#50 “Grândola, vila morena” (José Afonso), José Afonso, 1971
José Afonso fez um corte estético e ideológico com a canção de Coimbra e passou a escrever mensagens com conteúdo político. A letra de “Grândola, vila morena” foi escrita em 1964, após uma atuação na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, conhecida como “Música Velha”, a 17 de maio de 1964. Dias depois, José Afonso escreveu uma carta de agradecimento com um poema com três estrofes dedicado aos sócios da “Música Velha”, mas estas estrofes viriam a sofrer alterações para a canção. Apenas oito anos mais tarde, ele cantou-a pela primeira vez em público, em Santiago de Compostela, em 10 de maio de 1972. José Afonso tinha lançado o álbum “Cantigas do Maio”, numa edição da Orfeu, com gravação, no Strawberry Studio, de 11 de outubro a 4 de novembro de 1971. A capa é da autoria de José Santa-Bárbara e a fotografia de Patrick Ulmann. Em vésperas do 25 de Abril, a 29 de março, o Coliseu de Lisboa estava lotado. “Grândola, vila morena” foi escolhida para fecho, porque ela própria era um programa político da forma mais eficaz, mas inócua para os censores. Como senha radiofónica para o avanço das tropas na madrugada do golpe militar, a canção reforça-se como hino da esperança. No dia seguinte, o diretor de Serviços de Programas da Emissora Nacional assina o seguinte texto: “Conforme orientação superior não devem ser feitas restrições na inclusão em programa de quaisquer discos que se encontram nesses arquivos. Os respetivos ficheiros deverão ser normalizados de acordo com a referida orientação. Os discos a adquirir não deverão ser objecto de qualquer exame prévio”. Era a liberdade a acontecer.