#5 “É preciso avisar toda a gente” (João Apolinário / Luís Cília), Luís Cília, 1967
Vítor Higgs

#5 “É preciso avisar toda a gente” (João Apolinário / Luís Cília), Luís Cília, 1967

Um poema memorizado numa cela de prisão
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João Apolinário, poeta, jornalista e crítico teatral, publicou originalmente este poema no seu livro de estreia “Morse de Sangue” (1955). O poema foi memorizado numa cela da prisão do Forte de Peniche, porque não tinha papel nem lápis. Antes, fora correspondente de guerra e, nessa qualidade, fez parte, como tenente do exército francês, do primeiro contingente de jornalistas que observou a devastação causada na Europa pelas forças em conflito e os horrores dos campos de concentração. Isso deixou-lhe marcas permanentes. De volta de Paris, em 1949, assumiu a sua oposição ao regime português e continuou a escrever poesia. Ele é considerado um dos precursores do espírito renovador da segunda vaga de poetas neorrealistas, que deram continuidade ao grito de resistência. Neste poema, é claro o desejo de avisar para contagiar cada vez mais gente em busca da liberdade. Sempre de espírito inquieto, o poeta saiu de novo de Portugal, em dezembro de 1963, desta vez com destino a São Paulo, num exílio voluntário, mas logo em 31 de março de 1964 se rompeu a ordem institucional e foram suprimidas as liberdades públicas no Brasil. Com o poeta do outro lado do Atlântico – apenas voltaria depois do 25 de Abril –, Luís Cília musicou o poema, e a canção foi editada, pela Moshé-Naïm, como segunda faixa de “La poésie portugaise de nos jours et de toujours 1”, um dos discos deste cantautor que, no exílio em França, denunciou a guerra colonial e a falta de liberdade em Portugal. A canção mereceria destaque no número inicial da revista “Mundo da Canção” (dezembro de 1969).

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