#46 “Vamos brincar à caridadezinha” (José Barata-Moura), José Barata-Moura, 1973
Vítor Higgs / DN

#46 “Vamos brincar à caridadezinha” (José Barata-Moura), José Barata-Moura, 1973

Uma senhora “caridadezinha”?
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José Barata-Moura já era conhecido pela sua produção discográfica infantil, mas também pelo intervencionismo através da canção comprometida, quando escreveu uma paródia mordaz à caridade que o regime político promovia, tornando esta como uma das melhores canções infantis e de intervenção, simultaneamente. O LP foi editado pela Zip-Zip, mas não foi fácil concretizá-lo, porque houve uma sistemática recusa por parte da censura em relação às letras propostas. Os arranjos são de Thilo Krasmann e a gravação foi feita nos Estúdios Nacional Filmes, nos Estúdios Polysom e nos Estúdios da Valentim de Carvalho. O programa televisivo “Zip-Zip”, onde cantou em francês, foi o ponto de viragem da carreira artística de Barata-Moura. Com esta canção, ele caricatura a ação do Movimento Nacional Feminino (1961-1974), de Cecília Supico Pinto, que dava apoio aos combatentes na Guerra Colonial. A canção denuncia: “Queremos ser irmãos, mas nunca sujamos as mãos”. Se a solidariedade é a expressão dos direitos humanos, porém, o autor rejeita a “caridadezinha”, porque inferioriza os cidadãos – “festa, canasta e boa comidinha”. O perfil de uma tal senhora vem caracterizado desde logo na primeira estrofe: A senhora de não sei quem / Que é de todos e de mais alguém / Passa a tarde descansada / Mastigando a torrada / Com muita pena do pobre / Coitada”. À entrada do ano seguinte, a censura concretiza: “30.1.1974. Inconveniente adquirir ou transmitir José Barata Moura (Produção, subúrbio, ‘Vamos brincar à caridadezinha’)”.

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