José Almada é um dos trovadores revelados pelo selo discográfico Zip-Zip. Em 1970, lançou “Mendigo”, um tema do seu primeiro EP que passou à censura, embora fosse clara a fraternidade expressa nessa canção em relação às vítimas de um flagelo que o regime não resolvia, com a capa a retratar um marginalizado. A revista “Mundo da Canção” fez várias referências a este cantor, testemunhando as qualidades únicas que manifestava: “Uma voz e uma ‘balada’ com personalidade diferente” (Tito Lívio, “Mundo da Canção”, 15 de novembro de 1970). Dois anos depois, um novo EP inclui “Vento irado”. Ambos os temas fizeram parte do LP lançado no mesmo ano, intitulado “Homenagem”, com arranjos e direção musical de Pedro Osório a partir de músicas depuradas e acordes simples. José Almada canta e toca viola, além de compor todas as canções num registo sentimental profundo baseado nas raízes do seu património, simultaneamente genético e lírico. Na época, ele disse que a sua maior desilusão era o facto de os mendigos não poderem comprar o disco. O seu registo poético-musical passa pela solidariedade para com os mais desfavorecidos, apesar da sua origem aristocrática, a tal ponto que chegou a ser apelidado de “trovador dos mendigos”. Recorrendo ao contributo poético de outros autores, porém, ele é autor integral desta canção que se evoca, aliás, censurada pelo regime. Não entrou no circuito comercial, nem passou na rádio. Com melancolia, porém, as palavras soltaram-se: “Sacodem-me o pensamento / Os silvos do vento irado / Que à porta está batendo / É como um cedro roído / Quando parte em silêncio / Minha alma está sofrendo”.