CDU tem hoje 19 câmaras, mas quer ganhar novas e recuperar Loures
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, assumiu este domingo que o partido vai disputar novas autarquias nas eleições de 2025, incluindo Loures, recusando concentrar todas as forças na manutenção das atuais 19 presidências de câmara da CDU.
"Com os pés no chão, mas muito confiantes para a batalha, arrisco-me a dizer que nós vamos disputar novas presidências de câmara. Estas 19, vamos fazer tudo por tudo para as continuar e reforçar. Vamos ver o que é que acontece. Não vamos concentrar as nossas forças todas nessas 19. Nós vamos disputar novas autarquias", afirmou Paulo Raimundo.
Em 11 das atuais 19 câmaras governadas pela CDU, incluindo Évora, os presidentes atingem o limite de três mandatos consecutivos em que podem candidatar-se.
Em entrevista à agência Lusa antes do XXII Congresso do PCP, que se realiza em Almada entre 13 e 15 de dezembro, o líder comunista assume que Loures é uma das câmaras que querem reconquistar, depois de a terem perdido para o PS em 2017.
"É uma autarquia onde nós tivemos grandes responsabilidades, com um trabalho extraordinário, exemplar. E, claro, só podemos olhar para ela com o objetivo de voltar a reconquistá-la", sustentou.
As disputas serão sempre no âmbito da CDU, vinca o secretário-geral dos comunistas, reiterando que em Lisboa a porta está definitivamente fechada ao PS, com a candidatura protagonizada novamente por João Ferreira.
"Então nós temos um dos melhores candidatos que alguma força política podia ter para presidente da câmara? Agora, se alguém quisesse juntar a nossa candidatura, é bem-vindo", desafiou.
Nas eleições de setembro de 2021, a CDU confirmou a sua tendência decrescente em eleições autárquicas: depois de ter obtido o seu pior resultado de sempre em 2017 -- com a perda de 10 câmaras municipais, passando a ter 24 --, perdeu outras 5, ficando com a presidência de 19 municípios e largando a mão de bastiões que lhe pertenciam desde 1976, como Mora, Montemor-o-Novo (distrito de Évora) e Moita (Setúbal).
Em Lisboa, contudo, a lista à Câmara encabeçada por João Ferreira obteve 10,51%, com 25.520 votos, elegendo dois vereadores, o que significou um aumento face a 2017, quando com a conquista dos mesmos dois vereadores tinha sido com 9,55% e 24.110 votos, de acordo com dados da secretaria-geral do Ministério da Administração Interna.
Paulo Raimundo enfatizou que nas autárquicas estão em causa "308 batalhas", só considerando o número de presidências de câmara, e que são eleições particulares, com "308 características diferentes em cada uma delas".
"Isso dá-nos confiança, não nos dá medo, dá-nos confiança", assegura.
Segundo o líder dos comunistas, "pode haver tendências nacionais e gerais e há, aconteceu isso nas últimas, mas depois há particularidades de cada sítio".
"Leva-nos, por exemplo, a eleger vereadores em concelhos onde as circunstâncias à partida não permitiriam que isso acontecesse e leva-nos a perder autarquias onde à partida as circunstâncias também não pensariam que isso acontecesse", afirmou.
Sobre Setúbal, uma das duas capitais de distrito que governam, a par de Évora, Paulo Raimundo não quis responder se a candidatura da ex-CDU Maria das Dores Meira como independente vai dividir o eleitorado: "Vamos ver como é que o eleitorado vai partir".
PCP "não fez tudo bem" nas eleições que disputou no último ano
O secretário-geral do PCP afirmou ainda que o partido não fez "tudo ao seu alcance" para diminuir "perceções erradas" que existem sobre os seus posicionamentos a nível internacional e prometeu procurar encontrar novas formulações para as mitigar.
Em entrevista à agência Lusa a propósito do XXII Congresso do PCP, que se realiza entre 13 e 15 de dezembro em Almada, Paulo Raimundo disse também que o partido "não enfia a cabeça na areia" e reconhece que "não fez tudo bem" nas eleições que disputou no último ano, em que, com exceção das regionais na Madeira de setembro de 2023 e das dos Açores de fevereiro de 2024, o PCP perdeu sempre eleitores.
No entanto, o dirigente comunista considerou que também "seria injusto atribuir apenas ao PCP a responsabilidade" pelos resultados eleitorais, perguntando o que é mudou na postura do partido que explique que tenha conseguido aumentar o seu eleitorado na Madeira e nos Açores, mas não o tenha feito nas legislativas e nas europeias.
"Foi por causa dos candidatos? Acho que não, acho que os nossos candidatos ao Parlamento Europeu e à Assembleia da República (...) não ficam atrás de nenhum dos outros partidos desse ponto de vista. É por causa do nosso projeto? Ou é a perceção?", perguntou, considerando que "há aspetos de perceção sobre o PCP que não ajudam".
"Generalizou-se a ideia de que o PCP é pela guerra e apoiante do Putin"
"E também é justo sublinhar que talvez nós não tenhamos feito tudo ao nosso alcance para diminuir essa perceção que eu acho que é errada sobre o PCP", admitiu, frisando que o partido precisa de "encontrar as formulações e as formas de não contribuir para aumentar essa perceção errada".
Instado a esclarecer quais são essas perceções, Raimundo salientou que, por exemplo, "generalizou-se a ideia de que o PCP é pela guerra e, como se não bastasse isso, ainda é apoiante do Putin e outras abstrusidades desse tipo".
"Isso é uma perceção que não tem nenhuma razão de ser, pelo contrário. Aliás, se há partido que é pela paz, desde sempre, é o PCP", afirmou, garantindo que o partido vai fazer "tudo o que estiver ao seu alcance para não alimentar essa perceção errada".
"Às vezes são pequenas coisas e temos de fazer melhor, não tenho dúvida", afirmou, reconhecendo também que "há desafios novos aos quais é preciso dar respostas novas", o que o PCP ainda não conseguiu fazer.
"Mas eu acho que não se devia menosprezar a dimensão da ofensiva" de que o PCP é alvo, disse.
Sobre a posição do PCP relativamente à guerra na Ucrânia, Raimundo foi questionado se considera que a paz deve passar pela perda de território ucraniano para além da Crimeia, respondendo que "a paz só de pode fazer juntando à mesa aqueles que intervêm na guerra".
"À cabeça: a Rússia, os Estados Unidos, a NATO, a União Europeia e a Ucrânia", disse, afirmando que não sabe qual deve ser o conteúdo de uma "solução política" para esse conflito.
"A única coisa que sei é que é a única solução que se impõe e já devia ter sido. Porque nós podemos chegar a uma situação em que (...) depois de milhares e milhares de mortos e de feridos, de regiões totalmente destruídas, a solução que se encontra é aquela que se poderia ter encontrado sem um único tiro dado neste conflito. Isso é que seria ter desperdiçado meios, recursos e, acima de tudo, vidas humanas", disse.
Interrogado se acha que a eleição de Donald Trump - que prometeu acabar com o conflito em 24 horas - pode ser benéfica para o fim da guerra, Paulo Raimundo respondeu: "Acho que a eleição de Trump não é benéfica para nada".
"E acho que nos deve fazer pensar a todos, porque ele é eleito a partir do quê? Do discurso fácil, da mentira, de um projeto profundamente reacionário. Mas isso só ganha força porquê? Porque há um conjunto de problemas do ponto de vista social e económico que não tiveram resposta e ganham respaldo naquele discurso. E isso é um aviso", disse.
Comité Central vai ser mais pequeno, ter mais mulheres e jovens
Outra ideia sinalizada pelo secretário-geral é que o Comité Central do PCP que sair do no próximo congresso deve ser mais pequeno e ter mais mulheres e jovens.
Em todo o caso, Raimundo admitiu que não será ainda atingida a desejada taxa de representatividade de mulheres nesta próxima eleição para o comité.
Paulo Raimundo confirmou que a composição do próximo Comité Central do PCP vai corresponder aos critérios que estão definidos nas Teses/Projeto de Resolução Política divulgada em setembro, e atualmente em discussão entre as bases do partido: uma direção mais pequena, com mais jovens e mais mulheres.
"Vai ser tudo confirmado. Não consigo antecipar as conclusões nem muito menos a composição do Comité Central, mas posso-vos garantir que estamos a trabalhar para que os critérios que definimos para a composição do Comité Central sejam concretizados", afirmou o líder comunista.
O secretário-geral do PCP frisou que, atualmente, o Comité Central é composto por 149 membros e prevê-se uma "redução ligeira" desse número, com vista sobretudo a agilizar o funcionamento do órgão e tornar as suas reuniões mais operacionais.
"Costumam ser dois dias de reuniões, com dois pontos de trabalho. Se cada membro fizer uma intervenção de sete minutos, em média, percebe-se o que se está a falar. Portanto, a questão é reduzir ligeiramente para permitir um melhor funcionamento do órgão, mas sem pôr em causa aquilo que queremos, que é um órgão amplo", disse.
Mulheres só representam um terço da direção do partido
A próxima direção comunista também deverá ter "mais mulheres e mais jovens", afirmou o secretário-geral do PCP, que reconheceu contudo que, em termos da representatividade das mulheres nos órgãos de direção, o partido ainda não vai conseguir atingir a taxa que deseja.
Paulo Raimundo referiu que, atualmente, cerca de 33% dos militantes do partido são mulheres e afirmou que o PCP se está a esforçar para que, "no mínimo, essa percentagem tenha uma expressão a todos os níveis da vida do partido, inclusive no Comité Central".
Vamos fazer "uma alteração que procura corresponder a esse objetivo, mas julgo que ainda não estamos em condições de dizer, com toda a segurança, que se vai inverter. Isso não vai ser possível concretizar ainda, mas temos esse esforço", afirmou.
Sobre o facto de, nas Teses/Projeto de Resolução Política, se identificar que o partido perdeu cerca de dois mil militantes nos últimos quatro anos, Raimundo disse não encarar os números "como uma situação assustadora", salientando que se devem ao facto de ter havido cinco mil saídas, "a larga maioria das quais por questões de falecimentos", e destacando que, no mesmo período, o partido conseguiu recrutar 3.500 novos militantes, "uma parte substancial deles jovens".
Paulo Raimundo disse ainda ver sinais positivos a nível da responsabilização dos militantes do partido - uma das tarefas que tem definido como prioritárias -, anunciando que o objetivo fixado pelo PCP em 2022 de chegar até ao Congresso deste ano com mil novos quadros responsabilizados vai ser "cumprido e até superado".
Questionado se não teme que essa dinâmica - militantes mais velhos do PCP a falecerem e menos jovens a filiarem-se - também se pode refletir nas urnas, Paulo Raimundo disse que, com 48 anos, já ouviu muitas vezes "a afirmação de que é para o ano seguinte" que o seu partido vai desaparecer, e recusou a ideia de que o partido esteja com dificuldade em rejuvenescer-se.
"Desafio outros partidos a, nas suas direções centrais e intermédias, ter o mesmo número de jovens que o PCP tem. É um desafio que fica", disse, reiterando que o número de recrutamentos do partido entre as camadas mais jovens "está a crescer".
"Algumas pessoas saíram porque queriam um partido diferente, outras foram arrastadas, outras por questões pessoais e não tanto políticas"
O secretário-geral do PCP reiterou hoje o apelo para que os chamados renovadores regressem ao partido, considerando que perante a situação em que o país está "todos são bem-vindos", independentemente das opções que tomaram no passado.
Nesta entrevista à Lusa, Paulo Raimundo considera que esse apelo feito há dois anos contribuiu para "movimentos interessantes de gente a reaproximar-se", a envolver-se de forma organizada, "como independentes, como apoiantes", sobretudo no quadro da CDU nas eleições legislativas e europeias.
"Alguns deles vieram ao partido, outros não, mas penso que foi um contributo", afirmou.
Sobre o regresso dos chamados renovadores, sublinhou que o que disse quando foi eleito secretário-geral pelo Comité Central, altura em que o partido organizou uma conferência nacional, foi que "perante o que se antevia" e que considera estar "à vista", era que todos os que viessem para o combate "eram bem-vindos".
"Independentemente das opções que tomaram há 10 anos, 15 anos, na semana passada. Todos aqueles que viessem para este combate eram bem-vindos. Fiz esse apelo, renovei-o entretanto, renovo-o aqui hoje. Aproveito a oportunidade. Aliás, hoje se calhar até de forma mais viva, porque hoje é mais evidente para essa gente toda o que é que nós dizíamos há dois anos que se estava a trilhar", sustentou.
Paulo Raimundo, que viveu a discussão interna que opôs ortodoxos e renovadores e a considera "uma escola de formação política, ideológica, de combate", recusou, contudo, o termo renovador e faz questão de apontar que "houve razões muito diferenciadas pelas quais alguma gente saiu do partido".
"Umas por opções de fundo, porque queriam um partido diferente, uma opção. Outras porque foram arrastadas nesse processo. Outras até por questões, às vezes, que surgiram em debates mais acalorados que, de um momento para o outro, passaram a ser questões a roçar as questões pessoais e não tanto só políticas", ilustrou.
"Não dá para classificar de uma forma a opção porque é que o A, B ou C saiu nessa terminologia de renovador ou não renovador. Porque aqui queremos todos andar para a frente", acrescentou.
A crise interna que se acentuou nas vésperas do Congresso de 2000 opôs os que defendiam a abertura do partido e novos métodos de funcionamento e aqueles, que ficaram conhecidos como ortodoxos, que defendiam a manutenção do centralismo democrático e da matriz marxista-leninista.
Nesse debate interno, com momentos dramáticos, foram instaurados processos disciplinares a alguns dos rostos mais conhecidos do movimento pela renovação do PCP, como Edgar Correia e João Amaral, já falecidos.
Em dois anos que disse terem passado "muito rápido", depois de ter sido eleito líder dos comunistas, Paulo Raimundo diz-se mais à vontade no papel de líder, sente que os portugueses o conhecem melhor, embora ainda reconheça que esse trabalho de se dar a conhecer tem de continuar.
O primeiro secretário-geral a gozar licença de paternidade
Pela primeira vez, um secretário-geral do PCP em funções gozou de uma licença de paternidade, neste caso pelo nascimento recente do seu quarto filho, algo que diz ter feito sempre com os anteriores três, mas que, com as funções que atualmente desempenha, também serve para dar um sinal.
"Não foi para dar o exemplo, foi uma coisa que já fiz, como disse, nas três vezes anteriores, mas faço com muito gosto e acho que é um sinal também importante que nós também temos que dar", afirmou.
"Há muitos pais, mães e pais, que têm muita vontade de usar esse direito e, como disse, não é possível, por razões várias, mas acho que é preciso darmos sinais também nesse sentido", acrescentou.