Da biodiversidade marinha aos tumores cerebrais: os projetos que distinguem mulheres cientistas em Portugal
Ana Rita Lopes propõe-se a proteger a biodiversidade marinha dos impactos do aquecimento global e da poluição nos mares; Céline Gonçalves quer diagnosticar o glioblastoma (o tumor cerebral mais agressivo em adultos) com mais precisão; Paola Alberte usa a nanotecnologia para tentar novas formas de tratamento contra o cancro e doenças neurológicas; e Patrícia Henriques criou um dispositivo inovador para a desinfeção de cateteres para reduzir o risco de infeções fatais.
Na sua 21ª edição, o programa Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência - que resulta de uma iniciativa conjunta da L’Oréal e da UNESCO, a nível internacional, que em território nacional tem a parceria da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) - premiou mais quatro jovens mulheres cientistas em Portugal, pelos seus projetos de investigação "com potencial transformador nas áreas da saúde e da conservação ambiental".
A distinção, que pretende reconhecer o talento de jovens mulheres cientistas e combater a desigualdade de género no meio científico, vale a cada cientista premiada uma bolsa de 15 mil euros para dar continuidade aos seus projetos.
Desde a sua criação, em 2004, a iniciativa distingue anualmente cientistas jovens e já doutoradas, com idade até 35 anos (mais um ano por cada filho) e com projetos promissores nas áreas das ciências, engenharias e tecnologias para a saúde ou para o ambiente. Em Portugal, ao longo de 21 edições, já foram apoiadas mais de 70 investigadoras.
Fique a conhecer as cientistas e projetos premiados em 2025:
Ana Rita Lopes
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Projeto: Under Pressure
A trabalhar na interseção entre a biologia marinha e as alterações climáticas, Ana Rita Lopes investiga o impacto do aquecimento global e da poluição por resíduos de fármacos nas relações simbióticas entre anémonas e os seus parceiros marinhos. Através do projeto Under Pressure, procura perceber como estas ameaças afetam os ecossistemas costeiros e contribuir para o desenho de políticas de conservação mais eficazes.
“Este prémio representa um reconhecimento muito grande do meu trabalho, sobretudo numa área como a ecologia marinha, que nem sempre tem o mesmo destaque”, disse a cientista à agência Lusa.
Céline Gonçalves
Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS)– Universidade do Minho
Projeto: EVision
O projeto de Céline Gonçalves visa revolucionar o diagnóstico do glioblastoma — o tumor cerebral mais agressivo nos adultos. A investigadora está a desenvolver um método que permite detetar este tipo de cancro através de uma assinatura molecular no sangue, facilitando o diagnóstico precoce e melhorando o acompanhamento da doença.
Para Céline, o prémio é também um alerta: “Há poucas mulheres na liderança, na tomada de decisões e com visibilidade. É essencial dar voz às mulheres e valorizar o seu trabalho.”
Paola Alberte
IST-ID – Instituto Superior Técnico
Projeto: WireCan
Paola Alberte desenvolve uma abordagem inovadora para combater o cancro e doenças neurológicas como a de Parkinson. Através do projeto WireCan, está a criar sistemas nanobioeletrónicos ativados por ultrassons que corrigem a atividade bioelétrica das células cancerígenas, travando o seu crescimento.
A cientista pretende aplicar esta técnica, ainda em fase de desenvolvimento, a tumores como o glioblastoma. Com a bolsa, espera aumentar a visibilidade do seu trabalho e estabelecer novas colaborações internacionais.
Patrícia Henriques
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, i3S – Universidade do Porto
Projeto: GOcap
Infeções ligadas a cateteres de hemodiálise continuam a ser um grave problema hospitalar. Patrícia Henriques criou o GOcap, um dispositivo sustentável e reutilizável que desinfeta cateteres através do uso de luz infravermelha e óxido de grafeno, sem recurso a antibióticos.
Com esta inovação, pretende reduzir significativamente infeções potencialmente fatais e os custos hospitalares associados ao tratamento. A investigadora planeia agora alargar a sua formação para incluir competências nas áreas da indústria e negócio, preparando o GOcap para aplicação no mercado.