O próximo diretor da Feira do Livro de Bogotá é português

Pedro Rapoula tem 38 anos, foi assessor cultural de Cavaco Silva, e será o próximo a dirigir um dos grandes eventos mundiais da literatura

Desde a última sexta-feira que Pedro Rapoula sabe que foi escolhido como o próximo diretor da FILBo (Feira Internacional do Livro de Bogotá). Atende o telefone de Bogotá, para onde se mudou em 2013, abandonando para isso o cargo de assessor cultural do ex-Presidente Aníbal Cavaco Silva, que exerceu durante sete anos.

Chegou à capital colombiana como conselheiro cultural da embaixada portuguesa no ano em que Portugal foi o país convidado da FILBo. E foi justamente na preparação da representação do país na feira que trabalhou durante oito meses.

Em 2015 a feira foi visitada por 520 mil pessoas

Estava, então, por ventura longe de imaginar que, dali a três anos, e depois de um "processo de recrutamento normal, com várias fases, entrevistas, testes psicotécnicos, mais entrevistas, testes gestão cultural, de recursos humanos, e alguma coisa de cultura geral", seria o primeiro português escolhido como diretor da feira que, no ano passado, foi visitada por 520 mil pessoas e registou cerca de 1500 eventos.

2017: o ano de Rapoula e dos 30 anos da FILBo

Quanto ao ano de estreia de Rapoula, 2017 não será uma data qualquer. A FILBo, organizada pela Câmara Colombiana do Livro, comemorará aí o seu 30.º aniversário e terá a França como país convidado. "Vai ser um desafio enorme, porque é um país com uma riqueza literária impressionante", diz ao DN.

Pedro Rapoula, hoje com 38 anos, só tomará posse depois da edição da feira de 2016, que decorre entre 19 de abril e 2 de maio no Centro Internacional de Negócios e Exposições - Corferias Bogotá.

Antes disso, começará na próxima semana a acompanhar a equipa atualmente em funções e que prepara a feira que este ano terá como país convidado a Holanda. "Este é um período de estudar a feira. Não posso começar a projetar o futuro sem conhecer o passado. A minha ideia agora é estudar, acima de tudo."

Recorda que "os últimos cinco anos foram anos de renascimento da feira, porque com todo o conflito armado [entre as forças governamentais e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)] e asquestões de insegurança no país, a feira acabou por esmorecer um bocadinho." Este ano, lembra ainda, "está prevista a assinatura do processo de paz."

O percurso do futuro diretor

Como diretor da feira, Rapoula, natural de Leiria, ficará também responsável pela "organização da presença colombiana nas feiras internacionais: Frankfurt, Guadalajara, Bolonha..." Serão os passos futuros de quem estudou Relações Internacionais na Faculdade de Economia de Coimbra e, depois de um estágio na UNESCO, em Lisboa, trabalhou em marketing, relações institucionais e imagem no grupo Santander Totta.

Foi em 2006 que, estava Rapoula a trabalhar numa agência de comunicação, Cavaco Silva, então Presidente, o convidou a trabalhar como seu assessor cultural, cargo que deixou sete anos depois, ao mudar-se para Bogotá "por razões pessoais". Foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique por Cavaco Silva.

Depois do tempo em que trabalhou como conselheiro na embaixada portuguesa em Bogotá, Pedro Rapoula mudou-se para o gabinete de Relações Internacionais do Instituto Distrital das Artes de Bogotá (IDARTES). Ao ser pai, tornou à embaixada.

Este ano a feira conta com a presença de seis escritores portugueses

É um dos grandes dinamizadores da literatura portuguesa em Bogotá, a par do luso-colombiano Jerónimo Pizarro, professor da Universidade dos Andes, titular da Cátedra de Estudos Portugueses "Fernando Pessoa", e comissário da presença portuguesa na feira em 2013, com quem trabalha de forma estreita.

"Temos aproveitado festivais literários que existem na Colômbia para trazer escritores portugueses. Este ano já estiveram cá quatro em janeiro: Nuno Júdice, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz e a Filipa Leal. Agora para a feira [FILBo] vêm mais seis: João de Melo, Francisco José Viegas, Valter Hugo Mãe, Dulce Maria Cardoso, Isabela Figueiredo e o [José Eduardo] Agualusa."

Quanto à crescente popularidade da literatura portuguesa na Colômbia, vê-a como resultado não só da qualidade desta, como da presença portuguesa na própria FILBo - "o sucesso da feira é precisamente a diversidade de autores que consegue reunir" -, a par do cada vez maior número de pessoas a aprenderem a língua portuguesa.

Curiosamente, conta, os finalistas do concurso para diretor da FILBo eram todos eles estrangeiros: "Um do Canadá, outro da Holanda, e eu." Este ano passarão pela feira que em breve Rapoula dirigirá nomes como Svetlana Aleksiévich, prémio Nobel da Literatura 2015, Jody Williams, Nobel da Paz 1997, ou os editores da misteriosa autora italiana - cuja identidade permanece desconhecida - Elena Ferrante, Sandro e Sandra Ferri.

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