiada Harvard University Press”.
“Para que se entenda a dimensão do feito, devo dizer que nunca um autor português foi publicado pela editora da mais prestigiada universidade americana”, acrescenta Rui Couceiro, ele próprio romancista, que publicou recentemente Morro da Pena Ventosa.
A Universidade de Havard é uma das mais conceituadas do mundo, surgindo em primeiro lugar no ranking de Xangai e em terceiro na classificação do Times Higher Education (nesta, a britânica Oxford lidera). Nos últimos tempos Harvard, que fica em Cambridge, perto de Boston, tem sido notícia por ter recebido a ameaça de corte de fundos públicos caso não aceitasse uma série de exigências da Administração presidida por Donald Trump. A reitoria decidiu não ceder e foi anunciado um processo contra a Administração Trump, acusada de violar a Constituição ao tentar misturar ideologia e educação. O próprio Rui Couceiro fez uma alusão ao caso na sua publicação no Facebook, ao dizer que a publicação nos Estados Unidos de Fortuna, Caso, Tempo e Sorte - Biografia de Luís Vaz de Camões pela HUP "acontece numa altura em que Harvard está altamente valorizada pelos dislates de Trump, que é como certos críticos literários: quando falam mal de determinado livro, só o valorizam - terrível seria que gostassem dele”.
Contactado pelo DN, Onésimo Almeida, autor de livros como o já clássico L’USAlândia ou o recente Diálogos Lusitanos – com Portugal à distância, saudou a inclusão da biografia escrita por Isabel Rio Novo no catálogo da HUP. “Camões é infelizmente um clássico mundial desconhecido do público americano. E refiro-me ao público voltado para as letras. Mas também do público universitário. A edição de uma biografia do poeta numa editora de prestígio como a Harvard University Press não o levará ao grande público leitor (as edições de grande circulação são os dos trade publishers), mas ele circulará nos meios mais eruditos e certamente será recenseado em publicações como The New York Review of Books, o que lhe garantirá uma grande visibilidade. Vejo isso como mais um sinal do crescimento nos EUA do interesse por Portugal e pela cultura portuguesa que se tem vindo a verificar nos últimos dez anos", diz o professor na Universidade de Brown (instituição em Providence, que integra a seleta Ivy League, tal como Harvard).
Isabel Rio Novo deu em setembro de 2024 uma entrevista ao DN sobre essa biografia publicada por ocasião dos 500 anos do nascimento do autor de Os Lusíadas. Fica aqui uma resposta sobre a universalidade do poeta: “Sim, Camões é o primeiro poeta que verdadeiramente viu o mundo. E isso é extraordinário, porque Camões foi praticamente tudo aquilo que um homem podia ser no tempo que lhe foi dado existir, houve outros que foram soldados, houve outros que foram feridos, houve outros que tiveram experiências de naufrágio, houve outros que passaram por vários lugares do Império Português, mas ele somou isso tudo, e não é somou porque é algo que pré-existe, que existe simultaneamente e que existe sobre tudo isso. Foi um génio da literatura, um poeta excecional, que viu o mundo, e que não teve, apesar de tudo, as condições que, por exemplo, Shakespeare teve para escrever. Ou seja, a pergunta com que eu posso terminar é até onde é que Camões poderia ter ido se tivesse tido uma existência um pouco menos atribulada, um pouco mais confortável, sabendo nós que a obra dele foi produzida nos intervalos disto, das guerras, dos combates, das experiências de prisão, dos muitos dissabores, da vida boémia, dos naufrágios e no meio disto tudo ele deixou o que deixou.”