Angie Duarte: “Um português foi o primeiro europeu no Paraguai” e rota que seguiu é atração turística
Este ano assinalam-se os 500 anos da chegada do português Aleixo Garcia, o primeiro europeu no Paraguai. O trilho que o levou da costa brasileira via Paraguai até ao sopé dos Andes onde contactou com os incas, a Rota Guarani, também chamada de Tapé Avirú, é um possível trunfo turístico do Paraguai?
Aleixo Garcia é a figura mais antiga a unir o Paraguai e Portugal. E é uma figura que tem muito destaque no Paraguai. Existe até uma rua com o seu nome num bairro muito emblemático da capital, Assunção. E sem dúvida, que o Tapé Avirú é um novo produto turístico, uma rota que segue a rede de caminhos dos povos nativos, e estamos a trabalhar para posicionar o Paraguai dentro do que é o segmento das rotas. O Tapé Avirú é algo que nos une como povos. Porquê ? Por que há 500 anos Aleixo Garcia foi o primeiro europeu a pisar a nossa terra. Contactou com os guaranis e tanto que até aprendeu a língua para poder se relacionar com eles. Esse foi o ponto de partida para, seguindo vários trilhos ou percursos, poder contactar com outras etnias da região. Queremos lembrar esse português e esse encontro e transformar isso num produto turístico.
Também existe a Rota Jesuíta, porque o Paraguai foi um importante lugar de implantação das missões dos jesuítas, que chegaram a ser combatidas pelas coroas portuguesa e espanhola, que por fim no século XVIII decidiram repartir esse território. O que se pode visitar hoje?
O Caminho Jesuíta é um legado dos jesuítas quando estiveram no território, e não só paraguaio. Chamamos agora Rota Jesuíta e é um produto multidestino, do qual fazem parte as antigas cidades criadas pelos jesuítas. As missões jesuítas, que antes eram chamadas de ruínas, são as que estão mais bem preservadas, Temos as missões jesuítas de Jesús de Tavarangué e Trinidad de Paraná, que são património universal da UNESCO. Temos também San Cosme e San Damián e outras missões que estão em território paraguaio. Este é um produto multidestino que trabalhamos com a Argentina, com a Bolívia, com o Brasil, que também fazem parte deste produto turístico. E viemos oferecer esse produto aqui em Portugal, onde participámos nos Workshops de Turismo Religioso, realizados em Fátima. Além da Rota Jesuíta, temos também o Circuito Mariano e a Rota Franciscana. Temos muito a oferecer em termos de turismo religioso no Paraguai, por ser um país muito católico, pois ainda hoje a fé é uma das principais características dos paraguaios.
A natureza também é outra aposta do Paraguai em termos de turismo?
Completamente. As missões jesuítas, a sua rota, podem ser o fio condutor de tudo o mais que o Paraguai oferece em termos de turismo de natureza, turismo de aventura, turismo rural, turismo religioso, como dissemos, turismo histórico, cultural, gastronómico. O Paraguai é um país que não tem mar, então visamos outros nichos de mercado, como essas rotas que mencionei, mas também trabalhamos muito a natureza. Tudo é possível baseado na excelente infraestrutura hoteleira que o Paraguai possui em cada um de seus pontos mais emblemáticos e nas capitais provinciais.
A paisagem do Paraguai tem de ser diversificada, pois se o país é pequeno comparado com os vizinhos Brasil e Argentina não deixa de ser quatro vezes maior do que Portugal. Quais as diferenças que se sentem mais? Entre Norte e Sul? Oeste versus Leste?
Temos duas grandes regiões, e a maioria da população, somos um pouco mais de seis milhões, vive na zona ocidental. Assim, na região oriental temos grandes reservas e parques naturais. Temos observação de pássaros. Aliás, mesmo na capital, Assunção, temos mais de 300 espécies de aves migratórias. E somadas a tudo o que outras regiões oferecem, são 700 as variedades de espécies para os observadores de aves. Tudo isto se enquadra no eixo do turismo sustentável, pois estamos a tentar posicionar o Paraguai também como a capital verde da Ibero-América com base na quantidade de espaços verdes por metro quadrado por habitantes que possui e em toda a biodiversidade que oferece em termos de fauna e flora.
Falou de Assunção, a capital, uma cidade que tem quase cinco séculos. Outra atração turística?
Exatamente, a cidade completará em 2037 os seus 500 anos e é conhecida como a mãe das cidades, pois a partir dela fundaram-ser outras cidades noutros países também. As expedições partiram de Assunção e por isso é conhecida como a mãe das cidades.
Para finalizar, imagine um português que está a visitar o Paraguai, está em Assunção e vai a um restaurante e quer ouvir música. O que vai comer e o que vai ouvir?
Vai ouvir muito a guarânia, a música típica do Paraguai, e a polca paraguaia que também é outro ritmo típico do nosso país. Isto enquanto desfruta da gastronomia, e a melhor carne do mundo é a carne paraguaia. Temos também a sopa paraguaia, que é a única sopa sólida do mundo, e o bori-bori, prato típico reconhecido recentemente como a melhor sopa do mundo. A certificação do Paraguai como capital ibero-americana da gastronomia guarani também foi recebida no âmbito sociocultural das missões jesuítas. O Paraguai é sem dúvida um destino a descobrir, é o segredo mais bem guardado da América do Sul e não queremos mais que seja segredo.
Começámos por falar de Aleixo Garcia que aprendeu guarani, língua que continua a ser falada no Paraguai meio milénio depois. Qual a importância da cultura indígena?
Os povos indígenas, sem dúvida, têm uma importância muito relevante dentro daquilo que é a nossa identidade como país, não só a língua guarani, mas tudo o que é cultura. O Paraguai é um país que possui oficialmente duas línguas, a língua castelhana ou espanhola e a língua guarani, que hoje faz parte do nosso legado, da nossa identidade cultural. e estamos muito orgulhosos disso.