Billy Sherwood
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Billy Sherwood: “Quantas pessoas tiveram a oportunidade de crescer a ouvir uma banda e mais tarde juntarem-se a ela?”

O baixista dos Yes recordou ao DN a sua longa relação com a banda, iniciada ainda na adolescência, quando, por influência do irmão, se tornou “o maior fã” do grupo que hoje se apresenta em Lisboa
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Enquanto músico e produtor, o americano Billy Sherwood é considerado um mago do rock progressivo, com passagem por projetos tão diversos como World Trade, Circa, Lodgic ou Asia, mas é com os lendários Yes que mantém a sua relação mais duradoura. E esta começou bem cedo, ainda na adolescência, quando por influência do irmão se tornou fã da banda originalmente formada em Londres, em 1968, por Jon Anderson, Chris Squire, Peter Banks, Tony Kaye Bill Bruford – nenhum dos membros originais permanece no grupo. O único que nunca abandonou os Yes, nas suas diferentes formações, seria o baixista Chris Squire, falecido em 2015. Foi a seu pedido que para o seu lugar entrou Billy Sherwood, de quem se tornou amigo ainda no final dos anos 80, quando o músico, hoje com 59 anos, começou a colaborar com os Yes – enquanto letrista e compositor, produtor ou músico de palco. O que nunca pensou, como confessa nesta entrevista ao DN, foi que um dia se tornaria membro oficial da sua “banda favorita de sempre” no lugar de um dos seus músicos mais lendários. Uma deliciosa história do fã que se torna colega dos seus ídolos, contada na primeira pessoa na véspera da banda tocar em Lisboa, onde vem apresentar o espetáculo The Classic Tales of Yes, no qual revisitam toda a carreira da banda, “desde o início até agora”, com especial destaque para uma celebração do 50º aniversário do icónico álbum Tales from Topographic Oceans. Além de Billy Sherwood no baixo, os Yes são hoje compostos por Geoff Downes nos teclados), Jon Davison na voz e guitarra acústica, o Jay Schellen na bateria e Steve Howe, que é hoje o membro mais antigo, na guitarra.

Que significado tem para um fã dos Yes, como o Billy sempre o assumiu, tocar com os seus ídolos de sempre? Como é que passou de simples fã a membro de pleno direito da banda?

Foi um sonho tornado realidade. Quando conheci o Chris Squire pela primeira vez, ali no final dos anos 1980, e a nossa amizade se começou a formar e começámos a fazer música juntos, estava completamente atordoado, porque eles sempre foram a minha banda favorita e, de repente, ali estava eu com ele. E para ser honesto, apesar de já estar com e na banda desde essa altura, das mais variadas formas, essa sensação de deslumbramento nunca desapareceu. Ainda hoje continuo a interrogar-me como é que isto tudo aconteceu (risos). Como é que produzi um álbum para eles? Como é que fui para a estrada fazer concertos com eles? Parece que cada vez que eles necessitam de alguém para algo, o universo conspira para que seja eu, como infelizmente também aconteceu em 2015, quando o Chris me pediu para o substituir como baixista na banda.

Atualmente, os Yes são compostos pelo baterista Jay Schellen; ao centro o baixista Billy Sherwood, Geoff Downes nos teclados - em pé, da esquerda para a direita. E, em baixo, Steve Howe (guitarra) e o vocalista Jon Davison.

Como foi esse momento, quando o mítico Chris Squire, que foi um dos fundadores da banda e único músico constante em todas as diferentes formações dos Yes, lhe pediu para o substituir?

Foi um momento muito emotivo, mas também muito triste, pois só facto de ele me estar a pedir isso já significava que algo de muito grave se passava. E perceber isso partiu-me o coração, apesar da honra que significou para mim ser o escolhido dele, entra tantos talentosos músicos que existem no mundo. Mas a vida é mesmo assim, imprevisível em todos os sentidos. De qualquer forma foi muito complicado para mim, em especial depois de ter falecido. Sentia-me muito culpado por estar ali, no palco, no lugar que sempre foi dele. Nessa altura o público foi muito importante, que até podia estar a pensar o mesmo que eu, mas nunca deixou de me apoiar e puxar para cima. Essa primeira digressão foi muito complicada, mas depois comecei a interiorizar que aquilo era tal e qual como o Chris desejara. Ele próprio me havia dito que não me queria triste em cima do palco. Aos poucos, comecei a deixar todas essas boas recordações que tinha dele, enquanto músico mas também como amigo, ocuparem o lugar da tristeza e transformarem-se numa enorme inspiração. Até me custa a acreditar para o ano já cumpro uma década como seu substituto.

Mas antes já havia desempenhados muitos outros papéis na banda, embora não enquanto membro oficial…

Sim, é verdade. Quer dizer, já havia sido membro oficial antes, entre 1995 e 2000, por altura dos álbuns Open Your Eyes e The Ladder, mas foi a tocar guitarra, na altura nunca imaginaria que um dia seria o baixista dos Yes, até porque sempre acreditei que o Chris nos enterraria a todos, porque ele era a verdadeira estrela rock (risos).

Como é que se tornou um fã de Yes?

Por causa do meu irmão, que já era fã. Ele é mais velho que eu cinco anos e tinha uma banda, os Lodgic, com o melhor amigo Jimmy Haun, na qual eu acabei também por entrar. Lembro-me que um dia estavam os dois a ouvir o Close to the Edge, dos Yes, e eu entrei. Não percebi nada daquilo e achei horrível, mas nos dias seguintes, sempre que passava pelo quarto do meu irmão ele estava a ouvir o disco. Um dia pedi-lhe para me deixar ouvi-lo outra vez e percebi de imediato que ia ser a minha banda favorita para sempre, até hoje (risos).

É quase caso para dizer que estava destinado para ser músico dos Yes.

Tudo foi demasiado estranho. Quantas pessoas tiveram a possibilidade que eu tive, de crescer a ouvir uma banda e, passados uns anos, ter a oportunidade de se juntar a essa mesma banda? É algo notável, de facto, mas que não encaro de forma leviana, pelo contrário, vejo-o como uma enorme responsabilidade.

Como é este concerto, The Classic Tales of Yes, que vêm agora apresentar a Portugal?

É um espetáculo que expande toda a carreira da banda, desde o início até ao ponto onde estamos agora. Vamos tocar algumas peças musicais muito interessantes, sendo que o momento alto do concerto, se lhe podemos chamar assim, é dedicado ao álbum Tales from Topographic Oceans, que condensámos numa única e fantástica peça de 20 minutos.

Quem é o público que assiste aos vossos concertos? Sente que já têm uma nova geração de fãs?

Sim, é um publico muito multigeracional. Tem as pessoas mais velhas que sempre foram fãs de Yes, como eu (risos), mas também vejo gente cada vez mais jovem. Num dos concertos da última digressão que fizemos no Japão, estava a entrar para o recinto e houve um rapaz com um saco de discos que me reconheceu e pediu para os assinar. Pois bem, naquele saco o miúdo tinha tudo o que eu já fiz enquanto músico, a solo, com os Lodgic, todos os projetos nos quais participei. Tudo! Nem eu tenho todos aqueles discos. Enquanto os estava a assinar perguntei-lhe a idade e respondeu-me que tinha vinte, que já algum tempo se tinha apaixonado pela música dos Yes através de um videojogo e que, a partir desse momento, teve de perceber o que cada um dos membros da banda fez antes, durante e depois dos Yes. É assim que nós, os fãs dos Yes, funcionamos (risos).

Os Yes tocam esta terça-feira no Campo Pequeno, em Lisboa, às 20.30h.

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