O Jardim de Lou Lim Ioc é um dos clássicos chineses mais representativos de Macau. O edifício amarelo ao estilo português e o Pavilhão da Primavera integram-se perfeitamente no mesmo jardim chinês.
O Jardim de Lou Lim Ioc é um dos clássicos chineses mais representativos de Macau. O edifício amarelo ao estilo português e o Pavilhão da Primavera integram-se perfeitamente no mesmo jardim chinês.FOTO: Macao Daily News

A arte dos Jardins Clássicos Chineses: a beleza da coexistência harmoniosa entre os seres humanos e a natureza

A aspiração à beleza da natureza dos Jardins Clássicos Chineses traduz-se na integração de elementos como colinas artificiais, água, rochas e pavilhões, destacando uma fusão de paisagens natural e cultural.
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Há um Jardim Clássico de estilo chinês em Macau, pequeno mas bonito. Lá dentro, os turistas ficam impressionados com a paisagem composta por elementos típicos chineses: rochas, pequeno bambuzal, pavilhões, lagoas de lótus e pontes sinuosas, entre outros, que dão a sensação de se estar na Natureza. Trata-se do Jardim de Lou Lim Ioc, cujo nome deriva do nome do filho de um rico empresário chinês do século XIX. É impossível ignorar um pavilhão junto ao lago, a que se chama Pavilhão da Primavera, com 12 colunas coríntias, paredes amarelas e linhas brancas - elementos muito familiares para o nosso leitor.

Curiosamente, podem encontrar-se algumas diferenças e até alguns pontos em comum entre a arte clássica chinesa e a arte europeia de jardinagem no que diz respeito à busca estética. Os jardins chineses dão ênfase à beleza natural e procuram simular a tranquilidade e suavidade da Natureza, enquanto os jardins europeus destacam a simetria, os contrastes e as regras, para criar um ambiente repleto de elegância e luxo.

O Jardim de Lou Lim Ioc tem uma mistura de dois estilos, onde os elementos portugueses se integram perfeitamente num jardim repleto de elementos chineses, dotando-o de cores vivas e dum ambiente único da fusão das culturas Ocidental e Oriental.

Por que é que os Jardins Clássicos Chineses aspiram à simulação da Natureza pura? O taoismo defende a filosofia da Natureza e da não-ação, que se referem a um estado natural e uma atitude de seguir as regras da Natureza. E o confucionismo considera que o céu, a terra e os seres humanos devem estar sempre em harmonia. Ambas as filosofias chinesas, muito relevantes, preconizam a aproximação da natureza e a reverência pela Natureza, e têm uma profunda influência na estética chinesa e na Jardinagem Clássica Chinesa.

O Zhuozheng Yuan, o Jardim do Administrador Humilde, de Suzhou, também faz parte dos Quatro Grandes Jardins da China. A ponte na imagem constitui uma das vistas mais bonitas do jardim. FOTO: Macao Daily News.

Os Jardins Clássicos Chineses são geralmente compostos por colinas artificiais, superfícies aquáticas, rochas, pavilhões, plantas, poemas em dísticos, entre outros. As colinas artificiais são feitas por rochas, montadas para simular as colinas naturais e mostrar a magnificência da Natureza, enquanto a água simboliza os lagos, lagoas e ribeiros. Além das referidas colinas artificiais, as pedras podem ser empilhadas para formar uma paisagem separada.

Os elementos de colina, água e pedra compõem belos cenários de jardim, procurando uma ideia estética de modo a que, como dizem os chineses, “embora a paisagem seja feita pelo homem, é como uma criação natural”.

Os pavilhões são o tipo de construção mais comum na jardinagem chinesa, e os construídos especificamente à beira da água são designados por Xie (edifício aquático), sendo o Pavilhão da Primavera do Jardim de Lou Lim Ioc um exemplo deles, destinados às pessoas que se reúnem e desfrutam da vista dos lagos ou lagoas. O conceito de integração da arquitetura no cenário paisagístico representa a aspiração dos chineses antigos à harmonia entre o Homem e a Natureza.

Quanto às plantas, é comum encontrar uma variedade de espécies de plantas, como árvores e flores, nos jardins chineses, o que permite paisagens diferentes ao longo do ano conforme as quatro estações. As plantas têm significados únicos na cultura chinesa, refletindo o caráter e o moral dos  donos de jardim. Por exemplo, a orquídea simboliza a indiferença relativamente à fama e à fortuna, enquanto o pinheiro, o bambu e a ameixa representam as características da perseverança perante a adversidade e o desafio. Além disso, os donos de jardins costumam escrever poemas sobre as paisagens e pendurar os dísticos nas colunas ou dos dois lados de portas dos pavilhões, o que torna o jardim mais cultural e literário.

O Yihe Yuan, Jardim do Palácio de Verão, de Pequim é um dos Quatro Grandes Jardins da China e o mais representativo dos jardins imperiais do norte, com a Wanshou Shan (a Colina da Longevidade) e o Kunming Hu (o Lago Kunming) como os dois principais pontos fulcrais. FOTO: Macao Daily News.

Devido à vasta extensão territorial da China, o design dos jardins varia consoante o ambiente das diferentes regiões. No sul, os jardins são pequenos e requintados, geralmente localizados dentro de residências privadas, sobretudo em cidades como Nanjing, Xangai, Wuxi, Suzhou, Hangzhou e Yangzhou, com destaque para o Zhuozheng Yuan, o Jardim do Administrador Humilde, de Suzhou, que ocupa apenas uma área de folgados 50.000m2.

Já os do norte, representados pelos jardins imperiais, caracterizam-se pela grande escala, localizados nas cidades de Pequim, Chengde, Xi’an e Luoyang. Entre eles, o Yihe Yuan, do Palácio de Verão, é o mais representativo, com uma área de 3 milhões de metros quadrados.

A arte da Jardinagem Clássica Chinesa combina habilmente elementos humanos e naturais, fazendo com que as pessoas se sintam na Natureza, dando uma sensação de calma e conforto, que é provavelmente o estado mais ideal de coexistência harmoniosa entre o Homem e a Natureza.

Se tiverem interesse pela cultura chinesa, sintam-se à vontade para deixar os vossos comentários através do e-mail: contato.cultchina@gmail.com.

INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS

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