Adoção da IA nas empresas acelera em 2025. E vem aí o impacto no ensino

Adoção da IA nas empresas acelera em 2025. E vem aí o impacto no ensino

Ferramentas com base em Inteligência Artificial generativa estão com um nível de utilização galopante nas atividades económicas e esta tendência deverá manter-se este ano, preveem especialistas. Também vamos ver aumentar os serviços online de forma substantiva.
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O potencial transformador e de criação de mais-valia das ferramentas de Inteligência Artificial, em especial da IA generativa - aquela que é capaz de gerar conteúdos aparentemente ‘originais’ - está a ser apreendido e adotado rapidamente pelas empresas a nível mundial, e esta tendência irá manter-se ao longo de 2025, dizem especialistas ouvidos pelo DN.

A velocidade de adoção é bem evidente no estudo da consultora IDC para a Microsoft The Business Opportunity of AI, realizado em dezembro e a que o DN teve acesso, que conclui que, a nível mundial, o ano fechou com 75% de empresas a utilizar soluções de IA generativa, contra apenas 55% do ano anterior.

“Estamos perante um momento crucial quando falamos de Inteligência Artificial e sobre a capacidade transformadora desta tecnologia na forma como trabalhamos e vivemos”, afirma ao DN o diretor Nacional de Tecnologia e membro da administração da Microsoft Portugal, Manuel Dias. “E a tendência das empresas será, cada vez mais, a de procurar soluções de IA mais avançadas e desenvolvidas à medida das suas necessidades específicas. Este facto permite-nos antecipar que 2025 será crítico no amadurecimento do uso da IA pela sociedade no seu todo”, completa.

Este interesse dos empresários, ainda segundo o estudo da IDC, deve-se ao facto de o retorno do investimento conseguido com este tipo de ferramentas ser muito positivo. “Na Europa Ocidental”, pode ler-se na nota de imprensa que acompanha o estudo, “cada dólar investido por uma empresa em IA generativa [resulta] num retorno de 3,7 dólares - número este que pode atingir os 10,3 dólares de retorno por cada dólar investido no caso das empresas com maior maturidade na utilização desta tecnologia.”

O ano em que a IA tocará em tudo

Por ser um tema que é noticiado com grande frequência, uma vez que esta é, hoje em dia, a área da tecnologia informática que mais tem evoluído, até parece que se trata de algo que já nos acompanha há algum tempo, mas convém lembrar que a IA generativa é muito recente, pelo que está ainda a dar os primeiros passos. “Estamos no início de uma longa jornada e acreditamos que o impacto será ainda mais evidente nos próximos anos”, diz Manuel Dias.

No mesmo sentido antevê o futuro próximo Paulo Dimas, o presidente do Center for Responsible AI - consórcio português que junta mais de 20 empresas e startups, institutos e universidades, para a pesquisa e promoção de IA de forma responsável: “Em 2025, a IA continuará a transformar o modo como vivemos e trabalhamos.”

Este impacto far-se-á sentir nas empresas, mas também nos serviços do Estado e noutras áreas que, até agora, não têm visto (apesar de tudo) grande impacto. Haverá “impacto da automação em 80% das profissões”, afirma Paulo Dimas, o que “exigirá olhar para mobilidade e reskilling de trabalhadores, com as empresas e a Administração Pública a adaptarem-se a essas mudanças”.

“Os avanços na multimodalidade dos LLM” - os Large Language Models, os sistemas de linguagem que estão por trás de serviços como o ChatGPT, da OpenAI, o Copilot, da Microsoft, ou o Gemini, da Google, só para mencionar os maiores - “permitirão que, além de texto e imagens, a IA gere vídeos, abrindo novas possibilidades criativas em áreas como marketing, entretenimento e Educação”, lembra ainda Paulo Dimas.

Este último setor, acrescenta o especialista, será aquele que sentirá “o maior impacto da IA nos próximos anos”.

“Irá ser possível criar tutores personalizados que ajudarão professores a adaptar o ensino às necessidades específicas de cada aluno, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e inclusiva”, afirma. Algo que não acontecerá este ano, mas em breve: “Esta representa a maior oportunidade transformadora para Portugal nesta década”, diz.

Os alicerces para estas ferramentas estão, aliás, lançados na Catalunha com talento português. No Centro de Supercomputação de Barcelona, os supercomputadores do MareNostrum 5 fazem já o trabalho de processamento para “aprender” as 24 línguas europeias, português de Portugal incluído.

André Martins, vice-presidente de IA e de Investigação na empresa portuguesa Unbabel, e professor no Instituto Superior Técnico dirige a equipa de especialistas nacionais que participa no projeto europeu. Explicou ao DN, no início de dezembro, como “o grande objetivo deste projeto é desenvolver modelos de linguagem que possam ser usados para tradução, para sinalização”.

Nessa altura, o EuroLLM tinha atingido uma milestone significativa: a de processar “9 mil milhões de parâmetros”. Para o princípio deste ano de 2025 “o objetivo final é ter um modelo que tem 22 mil milhões de parâmetros”, disse o especialista ao DN. E, assim, ter uma ferramenta linguística no ‘nosso’ português capaz de competir - até ao nível de preço - com a oferta das tecnológicas norte-americanas: “A forma como o pricing [dos modelos norte-americanos] funciona não é bem por palavra, mas por token, que é uma subpalavra. E, por serem muito centrados no inglês, acabam por ter custos mais elevados nas outras línguas, porque os dados que são usados sub-representam os outros idiomas. Portanto, se alguém quiser vir a usar algum produto derivado do nosso LLM a nível comercial, isso irá traduzir-se em preços que poderão ser mais atrativos para línguas que não sejam em inglês”, afirma André Martins.

Uma vantagem competitiva que poderá levar a que gigantes como Google, Microsoft, Meta, ou outros escolham a solução europeia para processar as línguas do Velho Continente.

Além disso, este EuroLLM conterá ainda os ‘alicerces’ do que virá a ser o sistema de “IA português” Amália, apresentado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na Web Summit de Lisboa de 2024, que será uma ferramenta a utilizar nos programas educativos do ensino público.

Uma IA para cada um, IA em todo o lado

Tudo isto são evoluções tecnológicas que levarão, progressivamente, àquilo a que Manuel Dias, da Microsoft, chama de “democratização no desenvolvimento de agentes de IA personalizados”.

Algo que, lembra, já está a ser posto em prática em algumas soluções da empresa do Windows: “Por exemplo, o Copilot Studio irá permitir automatizar tarefas quotidianas.”

“Mas também [haverá] a evolução dos algoritmos com capacidades de raciocínio para resolver problemas complexos, num processo semelhante à forma como os humanos pensam antes de responder”, acrescenta o especialista do ‘braço’ português do gigante tecnológico sediado em Redmond, no Estado de Washington.

“Estas capacidades serão, sem dúvida, um game changer em domínios tão diversos como a ciência, a programação, a matemática, o direito ou mesmo a medicina”, acrescenta.

Dias e Dimas não têm dúvidas: os próximos meses vão trazer multimodalidade dos serviços de IA e fazer com que os utilizemos nas tarefas do dia a dia.

“Em 2025, começaremos ainda mais a delegar tarefas em agentes de IA, permitindo que estes respondam a e-mails, façam a gestão da nossa agenda e até realizem compras online”, nas palavras de Paulo Dimas, na resposta enviada por e-mail ao DN.

Afinal, como diz no seu e-mail ao DN Manuel Dias: “A IA será capaz de compreender e antecipar as preferências individuais de cada um de nós, promovendo uma interação fluida e intuitiva.”

Ou seja, vamos estar cada vez mais a usar IA sem sequer darmos por isso. Porque afinal, parafraseando o fundador da Apple Steve Jobs, a tecnologia quando funciona melhor é quando não se vê.

Outra tendência de 2025: maior dependência da nuvem

Everything as a service. Este será também um dos grandes motes tecnológicos para este novo ano, pelo menos a julgar pelos lançamentos públicos realizados.

O maior sinal destes tempos aconteceu em novembro, quando a Microsoft anunciou o Windows 365 Link, uma nova ‘versão’ do seu sistema operativo (SO) que corre na nuvem (ou seja, não necessita de ter um verdadeiro computador para estar instalado).

Destinado a empresas (para já...) o serviço é acompanhado de uma pequena peça de hardware - uma caixa de 12x12x3cm - que se liga à internet, a um monitor e a um teclado e a um rato. Tem capacidades mínimas, uma vez que todo o verdadeiro processamento - incluindo o próprio SO - é feito nos servidores Azure da Microsoft, mediante o pagamento de uma mensalidade, como é óbvio. Ficará disponível no primeiro semestre deste ano nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Japão, Austrália e Nova Zelândia, numa primeira fase, mas pretende ser solução para empresas que visam até dispensar (ou, pelo menos, simplificar drasticamente) serviços de assistência técnica informática.

Este processo de virtualização de serviços informáticos, que até há bem pouco tempo tinham de ser corridos localmente, é algo que já vinha acontecendo. Afinal, hoje conseguimos fazer quase tudo num browser de internet, desde editar vídeo (pelo menos de forma simples) a criar extensas folhas de cálculo com complexas fórmulas matemáticas.

Entretanto, as capacidades crescentes das ‘quintas de servidores’, da Microsoft à AWS, passando pela Meta (Facebook) ou Alphabet (Google), processam hoje números astronómicos de dados: todos os dias, segundo a Statista, são criados (gerados, consumidos, capturados, copiados...) 402,74 milhões de terabytes de dados. Noutra unidade, isto é o equivalente a 0,4 zettabytes diários, ou 147 zettabytes anuais. Claro que nem todos são arquivados, mas passam pelos cabos e pelos ‘discos’ de ‘alguéns’. E a tendência é crescente.

O vídeo é o segmento que mais recursos consome (acima de 53%), seguido das redes sociais em geral, mas existe outra área que está a ganhar terreno: o jogo online. E não nos referimos à situação tradicional do jogador que tem o título instalado localmente, no PC ou consola, e se liga pela internet para se encontrar com amigos ou enfrentar adversários.

O que tem evoluído de forma significativa nos últimos meses, impulsionado também pela penetração das ligações de banda larga com latência (delay) muito baixa, é a capacidade de correr todo o jogo diretamente da nuvem - mediante o pagamento de uma mensalidade, claro. A Microsoft, com o Xbox Cloud Gaming, foi a primeira a oferecer este serviço, mas a Sony PlayStation, em meados do ano passado, lançou algo semelhante.

E se hoje já é possível correr algo tão ‘pesado’ como o Indiana Jones and the Great Circle (sem dúvida, o jogo do ano) de forma quase perfeita diretamente de um servidor, sem ser preciso uma consola de última geração, mais ainda é cumprir 99% dos trabalhos de escritório nos dias de hoje. Desde que, depois, não se atrasem a pagar a mensalidade, claro...

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