Ahmed Sylla e Hakim Jemili são atores franceses, muito populares no vasto panorama da comédia “à la française” — os pais do primeiro vieram do Senegal, os do segundo da Tunísia. Dir-se-ia que, ao protagonizarem um filme como Aqui e Acolá, o seu trabalho ecoa muitos problemas sociais e políticos que hoje em dia pontuam a integração de “estrangeiros” nos mais diversos contextos.Em qualquer caso, convém alguma prudência. Não se trata de implicar que a ascendência dos intérpretes de Aqui e Acolá os “obriga” a fazer filmes que se distingam por um qualquer tipo de militância, seja qual for o respetivo enquadramento ideológico. Aliás, para lá das referências ao presente da sociedade francesa, importa reconhecer que o filme realizado por Ludovic Bernard tem as suas raízes na tradição mais ou menos remota da comédia no interior da produção do seu país.Que tradição é essa? Pois bem, uma linhagem a que estão ligados nomes de intérpretes (também) muito populares, de Fernandel a Christian Clavier, passando por Bourvil, Louis de Funès ou Michel Serrault. Com eles, a comédia francesa define-se como eminentemente social, através de matrizes narrativas em que as pontuações realistas surgem exponenciadas por uma festiva vocação caricatural.Enfim, não generalizemos. Aqui e Acolá está longe do brilhantismo dos títulos mais emblemáticos dessa tradição — para nos ficarmos por uma referência modelar, recordemos A Grande Paródia (1966), de Gérard Oury, com a dupla Bourvil/Louis de Funès. Mas é um facto que Sylla/Jemili conseguem, pelo menos, revalorizar o conceito de “dupla cómica”, essencial na herança que agora atualizam.Para a eficácia do humor de Aqui e Acolà o que mais conta é o facto de o filme combater um cliché através da sua desmontagem burlesca. Ou seja: o ator negro, Sylla, representa o francês de gema que quer consolidar a sua posição numa empresa de produtos alimentares; o branco, Jamili, assume a personagem de um francês, primo do primeiro, que se sente totalmente senegalês, já que foi no Senegal que, ao longo de 15 anos, construiu a sua vida, estando mesmo a poucas semanas de ser pai... Quando Jamili tem de regressar a França por causa de problemas burocráticos com o seu visa, o encontro dos dois primos vai gerar um rol de bizarras peripécias de mútua descoberta.Convenhamos que a ironia subtil de alguns momentos (incluindo os breves apontamentos que dão conta de formas quotidianas de racismo) não basta para fazer esquecer o esquematismo mais ou menos previsível da narrativa. O certo é que os dois atores principais conseguem, pelo menos, sustentar as suas personagens para lá de qualquer simbolismo fácil ou moralista — o preto e branco das peles coexiste com a colorida pluralidade do humor..'A Uma Terra Desconhecida'. O cinema da Palestina no exílio.'O Segundo Acto'. Onde é que está o surrealismo?