Afinal, onde todos os caminhos vão dar é a Marvila
Leonardo Negrão/Global Imagens

Afinal, onde todos os caminhos vão dar é a Marvila

O edifício que outrora albergou os armazéns vinícolas de Abel Pereira da Fonseca é agora um polo cultural e cosmopolita, com restaurantes, lojas, discoteca e a Associação cultural sem fins lucrativos Galeria Zé dos Bois (ZdB). O 8 Marvila veio trazer ainda mais vida a uma zona da capital que já estava na moda.
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O  espaço que outrora era designado por ‘Catedral do Vinho’, os  Armazéns Abel Pereira da Fonseca, transformaram-se no novo espaço cultural e comercial 8 Marvila. 

Desde um estúdio de tatuagens a uma discoteca, a antiga adega alberga agora12 espaços diferenciados que podem ser visitados de quinta a domingo do meio dia à meia noite. 

Logo junto à entrada do edifício de 1910 está  a Taqueria Paloma, um  restaurante tipicamente mexicano. O fundador dos cafés Dear Breakfast, Julien Garrec, e Henya Mekki, dona do antigo restaurante Chili Paloma, em Santos, são os mentores deste espaço de restauração que abriu há três meses. Até ao momento, o feedback tem sido positivo. “O restaurante Chili Paloma era pequeno e queríamos abrir algo maior e mais tipicamente mexicano”, explica Henya Mekki, acrescentando que se apaixonou pelo 8 Marvila ao visitá-lo. “Quando viemos cá a primeira vez ainda era um armazém abandonado, mas trabalhámos muito para tornar isto na Taqueria Paloma”, acrescenta.  

O espaço está dividido em dois andares: a sala principal, com 75 mesas e a área VIP,  com sete mesas. A sala principal no primeiro piso, consegue receber grupos de 50 a 80 pessoas. No piso superior, num ambiente mais intimista, é possível admirar uma exibição de fotografias do México.

O menu da Taqueria traz os sabores típicos mexicanos para a mesa, com os tacos como protagonistas. O Taco Al Pastor mistura carne de porco ibérico com ananás. Destaque ainda para o taco de carne de vaca. Todos com igredientes tradicionais e tortilha de milho frita. Mas, para quem não aprecia tacos, há opções como  tostas de abacate e atum. Para sobremesa, pode experimentar o bolo de três leites ou a tarde de lima com mezcal. 

Ao entrar, a primeira loja que encontra é um showroom da Marshall, uma marca icónica  de colunas e amplificadores, o primeiro em Portugal. Até agora, a marca apenas estava presente na grande distribuição, como na Fnac e na  Worten. “Andávamos há cerca de um ano ou dois a ver um espaço que se identificasse com os valores da Marshall. Não queríamos uma loja de shopping. Queríamos antes uma coisa mais ao estilo dos anos 60, dos bairros ingleses onde a Marshall cresceu. Quando soubemos do 8 Marvila viemos cá ver e o espaço identificou-se logo com os valores e com a imagem que a Marshall tem”, diz Luís Nunes, responsável pela distribuição. 

O corner  mostra colunas de som, merchandising, roupa e amplificadores. Há também discos de vinil disponíveis para venda. Segundo o seu responsável, até ao momento o espaço  tem sido um sucesso. “Toda a gente conhece a Marshall, as pessoas chegam aqui, pedem para tirar fotografias, identificam-se muito, percebem o que a marca representa. Do ponto de vista comercial, não é uma marca que faça com que as pessoas venham passear ao fim de semana e gastem 400 ou 500 euros numa coluna. Portanto, tem que se criar hábitos para que os clientes comecem a vir cá e comprem aqui. Estamos a fazer o nosso caminho”.

Noutra das salas está a  galeria da artista Luísa Pereira da Fonseca, trineta do fundador dos armazéns Abel Pereira da Fonseca. Os quadros nas paredes, as poltronas de cortiça no meio da sala e os livros espalhados um pouco por todo o lado, transportam-nos para um ambiente familiar e descontraído, quase como se estivéssemos numa casa. “Queria que as pessoas se sentissem à vontade aqui. Também ofereço, uma ginjinha ou um vinho tinto...”, explica a artista em conversa com o DN.

Nas suas obras, Luísa Pereira da Fonseca utiliza maioritariamente o preto sobre a tela branca. “É um contraste muito marcante e isto está relacionado com a minha energia. Sou muito verdadeira no que faço. Não sou figurativa. O  preto aqui é uma cor que faz aquilo que eu penso e marca aquilo que quero marcar. Então, é muito por isso que uso o preto”, diz Luísa, acrescentando que esta coleção foi criada durante a pandemia e que muitos dos seus quadros já estão vendidos. 

As paredes da  cuba de vinho não sofreram nenhuma alteração, sendo a ponte com  o passado e o legado do seu trisavô. “Achei que havia aqui uma ligação muito forte que queria continuar a desenvolver”, menciona Luísa Pereira da Fonseca, contando que, muita vezes chega à galeria e encontra casais a dançar e pessoas a tirar fotografias. 

Na porta seguinte, está Elisa Rezende com a sua exposição e estúdio de tatuagens. Viu neste espaço a oportunidade perfeita para juntar os seus amores: peças de arte e tatuagens. “Pareceu-me um espaço que tem tudo que ver comigo. Todo o cenário industrial e toda a ideia de comunidade fez-me sentido”, explica, em conversa com o DN. 

À medida que as peças são vendidas, a artista vai produzindo novas. As obras são todas do universo interior de Elisa Rezende, devido ao seu interesse por psicologia. “As peças representam sentimentos, pensamentos, sonhos que eu tive. Aquilo que me preocupa, que me passa pela cabeça, que são os meus sonhos, também serão os sonhos de outros. Há sempre esta transferência, esta ponte entre as pessoas”, diz. 

Numa das suas peças, a tatuadora convidou as pessoas a escreverem segredos no fundo da tela. Por cima, está pintada de branco com a palavra Togetherness  a preto. Neste espaço, as pessoas param para conversar e tirar fotografias. “Tem sido muito interessante perceber que há muita gente de fora que se interessa, que quer tatuar, que gostam da arte, que nunca viram nenhum projeto tão interessante a acontecer aqui em Lisboa”. 

Elisa Rezende conheceu este espaço há cerca de um ano e percebeu que a arquitetura dos antigos armazéns iria criar uma experiência única. “Tem sido espetacular perceber a forma como as pessoas se conectam e como as vivem o espaço e as obras”, acrescenta. 

Em três cubas de vinho e com dois pisos, encontra-se a galeria  Because Art Matters, que junta 23 artistas nacionais e internacionais com linguagens diferentes, desde a escultura à pintura. O projeto começou como uma plataforma artística global para a promoção e amplificação de artistas e colecionadores. “As peças de alguma forma conectam-se entre elas e conseguem viver em conjunto, oferecendo uma experiência diversificada”, explica Gonçalo Magalhães, fundador e curador da Because Art Matters.

Uma das obras expostas intitula-se de Choice  de RAM e representa a procura pelo “ouro interior”. Para chegar até ele, o artista pintou um labirinto com obstáculos. No começo do labirinto está um homem, chamado  Last Man Standing. Uma personagem que o artista tem vindo a desenvolver  e que  tem pintado em lugares abandonados e postes, na rua. 

No meio da cuba de vinho está pendurada uma peça  de mármore do  alemão Matthias Contzen, que representa a origem do universo congelado num micro segundo de explosão após o Big Bang. Para Gonçalo Magalhães, transformar o espaço numa galeria foi um desafio “de forma a que  permitisse um bom flow  a nível da exposição e de salas”.

Durante a noite, as traseiras do antigo armazém transformam-se numa discoteca com a curiosidade de serem proibidos telemóveis.  Porque o que acontece em marvila, fica em Marvila! 

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