#42 “Fomos feitos em ceroulas” (José Carlos Ary dos Santos / Arlindo de Carvalho), Dário de Barros, 1973
Antes de partir para a Venezuela, onde fez uma carreira de sucesso até à sua morte, Dário de Barros deixou alguns discos gravados na Alvorada, na Estúdio e na Discos Roda. Precisamente com este selo e edição da empresa portuense J.C. Donas, Lda, este EP é um dos exemplos quanto à escolha do reportório por parte do autor, musicando Ary dos Santos, António Gedeão, Bertolt Brecht e Federico García Lorca. Os quatro temas têm o acompanhamento da orquestra e coros dirigidos por Fernando Correia Martins. O poema de Ary, “Trovas genealógicas”, foi musicado por Arlindo de Carvalho, que é um compositor e autor de canções ligeiras, de raiz folclórica, de intervenção e fados de Coimbra, saindo de Portugal em janeiro de 1965 na carrinha da Amália, que ia cantar a Bruxelas, para se estrear como cantor profissional, em Paris, no ano seguinte. “Fomos feitos em ceroulas” tomou o nome de um dos versos desse poema de Ary dos Santos: “Nascemos intempestivos / Dum coito de ideias tolas / Estamos vivos[,] estamos vivos / Fomos feitos em ceroulas”. Na contracapa, lê-se: “Há anos que na música ligeira portuguesa se vem processando um movimento de renovação. Textos de qualidade literária são interpretados por artistas que se desejam actuais e conscientes. Entre eles encontra-se Dário de Barros”. Antes, gravara, por exemplo: “É urgente mais flores” – uma versão musicada do já referido poema de João Apolinário Teixeira Pinto intitulado “Urgente… mais flores ou a luta necessária”, publicado, originalmente, no primeiro livro do poeta, “Morse de Sangue” (1955).