Afinal, o direito à greve nas forças de segurança até pode vir a ser discutido porque, diz Margarida Blasco, ministra da Administração Interna, “numa negociação não posso dizer que há temas que não se podem abordar”..Porém, no comunicado de 3 de novembro, “a posição do Governo é clara: nesse diálogo pode ser discutida a representação laboral e os direitos sindicais. Mas não o direito à greve”..Esta segunda-feira, Margarida Blasco em resposta à evocação que o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, fez da posição que a ministra defendeu a 3 de novembro - quando afirmou que o direito à greve na PSP “é um ponto que pode estar e estará, com certeza, em cima da mesa” das negociações com os sindicatos, para logo depois, no mesmo dia ter emitido um comunicado a esclarecer a sua posição inicial - assegurou que não foi “desmentida nem desautorizada”..Ainda que, como justificou esta segunda-feira a ministra, tivesse sido um problema de clareza, a escolha das palavras induziu dúvidas sobre o que pretendia e levou os partidos da oposição a destacar a posição de fragilidade de Margarida Blasco..“Não fui clara. Por isso, fiz o comunicado”, sublinhou esta segunda-feira a governante, referindo-se ao esclarecimento de dia 3 de novembro. Nesse dia, Margarida Blasco dissera: “Vamos começar no dia 6 de janeiro um conjunto de revisões e é um ponto que pode estar e estará, com certeza, em cima da mesa. Neste momento, não vou dizer se sim ou se não, porque vai ter de ser submetido a um estudo.”.Mais tarde, já depois do comunicado a esclarecer as palavras iniciais de Margarida Blasco, fonte próxima da ministra explicara ao DN que a governante “pretendia apenas, tendo em conta a boa relação que estabeleceu com os maiores sindicatos da PSP e associações da GNR que assinaram o acordo para o aumento do suplemento de risco, entre as quais a ASPP [Associação Sindical dos Profissionais da Polícia], manter o clima de confiança que se tinha gerado até ao início nas negociações para a revisão dos estatutos”, previstas para dia 6 de janeiro de 2025..Para além disto, foi também garantido ao DN que “a reivindicação da greve é antiga e é normalmente usada em negociações como moeda de troca para os polícias conseguirem outras compensações”. Foi, por isso, com “muita surpresa”, sublinhara a mesma fonte, “que [a ministra] se viu obrigada superiormente a fazer um esclarecimento”..No entanto, a mesma fonte também deixara claro que “qualquer decisão política, principalmente deste tipo, deve ser tomada com base no conhecimento e não com preconceitos ideológicos”..Esta segunda-feira, na peregrinação da ministra na tentativa de deixar claro o que quis dizer antes, acabou por responder à líder parlamentar da IL, Mariana Leitão: “No entanto, sempre defendi o diálogo e, numa negociação, não posso dizer que há temas que não se podem abordar. Percebi depois, pelo eco das minhas declarações, que não fui suficientemente clara e foi por isso que decidi emitir o esclarecimento”..Se a posição da ministra está muito esclarecida no que diz respeito à abertura ao diálogo, já a sua posição perante as linhas vermelhas do executivo liderado por Luís Montenegro colidem, considerando o que afirmou esta segunda-feira no Parlamento: “Todos os sindicatos sabem que essa pretensão [da greve], além de discutível constitucionalidade, não está no programa do Governo e nunca seria aceite pelo Governo”..Questionada por Mariana Leitão sobre qual é a sua posição, Margarida Blasco rematou: “Face àquilo que eu acabei de dizer, não tenho nada mais a acrescentar”.