"O que prevalece são vozes originais"
Acredita que o discurso de Michelle Wolf na Gala dos Correspondentes teria sido aceite de forma diferente se ela fosse um homem?
Os homens e as mulheres são julgados de forma diferente. A misoginia é tão prevalecente que penso ser possível e provável que parte das críticas que lhe fizeram foram por causa de ser mulher. Também acho interessante que as primeiras críticas tenham vindo de outras mulheres, jornalistas, o que foi confuso. Em especial porque basearam a reação em informações erradas, a ideia de que Michelle estava a atacar o aspeto físico de Sarah Sanders.
As comediantes são vistas como um risco para as empresas, enquanto os homens que falham não carregam esse fardo. Isso está a mudar?
É difícil para mim falar pela indústria. Tento lembrar às pessoas com quem trabalho e colaboro que somos um negócio de falhanços. Desenvolvermos muitas coisas e poucas têm sucesso; êxitos são as aberrações. Temos de ficar mais confortáveis com o falhanço, porque é geralmente daí que nasce o sucesso e que podemos aprender.
O escândalo Weinstein trouxe alguma coisa de diferente?
Isto tornou-se tão explosivo que é preciso ser idiota nesta indústria e não pensar nisto. O que sinto é que, mesmo com danos colaterais, nada pode equiparar-se ao bem maior. A mudança será sempre complicada.
A indústria está a perceber que investir em mulheres é bom para o negócio?
Em especial quando se trata de uma área pouca explorada, por isso, as pessoas que lá chegarem primeiro vão tomar a dianteira. O que prevalece neste negócio são vozes frescas, originais e autênticas. Se andarem a reciclar vozes antigas, é pouco provável que prevaleçam. Do ponto de vista puramente estratégico, se estivermos abertos a novas vozes, de qualquer tipo de diversidade, mulheres ou outras - claro que é preciso encontrar talento que expresse essa visão -, mas há oportunidade para haver mais vozes novas.