#20 “Cantata da paz” (Sophia de Mello Breyner / Rui Paz), Padre Fanhais (Francisco Fanhais), 1970
O papa Paulo VI instituíra, a 8 de dezembro de 1967, o 1 de janeiro como Dia Mundial da Paz. Em Lisboa, no final do ano seguinte, cerca de 150 católicos progressistas entraram na igreja de S. Domingos e permaneceram durante a noite da passagem de ano, o que marcou o momento fundador da mobilização dos cristãos para a luta a favor da paz e contra a política colonial, de acordo com a consciência cristã humanista. Propositadamente para essa reunião, Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu o poema “Vemos, ouvimos e lemos”, com base na métrica de uma melodia de Rui Paz inspirada num espiritual negro americano. O Padre Fanhais cantaria o poema em versão reduzida. A poetisa pensava em África, mas também no Vietname, e a sua poesia era corajosa no combate ao regime salazarista. O cantor seria impedido de exercer o sacerdócio e de lecionar nas escolas oficiais, onde, nestas, como professor de Religião e Moral, dava aulas com base em canções contestatárias da época. “Cantata da paz” foi incluída num LP gravado e editado, em 1970, pela Zip-Zip, intitulado: “Canções da cidade nova”. Neste trabalho, colaboraram, designadamente, Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral, nas guitarras, Jorge Torres Vilaça, nas ilustrações da capa, e José Afonso, em dedicatória: “Tu que cantas[.] Defronte[.] De faces atentas e seguras[.] Faz do teu canto uma funda[.] Nesse lugar[.] Entre outras mãos mais fortes e mais duras[.] Te estenderei a minha mão fraterna[.] Canta amigo!”