Lisboa quer ter uns "radares" especiais para cuidar dos vizinhos

Cidade deverá ter cerca de 30 mil pessoas com mais de 65 anos a viver sozinhos. Câmara e Santa Casa da Misericórdia estão a fazer recenseamento e já detetaram situação de dificuldades económicas, de carências de cuidados de saúde e de higiene nas casas.
Publicado a
Atualizado a

"Falar, escutar, cuidar" ou nas palavras do provedor da Santa Casa da Misericórdia estar atento ao que se passa com "a pessoa que costuma ir beber um café e há dois dias que não aparece. E aí dar o alerta".

A frase de Edmundo Martinho resume bem o "Projeto Radar", iniciativa que surge como uma tentativa de resposta ao isolamento das pessoas com mais de 65 anos que vivem em Lisboa, serão cerca de 30 mil, e às suas necessidades.

Para já os primeiros dados conhecidos - resultantes do trabalho efetuado nas freguesias dos Olivais, Areeiro e Ajuda entre janeiro e o início de junho - mostram que as maiores carências encontradas entre os mais de quatro mil cidadãos com mais de 65 anos que vivem naquelas áreas são ao nível da higiene na habitação, necessidades de cuidados de saúde, dificuldades económicas e de realizar tarefas relacionadas com a sua vida diária.

Esta iniciativa tem um outro objetivo: criar uma rede de "vigilância" local. Ou seja, os chamados "radares voluntários", que podem ser comerciantes, vizinhos, elementos das associações ou voluntários. Na realidade, são pessoas que diariamente podem conviver com essa população com mais de 65 anos e que em caso de notarem uma ausência prolongada tentam perceber se aconteceu alguma coisa a esse cidadão ao mesmo tempo que comunicam essa situação aos serviços da câmara ou à Santa Casa. É aqui que se insere o lema do projeto: "Falar. Escutar. Cuidar."

"Melhorar a qualidade de vida das pessoa mais velhas"

"Conhecemos hoje melhor a realidade de mais freguesias. Conhecemos também hoje melhor as necessidades destas pessoas. A partir daqui não temos desculpas para falhar", frisou o provedor da Santa Casa da Misericórdia na apresentação dos dados recolhidos no projeto-piloto.

"Este é provavelmente o programa mais ambicioso e que pode ter um caráter mais transformador na qualidade de vida das pessoas mais velhas", acrescentou Edmundo Martinho

A análise do trabalho efetuado pelas equipas da Santa Casa mostrou que nas três freguesias do projeto-piloto vivem 2896 mulheres com mais de 65 anos sozinhas (64% do total de 4547 pessoas recenseadas). Quanto às idades, a grande maioria, 77%, tem entre 65 e 84 anos. O levantamento efetuado permitiu ainda aos serviços da Santa Casa perceberem que a grande maioria das pessoas com mais de 65 anos que encontraram tinham apoio social seja por parte de familiares ou vizinhos. "É um bom sinal", salientou o provedor.

Perante os dados recolhidos, Edmundo Martinho alertou para o facto de que agora cabe às instituições envolvidas no projeto "encontrar soluções para cada uma destas pessoas para que possam fazer parte ativa da comunidade e melhorar a vida das pessoas mais velhas".

"Trabalho único"

Elogios ao trabalho desenvolvido também não foram regateados o presidente da Câmara de Lisboa. Fernando Medina sublinhou ser este "um programa único. Não é um inquérito, nem um estudo, na prática é um recenseamento dos casos de pessoas com necessidades, carências, na cidade".

Destacando não ter conhecimento "de que alguma vez se tenha feito um trabalho desta natureza nas políticas públicas", o autarca lembrou que este projeto faz parte de um outro intitulado "Lisboa, cidade para todas as idades", também com a participação da Santa Casa, e que o passo seguinte é "trabalhar para que podermos trabalhar a resposta que cada caso, cada situação de cada cidadão necessita".

Medina destacou o facto de Lisboa ter hoje "uma rede social criada/formada por instituições com um trabalho notável".

Tudo isto inserido numa cidade que quer a "integração das pessoas na vida da cidade" tendo, com esse objetivo, programas de índole "humanista e de respeito pela autonomia de cada um", tendo ainda destacado uma outra aposta da autarquia: "Casa aberta, onde realizamos pequenas obras que possibilitam a uma pessoa ter uma vida autónoma na sua casa."

Próximas freguesias

A cerimónia da tarde desta quarta-feira serviu para, além da apresentação dos dados recolhidos nas três freguesias do projeto-piloto, assinar os contratos com as dez juntas que vão agora integrarem o "Projeto Radar", que terá trabalho no terreno entre este mês e novembro. São elas: Estrela, Santa Clara, Marvila, Parque das Nações, Alcântara, Arroios, Alvalade, Beato, São Vicente e São Domingos de Benfica.

Integram este programa, além da câmara e da Santa Casa, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, PSP, Segurança Social e a rede social da capital.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt