#4 “Trova do vento que passa” (Manuel Alegre / António Portugal), Adriano Correia de Oliveira, 1964
Vítor Higgs

#4 “Trova do vento que passa” (Manuel Alegre / António Portugal), Adriano Correia de Oliveira, 1964

Uma trova escrita pela mão de um político revoltado
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Adriano Correia de Oliveira estudava no curso de Direito, em Coimbra, a cidade aberta a um ambiente de contestação e às greves académicas que reclamavam um ensino melhor e denunciavam a opressão do Estado Novo. No meio deste vendaval, em que o próprio Adriano se integrava, nasceram palavras de inquietude por parte do seu amigo Manuel Alegre. O poema foi escrito no final do ano em que Bob Dylan também editou “Blowin’ in the wind” (1963). Ambos falam do vento. O poema de Alegre reflete uma clara contestação ao regime português e reforça a missão interventiva daqueles que cantavam a resistência ao Estado Novo. E Dylan, no verso “The answer is blowin' in the wind”, acredita no vento como mensageiro que traz uma resposta. Ambos os poemas e ambas as canções representam, afinal, símbolos da esperança e hinos da juventude. “Trova do vento que passa” define o cantor, pela sua voz notável; o músico, pelos acordes de guitarra; o poeta, por todos os desassossegos que exprime no poema. Numa das noites em que foi acompanhado por Adriano Correia de Oliveira, em plena Praça da República, de Coimbra, Manuel Alegre exprimiu a sua revolta dizendo os primeiros versos. Depois, o poema e a canção surgiram naturalmente. António Portugal fez a melodia e Adriano Correia de Oliveira cantou-a pela primeira vez em público na Faculdade de Medicina de Lisboa, na presença de António Portugal, José Afonso, Manuel Alegre e Rui Pato. E assim nasceu um novo género musical.

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