#11 “Romance de Pedro Soldado” (Manuel Alegre / Fado Menor do Porto), José Manuel Osório, 1968
Vítor Higgs

#11 “Romance de Pedro Soldado” (Manuel Alegre / Fado Menor do Porto), José Manuel Osório, 1968

Uma homenagem ao soldado desconhecido
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José Manuel Osório cantou fados de intervenção desde os seus primeiros discos, por sinal proibidos pela censura. Em 1968, no ano em que viveu em Paris, gravou para a Movieplay, em cujo reportório incluiu poemas de António Aleixo, António Botto, Ary dos Santos, João Fezas Vital, Luísa Netto Jorge, Manuel Alegre, Maria Helena Reis, Mário de Sá-Carneiro e Vasco de Lima Couto. No tema “Romance de Pedro Soldado”, Manuel Alegre conta a breve vida de um jovem soldado que morreu na Guerra Colonial, sendo reconhecido pelo nome cosido num saco vazio: “Já lá vai Pedro Soldado / Num barco da nossa armada / E leva o nome bordado / Num saco cheio de nada”. Apenas a morte identifica o seu nome verdadeiro. Este é um trabalho discográfico de fôlego, desde logo no apurado trabalho de artes gráficas. No verso da capa, Vasco de Lima Couto testemunha: “Só é novo, quem tem direito à juventude e quem pode amar, nas palavras o que o dia inventa para o amor inatingível, onde a noite se desobriga; só é novo, quem sofre o presente para ser precursor do futuro; só é novo quem não mente, no fado que tem, o fado que canta; só é novo, quem, como José Manuel Osório, ri com a vida e chora com o silêncio – a vida e o silêncio dos autênticos poemas, que ele escolhe”. Depois deste trabalho, o fadista aderiu ao Partido Comunista Português, em 1969, e, no ano seguinte, recebeu o Prémio da Imprensa para Melhor Fadista do Ano. Porém, nessa ocasião, foi impedido de cantar no Coliseu, por ordem da PIDE junto da direção da Casa da Imprensa.

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