Lisboa vai proibir copos de plástico a partir de 2020
Verde, azul e amarelo. São estas as três cores de Lisboa para 2020. Para ser um exemplo, a capital tem de juntar a boa utilização da água, da reciclagem e da energia solar.
Os copos de plástico vão ser banidos de Lisboa até 2020. Este é um dos objetivos traçados pela Câmara Municipal de Lisboa para o ano em que a cidade será a Capital Verde Europeia. E, para o concretizar, a autarquia já contactou os comerciantes e as marcas de bebidas.
Esta é uma das iniciativas de Lisboa para marcar os 12 meses que os responsáveis pela autarquia querem transformar num exemplo para os países do sul da Europa, mostrando como é possível alterar hábitos e transformar a cidade numa urbe sustentável em que os autocarros vão ser movidos a energia solar, os grandes parques vão ter bacias de retenção de água (o que ajuda a controlar as cheias) e os jardins e as ruas serão, respetivamente, regados e lavadas com água reutilizada.
É num ambiente de alerta para o efeito das alterações climáticas proporcionado pela exposição Eco-Visionários: Arte, Arquitetura após o Antropoceno que o vereador responsável pelo Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da câmara lisboeta anunciou os diversos projetos apresentados na candidatura à nomeação da Capital Verde Europeia, distinção atribuída a Lisboa no final do mês de junho em Nijmegen (Holanda).
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As cores de Lisboa
José Sá Fernandes foi o cicerone pelas salas onde, desde abril e até 8 de outubro, 35 artistas expõem as suas ideias críticas e visões sobre as alterações climáticas e o seu impacte. Esta exposição está disponível no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia e conta com quatro secções onde se fala do "Desastre", "Coexistência", "Extinção" e "Adaptação".
Salas que serviram de mote para os três destaques de cor que o vereador salienta quando se refere à Capital Verde Europeia: amarelo, verde e azul. Cada uma representa um ponto de sustentabilidade: a energia solar (amarelo), os jardins e a biodiversidade (verde), a reutilização da água e a reciclagem (azul). Tudo apostas com um objetivo comum que vai além de 2020: em 2050 Lisboa será uma cidade descarbonizada, ou seja terá reduzido ou suprimido as fontes de energia emissoras de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa.
Uma das garantias que a autarquia deu - na exposição do presidente Fernando Medina na defesa da candidatura - foi a de ir usar a energia solar. "Uma das promessas foi que em Lisboa queremos aproveitar o sol e, assim, trocar o combustível fóssil pela energia solar. Vamos produzir energia para abastecer veículos elétricos", explicou Sá Fernandes, lembrando que entre os novos 200 autocarros que vão integrar a frota da Carris até 2020, cerca de 20 vão usar este tipo de energia, e a maioria dos restantes será movido a gás natural. E alguns das carreiras de autocarros vão ser substituídas pelo elétrico.
"Vamos produzir 2 a 4 MW, [numa central fotovoltaica que ficará no aterro do Vale do Forno] o projeto e a autorização da Direção-Geral de Energia. Essa energia vai para os novos autocarros e para os veículos ligados à higiene urbana [neste caso 50]", sublinhou acrescentando ter esperança de que a chegada das duas centenas de autocarros para a Carris - que em 2030 já poderá ter toda a frota abastecida com energia solar - represente também "menos carros na cidade". "Não é fácil, mas é plausível de se conseguir", garantiu.

Já há 10 mil passes mensais para a utilização das "Giras"
© Leonardo Negrão / Global Imagens
Outra das propostas envolve o Metropolitano: "Estamos a falar com o Metro para conseguirmos introduzir energia solar diretamente na sua rede, não dá para a rede contínua, mas ajuda no autoconsumo."
A estas iniciativas na área da mobilidade juntam-se os 90 km de ciclovias e os 60 ainda em projeto ou construção, o projeto Giras, que já tem dez mil passes mensais vendidos e a mobilidade partilhada: bicicletas, motos e veículos elétricos.
Efeito medusa
Um dos filmes a que os visitantes da exposição Eco-Visionários podem assistir está relacionado com a capacidade da medusa se renovar ao contrário do ser humano que pode desaparecer devido às consequências do aquecimento global nos ecossistemas.
E é na referência a esta espécie que Sá Fernandes recorre para falar do segundo ponto da Lisboa Capital Verde Europeia: os jardins, parques, biodiversidade. "Lisboa tem 200 hectares de espaços verdes e vamos construir mais 200 até 2020, e nessas zonas podemos fazer bacias de retenção de água. Podemos ter aí zonas silenciosas. Assim, estamos a tentar diminuir o calor", adiantou Sá Fernandes.
"Só com estas intervenções podemos combater o efeito medusa. Para isso, temos as apostas no Vale de Alcântara, no Vale da Ameixoeira, o Aterro do Vale do Forno, o Vale da Montanha, a Praça de Espanha, a operação de Entrecampos. Lisboa vai mostrar que podemos ter mais biodiversidade com menos água e urbanizações com mais verde", frisou.
Uma aposta nos espaços verdes onde cabe, lembrou o vereador responsável pelo ambiente, o projeto Uma Praça em Cada Bairro, que é "muito importante e ajudou a valorizar a candidatura". Tal como outro trunfo da cidade: "Temos três herbários [Jardim Botânico, Museu Nacional da História Natural e da Ciência e Instituto Superior de Agronomia] e eu não conheço nenhuma capital com tantos."
Reutilizar água
O terceiro destaque tem a cor azul que neste caso se refere à água e à higiene urbana. Aqui, Lisboa apresentou ao júri europeu os projetos de reutilização de água para lavar as ruas e regar os jardins da capital. Nesta terça-feira, Sá Fernandes lembrou que já existem experiências nesse sentido e que os responsáveis da autarquia têm como meta que, em 2030, 25% da água utilizada pelos serviços da câmara provenha dessa origem.
Entre as iniciativas que destacou neste âmbito está um projeto implementado no Bairro Padre Cruz, onde a água usada para lavar loiça, por exemplo, é reutilizada. E a despoluição do rio Tejo, em que foi "conseguido que grande parte dos despejos sejam tratados".
No setor da higiene urbana - a outra parte do azul -, o vereador adiantou que em 2020 não serão permitidos copos de plásticos nos estabelecimentos comerciais de Lisboa. "Já falámos com as marcas e com os comerciantes. A partir dessa data o é o fim dos copos de plástico na cidade", frisou acrescentando que também já existem conversas com o governo, nomeadamente o Ministério do Ambiente, sobre o assunto. Medida que é também uma forma de diminuir o plástico recolhido na capital - em 2017 passado foram recicladas 11.338 toneladas de plástico.
Em 2017 passado foram recicladas 11.338 toneladas de plástico
Outra das iniciativas será a distribuição de blocos de compostagem doméstica e a tentativa de aproveitar os óleos e as latas deitadas fora para serem valorizados. Além de premiar quem opte pela reciclagem como os comerciantes que poderão ter uma redução de algumas taxas se o fizerem.
Todos estes projetos, nas várias valências, vão envolver diversas entidades - por exemplo, o MAAT, a EDP, a GALP, as Organizações não Governamentais, Fundação Calouste Gulbenkian, os jardins botânicos, a EPAL, Águas do Atlântico ou Valorsul - e ser alvo de campanhas de divulgação. "A EGEAC também vai adaptar as festas de Lisboa à Capital Verde Europeia", sublinhou Sá Fernandes que garantiu que todas estas iniciativas - como exposições ou conferências - não vão levar a câmara a "gastar mais dinheiro, só temos de adaptar o que há à Capital Verde".