#43 “Tourada (José Carlos Ary dos Santos / Fernando Tordo), Fernando Tordo, 1973
Vítor Higgs / DN

#43 “Tourada (José Carlos Ary dos Santos / Fernando Tordo), Fernando Tordo, 1973

A canção-metáfora que expôs as hipocrisias e contradições do País
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A abrir a edição do “X Grande Prémio TV da Canção”, Artur Agostinho começou o programa no meio da plateia. Era “um clima novo” para que o público participasse. Depois do Bécaud é que foi o “bicô” de obra. Fernando Tordo e Ary dos Santos, por esta ordem, congeminaram uma oportuna obra-prima de originalidade e sátira, e venceram, com a anuência da censura. Porém, os aficionados pelas lides tauromáquicas, colhidos de surpresa, ergueram-se com um “olé de indignação”. Esse “crime” de lesa-tauromaquia fez com que a canção se visse onde nunca suporia estar: “Numa vasta e ululante arena, assistindo a estocadas dos ‘diestros’ e das bancadas. Todos pedem as orelhas do inimigo, enquanto as suas se avermelham de indignação. Em Portugal, não existe o ritual da morte dos touros, mas não falta a caça aos tordos…” (“Flama”, 9 de março de 1973). O Sindicato dos Toureiros recebeu protestos e dinamizou a luta contra a ida de “Tourada” à Eurovisão, bem como uma eventual ação judicial contra Ary dos Santos e a reprovação pública dos gestos à toureiro do cantor durante a interpretação, que foram atenuados no Luxemburgo. O que mais importa na canção é que ela critica uma parte da sociedade: “Entram velhas, doidas e turistas / Entram excursões / Entram benefícios e cronistas / Entram aldrabões / Entram marialvas e coristas / Entram galifões de crista”. Há uma alusão à chamada Primavera Marcelista, que pouco ou nada alterou o regime: “Estamos na Praça da Primavera”. E havia o “inteligente”, o ministro da Educação, José Hermano Saraiva, que quis “acabar com as canções”.

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