#14 “Canção para um povo triste” (Vieira da Silva), Vieira da Silva, 1969
Vítor Higgs

#14 “Canção para um povo triste” (Vieira da Silva), Vieira da Silva, 1969

Um canto medicamente assistido
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Nos anos 60 do século XX, enquanto estudante de Medicina em Coimbra, António Manuel Vieira da Silva participou no movimento da “nova canção portuguesa”. Em novembro de 1969, editou o seu primeiro EP, com um tema inicial dedicado ao povo que vivia em dificuldades no País. O disco foi censurado. Antes, vencera os prémios de interpretação e composição do 1º Festival de Música Popular Portuguesa, na Figueira da Foz. Por vezes, esta distinção aparece referida na capa deste primeiro disco, através de um autocolante dourado. “Canção para um povo triste” surge com “Balada para o menino de dia de hoje”, “Balada do soldadinho” e “Auto-retrato para uma humanidade”. Todos os quatro temas são da sua autoria, sendo ele o único instrumentista na gravação. Na capa do disco editado pela Riso & Ritmo Discos e com arranjo gráfico de Manuel Viana, o cantor surge fotografado por Bourdain de Macedo, conhecido fotógrafo dedicado ao cinema e ao teatro. A canção evocada inicia-se com lamento: “Canto o povo triste de quem sou / Louco em cantar para esquecer / Os sonhos tidos na manhã da vida / Sol de madrugada livre no morrer”. E, no final, lança um desejo contundente: “Canto o meu poema de revolta / Ao povo morto que não quer gritar / Que já são horas para ser feliz / Que é chegado o dia de o medo acabar”. Seria necessário esperar um lustro de anos para que tal acontecesse. Porém, logo que a liberdade chegou, Vieira da Silva organizou, por intermédio da revista “Mundo da Canção”, o 1º Encontro da Canção Popular, que foi o primeiro a ser realizado depois do 25 de Abril.

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