Em matérias de coração, o tamanho e a forma também importam
Ao contrário do que a simbologia universal popularizou, o coração está longe de ter uma forma única e tão perfeita quanto dois semicírculos unidos por um triângulo invertido na parte inferior. Já não é novidade científica que há corações mais arredondados, mais alongados, mais pequenos ou mais largos. Mas o que a ciência agora parece demonstrar é que a forma e o tamanho de cada coração podem estar também relacionados com o risco de determinadas doenças cardiovasculares.
Sabia, por exemplo, que um coração mais esférico pode ser mais suscetível ao risco de fibrilhação auricular, uma espécie de arritmia cardíaca em que existem batimentos cardíacos muito irregulares, e habitualmente rápidos, com 80 a 160 batimentos por minuto? E que os corações mais pequenos são mais associados a um maior risco de diabetes? Pois, é o que demonstra um estudo internacional liderado por investigadores espanhóis, e publicado na revista Nature Communications, que utilizou imagens de ressonância magnética de mais de 40 mil pessoas para criar modelos tridimensionais completos dos corações.
Os cientistas mapearam 11 coordenadas referentes a diferentes aspetos da forma do coração, desde tamanho, inclinação, esfericidade ou espessura. Esta é uma abordagem inédita, já que métodos anteriores limitavam-se a medições simples, como o volume dos ventrículos ou o tamanho do miocárdio.
“Esra é a primeira vez que temos uma representação tridimensional tão detalhada da morfologia cardíaca”, destaca Julia Ramírez, da Universidade de Saragoça, coautora do estudo, citada pelo jornal El País.
O estudo identificou 45 regiões do DNA ligadas à forma cardíaca. Embora muitos desses genes já fossem conhecidos, 14 deles nunca tinham sido associados ao coração ou a qualquer característica cardíaca. “Esses genes representam uma nova biologia a ser explorada”, afirma Patricia B. Munroe, professora da Universidade Queen Mary, em Londres, também uma das autoras do estudo.
A descoberta deste 14 novos genes relacionados com a morfologia cardíaca pode abrir caminhos para novas investigações.
“Agora sabemos que é possível prever anomalias cardíacas com base em informações genéticas, o que pode ser mais económico que exames de ressonância”, explica Julia Ramírez.
"As variações de forma estão mais fortemente relacionadas com fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, hiperlipidemia, diabetes, tabagismo e obesidade , e mais preditivas de eventos cardiovasculares adversos importantes do que os fenótipos estruturais cardíacos padrão. Associações genéticas com variação de forma cardíaca podem, portanto, fornecer informações não encontradas em análises genéticas sobre fenótipos estruturais cardíacos padrão e podem auxiliar na compreensão dos mecanismos subjacentes ao desenvolvimento de DCV", refere o estudo.
Embora promissor, o estudo ainda está longe de aplicações práticas. Ana García Álvarez, chefe de Cardiologia do Hospital Clínic de Barcelona, citada pelo El País, elogia a abordagem integrada do trabalho, mas destaca que mais estudos são necessários para entender como estas descobertas podem ajudar a prevenir doenças.
“A genética tem um papel, mas o estilo de vida é mais determinante para a saúde cardiovascular”, sublinha, destacando que 80% do impacto nas doenças cardíacas está relacionado com fatores ambientais, como alimentação, sedentarismo e tabagismo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as doenças do croação permanecem como a principal causa de mortalidade em todo o mundo.