#38 “Que força é essa” (Sérgio Godinho), Sérgio Godinho, 1972
Vítor Higgs / DN

#38 “Que força é essa” (Sérgio Godinho), Sérgio Godinho, 1972

A força de trabalhar por pouco dinheiro
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"Os Sobreviventes” é o primeiro LP deste cantautor refratário. Gravado em finais de abril de 1971, no Strawberry Studio, de Michel Magne, em Château d’Hérouville, porém, só seria publicado no ano seguinte, em setembro, por estratégia comercial da editora, a Sassetti, para não fazer concorrência a “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, o LP de José Mário Branco que foi a grande aposta para o último trimestre. Em Portugal, o disco de Sérgio Godinho foi censurado por diferentes vezes, mas obteve o Prémio da Imprensa, ou Prémio Bordalo, em 1973, como “Melhor Disco” na categoria "Música", entregue pela Casa da Imprensa “pelo seu triplo aspecto de qualidade, significação e consciente e eficaz trabalho de equipa”. A canção evocada traz um sentido de revolta, a partir da consciencialização da realidade, fazendo um repto dirigido ao operariado que, em Portugal e como emigrante em França, trabalhava com salários baixos. O poema fala da força de trabalho e de como ela é utilizada: “Vi-te a trabalhar o dia inteiro / Construir as cidades pr’òs outros / Carregar pedras, desperdiçar / Muita força p’ra pouco dinheiro”. Musicalmente, teve a participação de um grupo alargado e, em particular, de José Mário Branco, na flauta épica e como produtor e coordenador dos arranjos que fez com a contribuição de todos os músicos. A fotografia da capa é de Michel Morange, com conceção de Armando Alves. Esta canção é um dos exemplos da conjugação entre letras de denúncia e sonoridades modernas, revelando um autor comprometido com as palavras e com a forma como se entrelaçam nas melodias.

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