6M€ por uma banana, obras invisíveis, dentaduras e quadros que se destroem. O bizarro mundo dos leilões
O leilão que aconteceu na quarta-feira em Nova Iorque foi tão bizarro que nem o anfitrião resistiu a uma piada: “Não percam esta oportunidade. São palavras que nunca pensei dizer: cinco milhões de dólares por uma banana". A obra "Comedian", do italiano Maurizio Cattelan, que consiste numa banana presa a uma parede com fita adesiva, estava a ser bastante disputada e acabou por ser vendida por 6,2 milhões de dólares (quase seis milhões de euros) ao fundador da criptomoeda TRON, Justin Sun. Com ela, veio um certificado de autenticidade que lhe permite colar uma banana à parede e chamar-lhe "Comedian".
Segundo a leiloeira Sotheby's , desde que foi exibida pela primeira vez em 2019 no contexto de uma feira, e vendida por cerca de 120 mil dólares, "Comedian" transformou-se num acontecimento global que teve um enorme impacto "na consciência cultural contemporânea".
Simultaneamente ridicularizada e elogiada, a obra levou a uma reflexão, entre críticos de arte, artistas e público, sobre o valor da arte contemporânea, mas também foi comida, pelo menos em duas ocasiões. O novo proprietário já avisou que nos próximos dias também vai comer a banana.
Este é o último exemplo de leilões milionários e insólitos com obras de arte ou objetos que têm acontecido nos últimos anos. Bizarria é algo que não falta no mundo dos leilões.
O caso mais memorável é certamente o da obra de Banksy que se autodestruiu em pleno leilão em 2018. “A Menina com o Balão”, uma cópia em tela de um mural do artista situado em Londres, foi arrematado por 1,2 milhões de euros e, logo depois, desfez-se em tiras graças à ação de um mecanismo escondido no quadro.
Nasceu então uma nova obra, chamada “Amor no Caixote do Lixo”. Dois anos depois, em 2021, a obra do artista desconhecido voltou a leilão e foi comprado por 21,8 milhões de euros, o que constituiu um record para Banksy.
Também em 2021 foi leiolada uma obra invisível. Isso mesmo. Uma obra, chamada “Eu Sou”, que só existe na imaginação do seu criador, o artista italiano Salvatore Garau, que a descreveu como uma “escultura imaterial para ser colocada numa casa particular dentro de um espaço livre e com dimensões variáveis”.
Foi arrematada por 15 mil euros e, além de algo que só existe na imaginação, o proprietário ficou com um certificado de autenticidade assinado pelo artista.
Em 2019, um computador com alguns dos piores vírus informáticos de então foi vendido por 1,3 milhões de dólares (cerca de 1,2 milhões de euros). Um projeto intitulado The Persistence of Chaos (A Persistência do Caos, em tradução literal) que resultou de uma parceria entre o artista chinês Guo O Don e a empresa americana Deep Instinct. Os vírus WannaCry, BlackEnergy, ILOVEYOU, MyDoom, SoBig e DarkTequila estavam a infetar o Samsung Blue Netbook de 2008 para mostrar que não há assim tantas diferenças entre o mundo real e a Internet.
Quando foi leiolada, em 2019, a escultura de aço inoxidável que fazia lembrar um balão com a forma de um coelho tornou-se a obra de arte mais cara vendida por um artista vivo. Da autoria de Jeff Koons, foi arrematada por 91,1 milhões de dólares e, segundo a Chistie o reflexo estava “a refletir-nos, a incorporar-nos no drama em constante mudança que se desenrola na sua superfície”.
Em 2010, realizou-se no Reino Unido um leilão dedicado a objetos relacionados com os Beatles. Entre as várias peças levadas à praça, foi vendida uma sanita que pertenceu a John Lennon, por 9,5 mil libras (cerca de 11,5 mil euros). Feita de porcelana branca e decorada com motivos florais azuis, pertenceu ao músico enquanto este viveu em Berkshire, de 1969 a 1972.
Este ano, a dentadura postiça usada pelo antigo primeiro-ministro britânico Wiston Churchill foi a leilão e vendida por mais de 21 mil euros. A dentadura inclui seis dentes montados numa base de ouro e foi desenhada pelo dentista do ex-primeiro-ministro, Wilfred Fish, tendo sido fabricada pelo técnico Derek Cudlipp, quando Churchill tinha 65 anos, tendo sido usada no famoso discurso "We Shall Fight on the Beaches" (Lutaremos nas praias), de 1940. A leiloeira The Cotswold Auction Company admitiu que este era "o lote mais inusual que alguma vez leiloou”.