O angolano Ruy Mingas musicou poemas de grandes poetas conterrâneos, como foi o caso de António Jacinto, angolano de origem portuguesa. O texto desta canção foi publicado, originalmente, em “Poemas” (1961), e evidencia o trabalho do escravo. O disco EP tem edição da Zip-Zip e inclui um folheto com a letra do tema principal de um lado e depoimentos de Agostinho Neto do outro. A contracapa tem um texto manuscrito de José Luandino Vieira, escritor e ativista político, preso no Tarrafal entre 1972 e 1974 e membro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). A palavra Monangambé tem origem no povo banto, com sotaque francês e sem uma tradução direta para o português, embora se possa aproximar de chamamento ou reunião. A canção fala de angolanos negros “contratados” para trabalhar nas roças dos brancos durante a era colonial, por vezes provenientes de províncias de Angola bem distantes. É um poema sofrido, em que se dá voz à dor que estes homens sentiam e que tentavam esquecer bebendo maruvo, uma espécie de aguardente. O poeta coloca mesmo o colonizado a refletir sobre as suas ações e o seu próprio estado: “Quem faz o milho crescer / E os laranjais florescer? / Quem dá dinheiro para o patrão comprar / Máquinas, carros, senhoras / E cabeças de pretos para os motores? / Quem faz o branco prosperar / Ter barriga grande / Ter dinheiro? / Quem? / E as aves que cantam / Os regatos de alegre serpentear / E o vento forte do sertão / Monangambé...”