Estar confinado tem saudáveis benefícios para os leitores omnívoros, o meu caso. Antes do Governo ditar o fecho das livrarias e impedir a compra in loco de livros (uma das muitas interdições absurdas desta pandemia), já tinha feito o avio de exemplares suficientes para um semestre de hibernação. Sou frequentador assíduo de livrarias como a Letra Livre (na Calçada do Combro) ou o alfarrabista Carlos Bobone (na Rua da Misericórdia). Consumo literatura variada e nem sempre as chamadas novidades, pelo que a forma de contornar esta estuporada medida (além de me valer de uma razoável biblioteca pessoal) é encomendar directamente aos mencionados livreiros, ou outros como o Bernardo Trindade, que tratam das remessas postais ou deixam os livros no tapete da entrada, se for o caso. Há séculos, quando desaguei num curso da maestrina Luísa Costa Gomes, era perguntado aos formandos "que tipo de escritor quer ser?". Andava entranhado de Miller e Celine e respondi com apartes de escritor modernista "do real plausível". Estes, a par de Conrad, pareciam-me os mais autênticos e capazes de traduzir o coração das trevas e a esperança da alegria na triste condição dos bípedes. Era como se os livros queimassem e dessem consolo às pupilas gustativas. Gosto de dizer que sou escritor, apenas porque escrevo sobre o que tiver que ser, quando talvez me ajeitasse melhor, e fosse ainda mais feliz, a dar toques numa chincha ou a podar sebes como o Eduardo mãos de tesoura. Escrever ainda é para mim uma festa (da língua e dos sentidos) por isso insisto neste prazer desmedido.. Fui atleta de competição antes de entrar no jornalismo, aos 19 anos (há 30). Desde então, nunca abdiquei de esticar o esqueleto, uma expressão do Carlos Rui, o meu querido professor de yoga, do Centro Português de Yoga, que, como os bons resistentes, mantém as suas aulas online com notável adesão. Se o yoga é mais do que uma actividade física, um estilo de vida, o meu desporto actual é, acima de todos, o boxe e estar confinado não impede que o pratique comme il faut, seja numa sala improvisada ou à beira-rio. Sombra, corda, saco, sequências, quiques... todo o ritual de um treino se pode replicar, tirando o combate propriamente dito. As aulas online do professor Nilo Zaire, mestre de boxe no ginásio 1Fight, são parte do meu quotidiano de pugilista amador. Um dos projectos que tenho em curso (em parceria com o Instituto Teresa Branco) chama-se precisamente 30 aos 50, e nasceu, em parte por estar à beira dos 50, e por outro lado para ir contra a maré doentia..Os canais TVCine, em particular o Edition, têm sido uma forma de manter a cinefilia em dia. Estão em "cartaz" por estes dias títulos relevantes como Uma Vida Escondida e Cavaleiro de Copas, do realizador norte-americano Terrence Mallick, um dos meus cineastas de eleição. O benigno vício do Cinema acompanha-me há tanto tempo como a leitura e não podendo vê-lo em tela grande, contento-me com um plasma e sessões duplas ou triplas. Recomendo, em particular, Uma Vida Escondida, estreado em Cannes em Maio de 2019. Trata-se de um drama histórico baseado na inspiradora vida de Franz Jägerstätter (1907-1943). Decorre no princípio da década de 1940, em pleno terror nazi. Franz Jägerstätter é um agricultor que mora tranquilamente com a mulher e as três filhas de ambos na pequena localidade de Sankt Radegund (Áustria). Ao ser notificado para incorporar o exército nazi, recusa-se, convicto de que aquele é um conflito injusto. Acaba por ser preso e pagar caro (com a execução por traição) o preço da sua objecção de consciência, ao mesmo tempo que a mulher e as filhas são ostracizadas na sua comunidade. É um regresso sublime de Terrence Malick ("A Barreira Invisível", "A Árvore da Vida", "A Essência do Amor", "Cavaleiro de Copas"). No elenco figuram os actores August Diehl, Valerie Pachner, Matthias Schoenaerts, Michael Nyqvist e Bruno Ganz - os dois últimos nas suas últimas aparições em cinema, antes do seu trágico falecimento. Uma nota final: Em 2007, após ter sido considerado mártir, o Papa Bento XVI autorizou a beatificação de Franz Jägerstätter. A cerimónia, conduzida pelo cardeal português José Saraiva Martins, ocorreu na Catedral de Linz (Áustria) e contou com a presença da viúva de Franz e das suas filhas..A saúde e a alimentação andam emparelhadas. Um dia por semana faço questão de brincar ao chef em casa, cozinhando para um ajuntamento de amigos. Agora a sério: há várias razões para que a cozinha seja um lugar de culto e a escolha dos alimentos um imperativo para assegurar um estilo de vida saudável. Remover determinado tipo de produtos da ementa, como açúcares refinados e trigo, (a par da actividade física) tem o efeito de manter o corpo e a mente com auspiciosos níveis de energia, que são fundamentais em qualquer altura da vida, mas ganham particular importância quando tudo nos atira para o território da doença. Deixo aqui uma simples combinação de vol au vent que qualquer leitor pode experimentar..Receita de Vol-au-vent de legumes com cogumelos Tempo de confeção 45 minutos 4 porções Ingredientes: 1 embalagem de massa folhada congelada (2 placas) 1 cebola 150 g de alho francês 1 courgette 200 g de abóbora limpa 400 g de mistura de cogumelos 1 dente de Alho sal pimenta preta de moinho 50 g de miolo de noz 50 g de queijo azul (roquefort ou danish blue, p.ex.) 2 colheres de sopa de maionese 1 colher de sobremesa de mostarda 1 embalagem de molho bechamel sementes de sésamo Preparação: Ponha a massa folhada a descongelar. Descasque a cebola e pique-a finamente. Corte o alho francês em rodelas, lave e escorra. Lave a courgette, elimine as pontas, corte ao meio a todo o comprimento e depois em meias luas. Corte a abóbora em cubos. Limpe os cogumelos com papel de cozinha e corte-os em pedaços. Derreta o dente de alho numa frigideira larga, junte a cebola picada e as rodelas de alho francês e quando começarem a ficar moles adicione a courgette, a abóbora e os cogumelos. Salteie sobre lume moderado a forte, mexendo sempre até os legumes estarem tenros mas crocantes. Tempere com sal e pimenta moída na altura e retire do lume. Salpique com as nozes grosseiramente picadas e o queijo desfeito em pedaços e misture. Ligue o forno e regule-o para os 220 º. Corte cada placa de massa folhada ao meio. Estenda cada pedaço de massa sobre a bancada de com a ajuda do rolo e de farinha de modo a obter um rectângulo com cerca de 12x24 cm. Corte ao meio, sobreponha os quadrados obtidos e com a ponta de uma faca afiada inscreva um quadrado interno deixando uma margem de cerca de 2 cm e coloque no tabuleiro do forno forrado com papel vegetal. Repita o mesmo para os restantes pedaços de massa e leve ao forno durante cerca de 15 minutos o até a massa estar dourada e estaladiça. Entretanto junte a maionese e a mostarda ao molho béchamel e misture bem. Retire a massa folhada do forno, solte o quadrado mais pequeno de modo a obter uma caixa e recheie com a mistura de legumes. Por cima distribua a mistura de bechamel e salpique com sementes de sésamo. Leve de novo ao forno para gratinar a superfície. Acompanhe com arroz solto.O eterno Leonard Cohen e as revisitações às estupendas versões de Gainsbourg por Mick Harvey. Nick Cave, é omnipresente haja ou não pandemias. Claro que os The Fall não souberam fazer álbuns maus. Já agora, fica a sugestão de Perverted By Language. Um gira-discos em casa faz milagres, pelo que, como a Worten e a Fnac não foram condenadas ao ostracismo, uma das saídas de emergência e justificada sem autuação é ir comprar um leitor de vinis. Sem querer impor o meu gosto musical, ficam aqui mais umas quantas sugestões que fazem o colorido dos meus dias e talvez contaminem alguém..Boys Next Door - Shivers Nick Drake - Day is Done They Might Be Giants - Birdhouse in your soul Jarvis Cocker - Don´t Let Him Waist Your Time Felt - Buried Wild Blind Tom Waits - I Don´t Wanna Grow Up Spacemen 3 - Big City Dead can Dance - Into the Labyrinth Orkestra Obsolete - Blue Monday My Bloody Valentine - Only Shallow.Apesar da desolação dos estádios vazios e de não poder ir com o meu pai ao Estádio de Alvalade e pouco estar com ele, tenho seguido com atenção os jogos do campeonato recorrendo à mesma ferramenta do cinema em casa graças a um canal de recurso, a Sport TV. Não deito foguetes antes da festa, mas a construção da novel equipa (de jovens promissores) do meu Sporting já permitiu atravessar um ano lastimoso com algumas belas alegrias de bola. Recomendo o documentário sobre a História do "Barça", o clube fundado pelo suíço Hans Max Gamper-Haessig (Joan Gamper para os catalães), é um vade mecum inspirador. Impressiona ver o percurso de crianças talentosas, muitas delas de origens humildes, recolhidas por olheiros que viajam pelo mundo a caçar talentos. Vê-se o despontar de nomes históricos do emblema catalão, como Pep Guardiola, Xavi, Iniesta ou Messi, fruto de treino paciente e uma crença mística no símbolo. O lado político é o mais apaixonante, pela resistência dos blaugranas (nem sempre bem sucedida) aos dribles mafiosos de Madrid. Por exemplo, o caso da aviltante contratação do argentino Di Stéfano, sujeito às ordens do Regime franquista, que acabaria por dar a glória aos madrilenos, trocando o Camp Nou pelo Bernabéu. Nenhum clube atingiu os níveis do futebol enquanto arte como o Barça..Foi dos melhores documentários que vi na Netflix, o do Unabomber. Theodore (Ted) Kaczynski nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 1942. Foi um miúdo prodígio, de QI 157, e aos 16 anos entrou para Harvard onde se formaria com distinção em Matemática. A explicação para o seu desvio de personalidade, que o levou a tornar-se um terrorista (doméstico), autor de uma vintena de atentados à bomba na forma de cartas (três deles fatais), foi sugerida por conta de um transtorno desenvolvido enquanto cobaia de uma nova forma de interrogatório (mais tarde aplicada a detidos pela CIA) ainda nos tempos de estudante universitário. O método brutal desenvolvido pelo psicólogo Henry Murray arrastou-se por três anos. No primeiro ano, Ted limitou-se a debater ideias gerais sobre política, economia e filosofia, sendo cinicamente (e clinicamente) elogiado por Murray pela sua precoce maturidade. Nos dois anos seguintes começou a desconstrução e razia de todas as teorias de Ted, entre elas a defesa de um anarquismo primitivo como forma de libertação de uma sociedade tecnológica castradora, que o levaria a recolher-se durante vinte anos, até ser descoberto por conta da publicação do seu célebre Manifesto de 35 mil palavras sobre a Sociedade Industrial e o seu Futuro. Deduz-se que por conta desta experiência traumática juvenil, Ted viria a tornar-se no bombista raivoso e anti-sistema. Ora, Ted aceitou durante mais dois anos e sem oposição que lhe colocassem eléctrodos na cabeça e medissem as suas reacções às humilhações de uma bateria de catedráticos, além do próprio Murray. Entre os ataques insistiam não haver um pingo de originalidade nas suas teorias, todas derivadas de uma linhagem de libertários anarquistas e pouco escrupulosos..Ted, na única entrevista que deu até hoje e perante o Grande Júri, nunca alegou insanidade para justificar os seus múltiplos actos radicais, que levariam à morte de três inimigos da sociedade aberta, sem que os conhecesse de parte alguma, mas apenas por serem servos-símbolo da tecnologia e do capital. Os ataques com recurso a cartas explosivas anónimas eram determinados pelos cargos e instituições como forma de denúncia do sistema que teria fim com a publicação do seu Manifesto (no The New York Times e Washington Post), em 1995. Isto é, o culminar do seu reconhecimento enquanto indivíduo pensante. A descoberta da ligação a Ted seria feita por conta da sua cunhada (e irmão) e do trabalho obsessivo de um profiler do FBI, que reconheceram no Manifesto a marca de autor a partir de esboços redigidos anos antes e pelo cunho das suas cartas pessoais..Quase um século antes, o professor Manuel da Silva Mendes publicou em Portugal "Socialismo Libertário ou Anarquismo: história e doutrina", o estudo mais fundamentado da via anarquista, que inspirou, entre outros, Otelo Saraiva de Carvalho, as FP-25 ou o poeta Jacinto Capelo Rego. Unabomber não terá bebido desta doutrina, embora o mais certo é ter lido Proudhon, Ilitch ou Max Stirner, bem como Thoreau e uma linhagem de libertários, mais ou menos radicais e incendiários. As lutas em causa, questionáveis nos seus métodos para atingir fins, são no fundo as da liberdade individual, continuamente ameaçada por um sistema castrador e antropofágico. Em simbólico dia da Pátria, recomendo uma reflexão sobre o papel do indivíduo num todo onde é continuamente atacado nas suas formas de expressão. E já agora, a leitura de Luís Vaz. Ou, melhor ainda, um grande pândego que faça do riso e da sátira a sua libertação..As escolhas de Tiago Salazar*, escritor.*Tiago Salazar escreve de acordo com a antiga ortografia
Estar confinado tem saudáveis benefícios para os leitores omnívoros, o meu caso. Antes do Governo ditar o fecho das livrarias e impedir a compra in loco de livros (uma das muitas interdições absurdas desta pandemia), já tinha feito o avio de exemplares suficientes para um semestre de hibernação. Sou frequentador assíduo de livrarias como a Letra Livre (na Calçada do Combro) ou o alfarrabista Carlos Bobone (na Rua da Misericórdia). Consumo literatura variada e nem sempre as chamadas novidades, pelo que a forma de contornar esta estuporada medida (além de me valer de uma razoável biblioteca pessoal) é encomendar directamente aos mencionados livreiros, ou outros como o Bernardo Trindade, que tratam das remessas postais ou deixam os livros no tapete da entrada, se for o caso. Há séculos, quando desaguei num curso da maestrina Luísa Costa Gomes, era perguntado aos formandos "que tipo de escritor quer ser?". Andava entranhado de Miller e Celine e respondi com apartes de escritor modernista "do real plausível". Estes, a par de Conrad, pareciam-me os mais autênticos e capazes de traduzir o coração das trevas e a esperança da alegria na triste condição dos bípedes. Era como se os livros queimassem e dessem consolo às pupilas gustativas. Gosto de dizer que sou escritor, apenas porque escrevo sobre o que tiver que ser, quando talvez me ajeitasse melhor, e fosse ainda mais feliz, a dar toques numa chincha ou a podar sebes como o Eduardo mãos de tesoura. Escrever ainda é para mim uma festa (da língua e dos sentidos) por isso insisto neste prazer desmedido.. Fui atleta de competição antes de entrar no jornalismo, aos 19 anos (há 30). Desde então, nunca abdiquei de esticar o esqueleto, uma expressão do Carlos Rui, o meu querido professor de yoga, do Centro Português de Yoga, que, como os bons resistentes, mantém as suas aulas online com notável adesão. Se o yoga é mais do que uma actividade física, um estilo de vida, o meu desporto actual é, acima de todos, o boxe e estar confinado não impede que o pratique comme il faut, seja numa sala improvisada ou à beira-rio. Sombra, corda, saco, sequências, quiques... todo o ritual de um treino se pode replicar, tirando o combate propriamente dito. As aulas online do professor Nilo Zaire, mestre de boxe no ginásio 1Fight, são parte do meu quotidiano de pugilista amador. Um dos projectos que tenho em curso (em parceria com o Instituto Teresa Branco) chama-se precisamente 30 aos 50, e nasceu, em parte por estar à beira dos 50, e por outro lado para ir contra a maré doentia..Os canais TVCine, em particular o Edition, têm sido uma forma de manter a cinefilia em dia. Estão em "cartaz" por estes dias títulos relevantes como Uma Vida Escondida e Cavaleiro de Copas, do realizador norte-americano Terrence Mallick, um dos meus cineastas de eleição. O benigno vício do Cinema acompanha-me há tanto tempo como a leitura e não podendo vê-lo em tela grande, contento-me com um plasma e sessões duplas ou triplas. Recomendo, em particular, Uma Vida Escondida, estreado em Cannes em Maio de 2019. Trata-se de um drama histórico baseado na inspiradora vida de Franz Jägerstätter (1907-1943). Decorre no princípio da década de 1940, em pleno terror nazi. Franz Jägerstätter é um agricultor que mora tranquilamente com a mulher e as três filhas de ambos na pequena localidade de Sankt Radegund (Áustria). Ao ser notificado para incorporar o exército nazi, recusa-se, convicto de que aquele é um conflito injusto. Acaba por ser preso e pagar caro (com a execução por traição) o preço da sua objecção de consciência, ao mesmo tempo que a mulher e as filhas são ostracizadas na sua comunidade. É um regresso sublime de Terrence Malick ("A Barreira Invisível", "A Árvore da Vida", "A Essência do Amor", "Cavaleiro de Copas"). No elenco figuram os actores August Diehl, Valerie Pachner, Matthias Schoenaerts, Michael Nyqvist e Bruno Ganz - os dois últimos nas suas últimas aparições em cinema, antes do seu trágico falecimento. Uma nota final: Em 2007, após ter sido considerado mártir, o Papa Bento XVI autorizou a beatificação de Franz Jägerstätter. A cerimónia, conduzida pelo cardeal português José Saraiva Martins, ocorreu na Catedral de Linz (Áustria) e contou com a presença da viúva de Franz e das suas filhas..A saúde e a alimentação andam emparelhadas. Um dia por semana faço questão de brincar ao chef em casa, cozinhando para um ajuntamento de amigos. Agora a sério: há várias razões para que a cozinha seja um lugar de culto e a escolha dos alimentos um imperativo para assegurar um estilo de vida saudável. Remover determinado tipo de produtos da ementa, como açúcares refinados e trigo, (a par da actividade física) tem o efeito de manter o corpo e a mente com auspiciosos níveis de energia, que são fundamentais em qualquer altura da vida, mas ganham particular importância quando tudo nos atira para o território da doença. Deixo aqui uma simples combinação de vol au vent que qualquer leitor pode experimentar..Receita de Vol-au-vent de legumes com cogumelos Tempo de confeção 45 minutos 4 porções Ingredientes: 1 embalagem de massa folhada congelada (2 placas) 1 cebola 150 g de alho francês 1 courgette 200 g de abóbora limpa 400 g de mistura de cogumelos 1 dente de Alho sal pimenta preta de moinho 50 g de miolo de noz 50 g de queijo azul (roquefort ou danish blue, p.ex.) 2 colheres de sopa de maionese 1 colher de sobremesa de mostarda 1 embalagem de molho bechamel sementes de sésamo Preparação: Ponha a massa folhada a descongelar. Descasque a cebola e pique-a finamente. Corte o alho francês em rodelas, lave e escorra. Lave a courgette, elimine as pontas, corte ao meio a todo o comprimento e depois em meias luas. Corte a abóbora em cubos. Limpe os cogumelos com papel de cozinha e corte-os em pedaços. Derreta o dente de alho numa frigideira larga, junte a cebola picada e as rodelas de alho francês e quando começarem a ficar moles adicione a courgette, a abóbora e os cogumelos. Salteie sobre lume moderado a forte, mexendo sempre até os legumes estarem tenros mas crocantes. Tempere com sal e pimenta moída na altura e retire do lume. Salpique com as nozes grosseiramente picadas e o queijo desfeito em pedaços e misture. Ligue o forno e regule-o para os 220 º. Corte cada placa de massa folhada ao meio. Estenda cada pedaço de massa sobre a bancada de com a ajuda do rolo e de farinha de modo a obter um rectângulo com cerca de 12x24 cm. Corte ao meio, sobreponha os quadrados obtidos e com a ponta de uma faca afiada inscreva um quadrado interno deixando uma margem de cerca de 2 cm e coloque no tabuleiro do forno forrado com papel vegetal. Repita o mesmo para os restantes pedaços de massa e leve ao forno durante cerca de 15 minutos o até a massa estar dourada e estaladiça. Entretanto junte a maionese e a mostarda ao molho béchamel e misture bem. Retire a massa folhada do forno, solte o quadrado mais pequeno de modo a obter uma caixa e recheie com a mistura de legumes. Por cima distribua a mistura de bechamel e salpique com sementes de sésamo. Leve de novo ao forno para gratinar a superfície. Acompanhe com arroz solto.O eterno Leonard Cohen e as revisitações às estupendas versões de Gainsbourg por Mick Harvey. Nick Cave, é omnipresente haja ou não pandemias. Claro que os The Fall não souberam fazer álbuns maus. Já agora, fica a sugestão de Perverted By Language. Um gira-discos em casa faz milagres, pelo que, como a Worten e a Fnac não foram condenadas ao ostracismo, uma das saídas de emergência e justificada sem autuação é ir comprar um leitor de vinis. Sem querer impor o meu gosto musical, ficam aqui mais umas quantas sugestões que fazem o colorido dos meus dias e talvez contaminem alguém..Boys Next Door - Shivers Nick Drake - Day is Done They Might Be Giants - Birdhouse in your soul Jarvis Cocker - Don´t Let Him Waist Your Time Felt - Buried Wild Blind Tom Waits - I Don´t Wanna Grow Up Spacemen 3 - Big City Dead can Dance - Into the Labyrinth Orkestra Obsolete - Blue Monday My Bloody Valentine - Only Shallow.Apesar da desolação dos estádios vazios e de não poder ir com o meu pai ao Estádio de Alvalade e pouco estar com ele, tenho seguido com atenção os jogos do campeonato recorrendo à mesma ferramenta do cinema em casa graças a um canal de recurso, a Sport TV. Não deito foguetes antes da festa, mas a construção da novel equipa (de jovens promissores) do meu Sporting já permitiu atravessar um ano lastimoso com algumas belas alegrias de bola. Recomendo o documentário sobre a História do "Barça", o clube fundado pelo suíço Hans Max Gamper-Haessig (Joan Gamper para os catalães), é um vade mecum inspirador. Impressiona ver o percurso de crianças talentosas, muitas delas de origens humildes, recolhidas por olheiros que viajam pelo mundo a caçar talentos. Vê-se o despontar de nomes históricos do emblema catalão, como Pep Guardiola, Xavi, Iniesta ou Messi, fruto de treino paciente e uma crença mística no símbolo. O lado político é o mais apaixonante, pela resistência dos blaugranas (nem sempre bem sucedida) aos dribles mafiosos de Madrid. Por exemplo, o caso da aviltante contratação do argentino Di Stéfano, sujeito às ordens do Regime franquista, que acabaria por dar a glória aos madrilenos, trocando o Camp Nou pelo Bernabéu. Nenhum clube atingiu os níveis do futebol enquanto arte como o Barça..Foi dos melhores documentários que vi na Netflix, o do Unabomber. Theodore (Ted) Kaczynski nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 1942. Foi um miúdo prodígio, de QI 157, e aos 16 anos entrou para Harvard onde se formaria com distinção em Matemática. A explicação para o seu desvio de personalidade, que o levou a tornar-se um terrorista (doméstico), autor de uma vintena de atentados à bomba na forma de cartas (três deles fatais), foi sugerida por conta de um transtorno desenvolvido enquanto cobaia de uma nova forma de interrogatório (mais tarde aplicada a detidos pela CIA) ainda nos tempos de estudante universitário. O método brutal desenvolvido pelo psicólogo Henry Murray arrastou-se por três anos. No primeiro ano, Ted limitou-se a debater ideias gerais sobre política, economia e filosofia, sendo cinicamente (e clinicamente) elogiado por Murray pela sua precoce maturidade. Nos dois anos seguintes começou a desconstrução e razia de todas as teorias de Ted, entre elas a defesa de um anarquismo primitivo como forma de libertação de uma sociedade tecnológica castradora, que o levaria a recolher-se durante vinte anos, até ser descoberto por conta da publicação do seu célebre Manifesto de 35 mil palavras sobre a Sociedade Industrial e o seu Futuro. Deduz-se que por conta desta experiência traumática juvenil, Ted viria a tornar-se no bombista raivoso e anti-sistema. Ora, Ted aceitou durante mais dois anos e sem oposição que lhe colocassem eléctrodos na cabeça e medissem as suas reacções às humilhações de uma bateria de catedráticos, além do próprio Murray. Entre os ataques insistiam não haver um pingo de originalidade nas suas teorias, todas derivadas de uma linhagem de libertários anarquistas e pouco escrupulosos..Ted, na única entrevista que deu até hoje e perante o Grande Júri, nunca alegou insanidade para justificar os seus múltiplos actos radicais, que levariam à morte de três inimigos da sociedade aberta, sem que os conhecesse de parte alguma, mas apenas por serem servos-símbolo da tecnologia e do capital. Os ataques com recurso a cartas explosivas anónimas eram determinados pelos cargos e instituições como forma de denúncia do sistema que teria fim com a publicação do seu Manifesto (no The New York Times e Washington Post), em 1995. Isto é, o culminar do seu reconhecimento enquanto indivíduo pensante. A descoberta da ligação a Ted seria feita por conta da sua cunhada (e irmão) e do trabalho obsessivo de um profiler do FBI, que reconheceram no Manifesto a marca de autor a partir de esboços redigidos anos antes e pelo cunho das suas cartas pessoais..Quase um século antes, o professor Manuel da Silva Mendes publicou em Portugal "Socialismo Libertário ou Anarquismo: história e doutrina", o estudo mais fundamentado da via anarquista, que inspirou, entre outros, Otelo Saraiva de Carvalho, as FP-25 ou o poeta Jacinto Capelo Rego. Unabomber não terá bebido desta doutrina, embora o mais certo é ter lido Proudhon, Ilitch ou Max Stirner, bem como Thoreau e uma linhagem de libertários, mais ou menos radicais e incendiários. As lutas em causa, questionáveis nos seus métodos para atingir fins, são no fundo as da liberdade individual, continuamente ameaçada por um sistema castrador e antropofágico. Em simbólico dia da Pátria, recomendo uma reflexão sobre o papel do indivíduo num todo onde é continuamente atacado nas suas formas de expressão. E já agora, a leitura de Luís Vaz. Ou, melhor ainda, um grande pândego que faça do riso e da sátira a sua libertação..As escolhas de Tiago Salazar*, escritor.*Tiago Salazar escreve de acordo com a antiga ortografia