"As pessoas do cinema do Porto migraram todas para Lisboa"
O realizador português José Magro, de 28 anos, participa este ano na secção de talentos do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, com um excerto do seu último filme, Rio Entre as Montanhas, filmado em Hancheng, na China. Este foi um convite de um festival de cinema local e "é sobre um rapaz que começa a procurar o amor e entende os falhanços amorosos como uma maneira de reaprender e continuar a incentivar o amor na sua vida", explicou.
O jovem realizador do Porto afirmou à agência Lusa, que "há uma grande discrepância no país" no que toca aos fundos e subsídios atribuídos ao cinema: "Existe Lisboa, para onde vai, de uma maneira ou de outra, a maior parte dos fundos e subsídios (...). Não há muitas produtoras nem pessoas do cinema no Porto, infelizmente. Migraram todas para Lisboa. Penso que também está na altura de que o Porto tenha uma palavra a dizer no cinema. Falo do Porto e do resto do país. Tem de haver um incentivo para essas pessoas que não vivem nas grandes cidades".
O autor das curtas-metragens Viagem e Letters from Childhood, disse que apesar da experiência que teve no estrangeiro e das dificuldades sentidas no cinema português, não pensa mudar-se para outro país. "Já equacionei. Sendo português e falando português, penso que, como artista, é mais honesto falar sobre as coisas que acontecem em Portugal e sobre a nossa maneira de ver o mundo", destacou.
José Magro defendeu também que para "os recursos e a população" de Portugal, o cinema nacional encontra-se muito melhor do que aquilo que seria de esperar. A falta de incentivo e apoio aos jovens artistas portugueses é um desafio, mas, mesmo assim, "arranjamos sempre maneira de contornar as dificuldades e conseguir fazer cinema mesmo que não haja grandes meios ou uma indústria associada", frisou. Para o realizador português, a solução passa por mudar a mentalidade portuguesa e aproximá-la do panorama internacional: "Já convencemos todo o mundo, só falta convencermos os que estão na nossa casa e o público português, que continua um bocadinho afastado das salas de cinema", defendeu.
"O que eu gosto, como realizador, é de experimentar a linguagem, ter novas maneiras de fazer cinema e inventar maneiras de contar histórias diferentes. Procuro sempre tentar surpreender-me a mim próprio e às outras pessoas, os meus filmes são todos completamente diferentes uns dos outros", confessou. José prevê a rodagem da próxima curta para o mês de maio, ficando, assim, com cinco curtas-metragens no seu portefólio. Tem ainda outra em candidatura e acredita que, no prazo de um ano, escreverá a primeira longa-metragem.
A 70ª edição da Berlinale termina no domingo. Entre os 255 participantes do festival estão ainda a "designer" de som Joana Niza Braga e o realizador Paulo Carneiro.