As gerações mais novas estão a ser “educadas” a encarar a política como uma telenovela de clichés diariamente repetidos (observem-se as linguagens dominantes no espaço televisivo) ou apenas um universo de simbolismos maniqueístas (lembremos a vulgaridade em que caíram muitas produções da Marvel). Há, por isso, alguma saudável diferença num filme como A Grande Ambição - título original: Berlinguer, La Grande Ambizione -, um retrato de Enrico Berlinguer (1922-1984), líder do Partido Comunista Italiano durante o período em que protagonizou um fenómeno político que, para a História, ficou registado com a designação de “eurocomunismo”.No plano político, este é, pelo menos, um filme que sabe evitar a simplificação histórica do comunismo (seja como redenção religiosa, seja como regime demoníaco), lembrando que não se faz História sem ter em conta a infinita complexidade do contexto que se aborda. Como se recorda numa das legendas iniciais de A Grande Ambição, com Berlinguer o PC italiano tornou-se “o maior partido comunista do Bloco Ocidental”, com 1,5 milhões de membros e resultados eleitorais acima dos 25%.Simplificando (e muito!), lembremos que Berlinguer encarnou um conceito da prática comunista que, na sequência do assassinato de Salvador Allende, no Chile, em 1973, se foi demarcando do dirigismo soviético, conseguindo importantes resultados nas eleições italianas e explorando a hipótese de um acordo de governação com a Democracia Cristã. O filme desemboca na crise agravada pela ação das Brigadas Vermelhas, quando raptaram e assassinaram o dirigente democrata-cristão Aldo Moro (1916-1978). Firme opositor de todas as formas de terrorismo, Berlinguer percebeu aí que o seu programa de ação estava abalado de forma irreversível.Em termos cinematográficos, o realizador Andrea Serge (que assina o argumento com Marco Pettenello) aplica uma matriz típica de telefilme de “reconstituição histórica”, combinando o tratamento da ação política de Berlinguer com alguns apontamentos sobre o seu universo familiar. Elio Germano compõe com sobriedade a figura central, mas é inevitável que a alternância das cenas ficcionadas com filmagens de arquivo produza um involuntário efeito de distanciamento - em boa verdade, as imagens de época transportam uma verdade existencial (mais do que meramente política) que o filme nunca consegue alcançar.Lembramo-nos, enfim, de outros títulos incomparavelmente mais elaborados no tratamento dos labirintos da política. É o caso de Bom Dia, Noite (2003), em que Marco Bellocchio evoca, precisamente, o rapto de Aldo Moro, ou ainda do monumental Reds (1981), de e com Warren Beatty, sobre John Reed (1887-1920) e a sua abordagem da Revolução Soviética - a ver ou rever. .'Um Silêncio'. Como se fabrica o ‘suspense’?.'De Hilde, Com Amor'. Uma história de amor assombrada pelo nazismo