#15 “Desfolhada portuguesa” (José Carlos Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes), Simone de Oliveira, 1969
Vítor Higgs

#15 “Desfolhada portuguesa” (José Carlos Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes), Simone de Oliveira, 1969

Um falo na engrenagem
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O “Grande Prémio TV da Canção” saiu dos estúdios pela primeira vez e foi animar o Chiado. No palco do Teatro São Luiz, “Desfolhada portuguesa” ganhou, sem concorrência à altura, pela voz de Simone de Oliveira, que não fora a primeira escolha. No dia seguinte, o “Diário de Notícias” descreveu a canção como próxima do estilo balcânico e com “ressaibos ciganos”, mas cuja letra “viaja pelas paisagens do País”. A censura deixou passar uma frase progressista do poeta – “Quem faz um filho, fá-lo por gosto” – e uma crítica à situação do País – “Oh minha terra, minha aventura, casca de noz desamparada”. A primeira ofendeu mesmo a moral mais conservadora da sociedade, e talvez ninguém tenha reparado no erótico trocadilho linguístico com o verbo da frase. Em Madrid, havia muito entusiasmo e, segundo o “Diário de Notícias”, a nossa canção estava entre as favoritas, porque “opiniões insuspeitas” a colocavam mesmo em 1º lugar, após o primeiro ensaio. No final, alcançou o 15º lugar, com apenas 4 pontos de Espanha, Bélgica e França. O “Diário de Notícias” dá conta de que as “afinidades linguísticas e ideológicas” e a “politiquice” influenciaram a votação. O ministro da Informação e Turismo espanhol foi pedir desculpa a Simone. Viam-se lágrimas nos olhos de alguns jornalistas portugueses. O regresso foi, ainda assim, em apoteose. A canção foi editada pela Decca - Valentim de Carvalho, com versões em castelhano (“Deshojada”), francês (“Terre guitare”) e italiano (“Terra chitarra”), que difundiram, por toda a Europa, uma das canções mais emblemáticas da música portuguesa.

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