Cultura
16 agosto 2022 às 09h09

Academia pede desculpas a atriz indígena por maus-tratos nos Óscares de 1973

Sacheen Littlefeather foi interrompida nos Óscares de 1973, enquanto recusava o Óscar de Melhor Ator pelo filme "O Padrinho" em nome de Marlon Brando.

DN/AFP

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood informou que pediu desculpas à atriz indígena vaiada há quase 50 anos por ter recusado em nome de Marlon Brando o Óscar de Melhor Ator, em protesto contra o tratamento da indústria cinematográfica aos nativos americanos.

A atriz e ativista Sacheen Littlefeather, que pertence às comunidades indígenas apache e yaqui, foi interrompida nos Óscares de 1973, enquanto explicava o porquê de Brando não poder aceitar o Óscar de Melhor Ator pelo filme "O Padrinho".

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Marlon Brando tinha pedido a Sacheen que recusasse o prémio em seu nome, num ato de repúdio à atitude da indústria em relação aos povos indígenas. Mais tarde, contou que vários seguranças impediram que o ator John Wayne agredisse a ativista fisicamente.

"Os maus-tratos que sofreu por causa dessa declaração foram gratuitos e injustificados", diz a carta de desculpas enviada em junho a Sacheen pelo então presidente da Academia, David Rubin. "A carga emocional que viveu e o custo na sua carreira na nossa indústria são irreparáveis."

"Durante muito tempo, a coragem que mostrou não foi reconhecida. Por isso, oferecemos as nossas mais profundas desculpas e sincera admiração", acrescenta a carta, que a Academia divulgou com o anúncio de que Sacheen foi convidada a discursar no próximo mês no museu de cinema da organização em Los Angeles, que prometeu enfrentar "a história problemática" do Óscares, incluindo o racismo.

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"Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós, índios, somos pessoas muito pacientes, passaram-se apenas 50 anos!", reagiu a ativista indígena. "Precisamos de manter o nosso sentido de humor em relação a isso. É o nosso método de sobrevivência", declarou, considerando o próximo evento "um sonho que se tornou realidade". "É profundamente encorajador ver que muito mudou desde que não aceitei o Óscar há 50 anos."

A Academia tomou medidas para enfrentar as acusações de falta de diversidade racial nos últimos anos. Em 2019, a estrela de "O Último dos Moicanos" (1992), Wes Studi, tornou-se o primeiro ator nativo americano a receber um Óscar.

O evento com Sacheen Littlefeather, descrito como "um programa muito especial de conversa, reflexão, cura e celebração", acontecerá no dia 17 de setembro.