“Camarada”, “Retrospectiva”, “Viagem” e “Corpo abolido” fazem parte deste disco de José Cid, que tem a acompanhá-lo o guitarrista António Chainho. Em parte, “Camarada” faz lembrar “Les deux guitares” (Apollon Grigoriev, Ivan Vasilev e Charles Aznavour, 1960) e “Nathalie”, (Pierre Delanoë e Gilbert Bécaud, 1964). O censor não deixou passar, não tanto por estas inspirações – a censura era ela própria uma inspiração –, mas pelas palavras incisivas. A revista “Mundo da Canção” refere as “piedosas intenções de José Cid” e apelida a canção como “supostamente panfletária”: “Uma receita que atinge um alto nível de reaccionarismo tanto no aspecto musical como na letra. Não basta, de facto, utilizar-se uma palavra emblema, esvaziando-a de todo o seu conteúdo ideológico, para, repetindo-a incessantemente, se construir uma canção dita de contestação.” (outubro de 1972). A canção de abertura é uma homenagem sentida a quem trabalha num mundo de dificuldades a troco de ordenados de fome e pobreza: “Só eu te ouvi gritar de madrugada / Camarada, camarada! / No dia em que mordeste o pó da estrada / Para nada, camarada! / És livre para seguir tua jornada / Que jornada, camarada! / Chegaste ao fim da tua encruzilhada / Para nada, camarada! // Tinhas contigo o dom para a palavra / Da verdade, camarada! / Tiveste, amigo, uma sorte tramada / Na verdade, camarada! / E de uma navalha fizeste uma espada / Que saudade, camarada! / Nasce uma flor no cano da espingarda / Para nada, camarada!”