Para onde foi a imaginação dos blockbusters de verão?

No tradicional panorama de filmes de verão, O Dia da Independência: Nova Ameaça aposta em retomar os elementos de um sucesso com 20 anos - resultados sem imaginação
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Será que ainda há alguma réstia de imaginação nos blockbusters" de verão? Convenhamos que perante a calamitosa mediocridade de O Dia da Independência: Nova Ameaça (estreia-se hoje) a resposta só pode ser negativa. Dir-se-ia que já não há sequer o gosto de criar personagens que deem alguma hipótese criativa a um respeitável leque de atores (Jeff Goldblum, Bill Pullman, Sela Ward, Judd Hirsch, Charlotte Gainsbourg, etc.). Tudo se passa como se o filme tivesse sido entregue ao departamento de efeitos especiais, de tal modo parece haver mesmo quem acredite que a destruição digital de uma grande cidade em dez segundos constitui um automático clímax dramático...

Não é simples abordar estas questões, até porque existe o preconceito fortíssimo segundo a qual a crítica menospreza, por princípio, os blockbusters. Qual crítica? A mesma que, em 1975, quando a idade dos blockbusters começou com o admirável Tubarão, de Steven Spielberg, era insultada na praça pública por se interessar pelas manifestações do "imperialismo americano"?

A banalidade digital

Mesmo não esquecendo que, ao longo das décadas, tem havido filmes admiráveis que partem dos pressupostos artísticos e comerciais que definem os chamados blockbusters de verão, O Dia da Independência: Nova Ameaça ilustra a trágica degradação de todo um conceito de espetáculo, a começar pela noção de sequela.

Estamos, assim, perante a continuação de Dia da Independência (1996), também produzido e realizado por Roland Emmerich. Nesse caso, tratava-se de encenar uma invasão de aliens que punha em causa a sobrevivência do planeta Terra - os resultados eram visualmente exuberantes, distinguindo-se por uma mistura de dramatismo e humor que, apesar dos grandiosos meios de produção, fazia lembrar o espírito dos pequenos filmes de série B dos anos 1950. Agora, o esquematismo das situações parece decorrer apenas da preocupação de criar "números" de espetáculo que se bastam a si próprios, nunca conseguindo superar a estética (?) repetitiva do mais banal jogo de vídeo.

Um dos aspetos mais desconcertantes de produções deste género é a incapacidade para fazer valer os próprios recursos técnicos que têm ao seu dispor (165 milhões de dólares de orçamento). O digital passou a ser uma solução, simplista e preguiçosa, para fabricar pequenos "eventos" visuais totalmente estranhos à presença física dos atores - em muitas cenas, temos mesmo a sensação de que os atores são apenas filmados em planos aproximados, de modo que as suas imagens possam ser "alternadas" com as constantes destruições de cenários digitais, através de uma aplicação banal do 3D.

Bem sabemos que, desde os tempos gloriosos de E Tudo o Vento Levou (1939) até ao requinte de títulos como Missão Impossível: Nação Secreta (2015), o grande espetáculo é indissociável de vistosos aparatos técnicos e cenográficos. Não é isso que está em causa. O que se discute é a redução do espetáculo, precisamente, a uma colagem de explosões e ruídos que talvez dessem para sustentar um spot publicitário de breves segundos... Este é, aliás, um daqueles filmes que parecem estar todos "explicados" no respetivo trailer.

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