#3 “Verdes anos” (Pedro Tamen / Carlos Paredes), Teresa Paula Brito, 1963
Vítor Higgs

#3 “Verdes anos” (Pedro Tamen / Carlos Paredes), Teresa Paula Brito, 1963

A cor dos anos 60 em Portugal
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A década de 1960 foi, apropriadamente, apelidada de “verdes anos”. Lisboa era um destino para aqueles portugueses que, não emigrando, se deslocavam das províncias à procura de uma vida melhor. Porém, nem sempre as circunstâncias ajudaram a essa vivência. A banda sonora do filme de Paulo Rocha tem as palavras musicadas pelo virtuoso da guitarra portuguesa, cujo início parece entoar a peça de Gershwin (“Summertime”, 1934). O tema-título é cantado por Tereza Paula (Teresa Paula Brito). A versão instrumental foi editada no LP “Guitarra Portuguesa” (1967) de Carlos Paredes como “Canção verdes anos” e a cantada como “Verdes anos” no EP de Teresa Paula Brito intitulado “Canções para fim de noite” (1968) e editado pela Riso & Ritmo Discos. Na época, as condições de vida para quem chegava à cidade grande nem sempre eram as melhores, mas o amor acontecia entre jovens de diferentes origens geográficas, que convergiam na capital e se aconchegavam para contornar o isolamento e a solidão. Quem esteve a assistir à estreia do filme naquele dia 29 de novembro de 1963 no Cine-Teatro São Luiz ou no Cinema Alvalade ouviu pela primeira vez as notas, as palavras e a voz, juntas, a denunciarem um drama coletivo, através de um discurso repleto de subentendidos. Alguns destes escaparam aos cortes da censura. Este foi um tempo de estados de alma ambíguos e inquietos, de deambulações entre as alegrias e as tristezas e de sedução e utopia, percorrendo os lugares mais icónicos da Lisboa moderna e modernista, onde, aliás, nasceria muita da música dos anos seguintes.

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