Uma biografia de D. Fernando que foge do rei como artista
"D. Fernando II tem sido estudado como artista ou mecenas ou o construtor do Palácio da Pena", começa por dizer Maria Antónia Lopes, autora da biografia D. Fernando II, um Rei Avesso à Política, que a editora Temas e Debates agora publica. "A minha biografia tem outra abordagem, mais íntima", continua. "A partir de documentação inédita, a que ninguém tocou, que está nos arquivos Saxe-Coburgo na Alemanha".
O apelido Saxe-Coburgo aparenta-o com quase todas as casas reais da Europa, de uma maneira ou de outra. Maria Antónia Lopes fala da mais evidente: "Era primo direito da rainha Vitória e do marido, Alberto, pois eles também eram primos direitos". "Valorizei aspetos da vida privada dele e o facto de se inserir numa rede familiar extraordinária", diz a historiadora ao DN.
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"De Alberto não gostava muito", conta, recorrendo a que leu nas cartas. "Era um obcecado pela política", diz a historiadora explicando as razões da falta de empatia. "Da rainha Vitória gostava mais", continua. Estão juntos pouco antes de D. Fernando II vir para Portugal para se casar com D. Maria II, pois o futuro rei consorte passou por Londres. "Ela ficou encantada com ele".
Mas mesmo tentando afastar-se da caracterização do rei como artista, há algo que fica claro logo no título da obra: "Era avesso à política". O que o levou a recusar ocupar o trono de Espanha e da Grécia.
A historiadora, professora na Universidade de Coimbra, explica que um dos desafios foi a leitura da correspondência em alemão. "A letra muda no alemão. Ele escreve de maneira diferente em português, francês ou alemão. E com o filho, D. Pedro também". O hábito de comunicar em alemão chegou com D. Fernando e explica por que razão até D. Carlos, seu neto, o dominava.