"Vamos mesmo ter de ir viajar outra vez?”, pergunta um Obélix, de menir às costas, na prancha do novo álbum das Aventuras de Astérix agora divulgada. O irredutível gaulês que caiu no caldeirão do poção mágica em criança parece pouco convencido com os planos do seu amigo de bigodes loiros. Mas a pespetiva de poder “provar as deliciosas especialidades locais, dar pancada em romanos novinhos em folhas e, quem sabe, encontrar alguma moça formosa” rapidamente o faz mudar de ideias. Para saber mais sobre a nova aventura desta dupla, sempre acompanhada pelo minúsculo cãozinho Ideiafix, os fãs terão de esperar até 23 de outubro do próximo ano. Mas antes, logo no primeiro semestre chega à Netflix a série de Alain Chabat inspirada no álbum O Combate dos Chefes. Isto no ano em que Ideiafix celebra 60 anos. .Ainda sem nome - e sem que saibamos qual o destino desta nova aventura de Astérix, Obélix e amigos -, o 41.º álbum chegará aos fãs pela segunda vez com argumento de Fabcaro (como assina Fabrice Caro) e de novo com os desenhos de Didier Conrad. .A dupla de criadores decidiu manter a tradição e, depois de uma aventura em que os nossos heróis não se afastaram da sua aldeia - em O Lírio Branco -, desta vez voltam a partir para longe, depois de Astérix e o Grifo que em 2021 os levou aos territórios Sármatas. Mas já antes tinham “dado pancada” em romanos por terras alemãs (Astérix e os Godos, 1963), do Egito (Astérix e Cleópatra, 1965), de Inglaterra (Astérix entre os Bretões, 1966), de Espanha (Astérix na Hispânia, 1969), da Suíça (Astérix entre os Helvécios, 1970), da Bélgica (Astérix entre os Belgas, 1979). Outras aventuras levaram-nos mais longe, à América (A Grande Travessia, 1975), à Mesopotâmia (A Odisseia de Astérix, 1981) e até à Índia (As 1001 Horas de Astérix, 1987). Mais recentemente, descobriram os encantos da Escócia (Astérix entre os Pictos, 2013) ou da Itália (Astérix e a Transitálica, 2017). .Criada em outubro de 1959, as Aventuras de Astérix foram publicadas pela primeira vez no jornal francês Pilote, com argumentos de René Goscinny e desenhos de Albert Uderzo. Rapidamente a história do pequeno gaulês e dos outros habitantes da última aldeia que resiste ao invasor romano graças à poção mágica desenvolvida pelo seu druida se tornou um sucesso. A Portugal chegaram em 1961, no semanário Foguetão, mas o primeiro álbum só foi editado em português seis anos mais tarde. Desde 2005 que os direitos são da ASA, com edições também em mirandês..Com a morte de Goscinny, em 1977, é Uderzo quem assume a série por completo até 2013, altura em que decide passar o testemunho ao duo constituído por Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, que se estreia com Astérix entre os Pictos. Uma dupla desfeita em 2023 quando Conrad se mantém no desenho, mas Fabcaro assume os argumentos. .Neste seu regresso ao universo de Astérix, Fabcaro confessa, ao site oficial da BD, estar “contentíssimo! Quando acompanhamos durante um álbum inteiropersonagens que adoramos, ficamos um pouco tristes ao abandoná-las.” E garante: “voltar a encontrá-las para passar de novo tempo com elas, especialmente num novo formato, o de viagem, me enche de alegria!”. .Já Didier Conrad disse estar “muito feliz por me cruzar de novo com o Fabrice nesta nossa segunda colaboração.” E explicou que o argumentista o convenceu a voltar a embarcar nas aventuras de Astérix “pelo simples facto de ser tão dotado para escrever um álbum de aldeia como um álbum de viagem.”.O Combate dos Chefes chega à Netflix na Primavera..Adaptadas por diversas vezes ao cinema tanto em desenho animado, como em imagem real, as Aventuras de Astérix chegam na primavera à Netflix. A série inspirada no álbum O Combate dos Chefes vai ter realização de Alain Chabat, que já levara ao grande ecrã Astérix e Obélix: Missão Cleópatra, com Christian Clavier e Gérard Depardieu a darem vida à dupla de amigos e Monica Bellucci como a rainha do Egito. .Quanto à série, será difundida em simultâneo em 190 países, com dobragem em 39 línguas, entre as quais português, árabe, coreano, croata, hebraico ou mandarim, entre outras. Por ocasião da estreia da série, a ASA vai reeditar O Combate dos Chefes numa edição especial. Com tiragem limitada, esta incluirá um caderno adicional com documentos relativos ao álbum e 6 páginas de conteúdos sobre a criação da série da Netflix..O aniversariante Ideiafix..Em ano de festa, os parabéns vão também para Ideiafix. O “cãozinho de raça indeterminada” que surgiu pela primeira vez há 60 anos à porta de uma charcutaria em Lutécia tornou-se no companheiro inseparável de Obélix. Ideiafix conquistou o seu lugar na série e tem, desde 2021, o seu próprio universo: Ideiafix e os Irredutíveis. Em julho será editado A Floresta Luz, sexto álbum desta série que reunirá três histórias desenhadas por Jean Bastide. .Um ano de festa, por Tutatis!.Vítor Silva Mota: “A atualidade reside na genialidade da fórmula criada por Uderzo e Goscinny”.O editor de Astérix em Portugal fala ao DN do apelo desta obra e diz qual o seu álbum preferido. .2025 vai ser um ano em grande para o universo Astérix - nova série, novo álbum, 60 anos de Ideiafix - seis décadas e meia depois da sua criação, o irredutível gaulês e os seus amigos continuam com o apelo intacto?As Aventuras de Astérix são, desde há várias décadas, um verdadeiro fenómeno editorial de alcance planetário (como comprova o facto de constituírem a banda desenhada mais traduzida do mundo, com publicação em 117 línguas e dialetos) e é com muito orgulho que confirmamos que o seu impacto se mantém até aos dias de hoje: cada novo álbum continua a ser um acontecimento marcante para os leitores e para a crítica e, regra geral, bate recordes de vendas na maior parte dos países em que é publicado! A primeira e principal razão para este sucesso é - claro está! - a genialidade dos seus criadores, Albert Uderzo e René Goscinny. A segunda é a consistência mantida ao longo dos anos, que fez com que fossem sempre preservados os valores e o espírito da série, ou seja, aquilo que na gíria editorial chamamos “a tradição Astérix”, cujos ingredientes são: por um lado, os irredutíveis gauleses, a poção mágica e os romanos, o que é dizer, pancadaria q.b.; por outro, enredos consistentes e com fundo histórico verídico, humor inteligente, jogos de palavras e referências implícitas a aspetos da sociedade atual..Já sem Goscinny e, desde 2020, também sem Uderzo, Astérix encontrou nova vida. Portugal não é exceção - um álbum de Astérix é sucesso garantido?Sim, Astérix é um sucesso incontestado também em Portugal, onde cada novo álbum vende em média 50 000 exemplares nos três ou quatro meses seguintes ao seu lançamento. E onde, para além do português, é publicado pela ASA também em mirandês..Uma pergunta mais pessoal, qual o seu álbum preferido de Astérix e porquê?A resposta é difícil, pois sou fã confesso da série desde criança e são muitos os álbuns que me marcaram. Mas talvez possa destacar o Astérix na Hispânia, que terei lido com 10 ou 11 anos. Não foi o primeiro álbum que li mas, como já nessa altura estava minimamente familiarizado com a realidade espanhola, foi o primeiro em que reconheci as referências sociais e culturais que lhe estão implícitas, o que aguçou o meu interesse e a minha curiosidade pela série, tendo-me feito reler os álbuns anteriores com outros olhos..Num mundo cheio de conflitos e desafios, a atualidade de Astérix explica-se por todos querermos um pouco ser uns irredutíveis gauleses?É certo que a resistência ao opressor é um tema sempre atual, mas é bom sublinhar que o universo Astérix é totalmente apolítico. Creio que a atualidade de Astérix reside sobretudo na genialidade da fórmula criada por Uderzo e Goscinny, que, entre outros, tem o raro atributo da intemporalidade.