Arte marcial filosófica e meditação em movimento: Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan é uma famosa arte marcial tradicional chinesa, formada há séculos e transmitida de geração em geração, praticada não só na China, mas também no mundo todo. Mesmo que não pratiquem Tai Chi Chuan, vão distingui-la facilmente ao ver outros a praticarem-na: ao contrário de Shaolin Kung Fu, famoso pelo seu potencial explosivo, os movimentos do Tai Chi Chuan são marcados pela lentidão e suavidade, evocando uma atmosfera de calma e estabilidade. Essa abordagem lembra, em certos aspetos, o Jiu-Jitsu Brasileiro, que também se caracteriza pelo uso minimalista da força bruta.

Segundo a lenda, o fundador de Tai Chi Chuan, Zhang Sanfeng, enquanto praticava na Montanha Wudang, observou uma luta entre uma cobra e uma ave. Sempre que a ave atacou a cobra, a última conseguia esquivar-se habilmente com movimentos sinuosos. Após um longo impasse, a ave, exausta e sem conseguir ferir a cobra, acabou por ir-se embora. Zhang Sanfeng percebeu através desta observação as diferentes características do combate: a cobra representa a suavidade e a flexibilidade, enquanto a ave representa a ferocidade e firmeza. A combinação destas qualidades reflete a harmonia entre a firmeza e a flexibilidade, o que servia como uma fonte de inspiração, com que Zhang Sanfeng criou o Tai Chi Chuan.

Na cultura tradicional chinesa, a suavidade é associada ao Yin e a dureza ao Yang. Tai Chi Chuan incorpora o pensamento taoista de vencer a dureza através da suavidade, de vencer o rápido através do lento, e de harmonizar Yin e Yang, pelo que é conhecido como uma arte marcial filosófica. Diferente de outras artes marciais que tentam ao máximo a força e rapidez, a prática de Tai Chi Chuan enfatiza a manutenção de um corpo relaxado e natural, movimentos suaves e lentos, e uma coordenação serena, evitando o uso de força bruta e sem tomar a iniciativa de atacar. Os movimentos de Tai Chi Chuan parecem suaves, mas na realidade, seguem o princípio de usar a força do adversário contra ele mesmo, e de superar a dureza através da flexibilidade. Digamos assim, por exemplo, se um adversário me ataca com um soco, eu não contra-ataco diretamente, mas desvio o ataque e agarro o braço ou o punho do adversário, seguindo a direção do seu golpe para continuar a empurrar para frente. Assim, utilizando a inércia do adversário juntamente com a minha força, consigo lançá-lo para longe, neutralizando facilmente o seu ataque.

 A prática de Tai Chi Chuan exige a concentração mental, a combinar a respiração com a técnica de inspirar e expirar, o que é semelhante à meditação. A Faculdade de Medicina da Universidade Harvard resumiu várias formas de meditação, considerando Tai Chi Chuan como uma forma de meditação em movimento, que combina o exercício físico com a respiração e atenção centralizada. Além disso, os movimentos lentos dos corpo superior ajudam a melhorar a força e o equilíbrio do corpo inferior. Portanto, Tai Chi Chuan faz bem à flexibilidade, coordenação e equilíbrio do corpo humano.

Além do pensamento taoista, Tai Chi Chuan é influenciado também pelo confucionismo, que ajuda a cultivar uma natureza pacífica, tolerante e simpática. O pensamento confucionista enfatiza que as pessoas devem melhorar a sua própria moralidade e o caráter, o que no caso de Tai Chi Chuan é expresso como o cultivo do “Wude” (virtude marcial). Ao aprender Tai Chi Chuan, deve-se respeitar os mestres, amigos e dar-se bem com os outros; a arrogância deve sempre ser evitada em todas as ações e palavras; a humildade e abertura a aprender devem mantidas. Seguir estas virtudes marciais permite aos praticantes integrar-se com a natureza, perceber a união entre o céu e o humano, acalmar a mente e cultivar o espírito.

Em dezembro de 2020, Tai Chi Chuan foi classificada como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Atualmente, os praticantes de Tai Chi Chuan já ultrapassou cem milhões de pessoas em todo o mundo, e há cada vez mais adeptos dos países lusófonos como Portugal e Brasil. No dia 25 de abril deste ano, assinalou-se o Dia Mundial do Tai Chi Chuan e Chi Kung, e realizou-se em Brasília a celebração do 50.º aniversário da promoção de Tai Chi, que contou com espetáculos do leque de Tai Chi e dos 24 movimentos de Tai Chi Chuan, atraindo muitos espetadores locais. 

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