Morreu o escritor norte-americano Philip Roth

O autor de livros como "Pastoral Americana" ou "A Conspiração contra a América" tinha 85 anos. Era um dos eternos favoritos ao Nobel, que nunca ganhou
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O escritor norte-americano Philip Roth morreu esta terça-feira, aos 85 anos. Visto como um dos grandes cronistas da América do século XX, a obra de Roth refletiu sempre sobre a sua identidade judaico-americana, desde o seu livro de estreia, Adeus, Columbus, em 1959. Ao longo da carreira, venceu o Pulitzer, o National Book Award nos EUA e o Man Booker International.

Roth morreu de insuficiência cardíaca, em Nova Iorque, segundo o seu agente literário, Andrew Wilie, citado pela agência Associated Press. O seu biógrafo Blake Bailey disse que Roth morreu na noite de terça-feira (madrugada de quarta em Portugal), rodeado de amigos.

Natural de Newark, Nova Jérsia, o premiado romancista, habitualmente mencionado como candidato ao Nobel da Literatura, escreveu cerca de três dezenas de livros. O Complexo de Portnoy e Pastoral Americana são dois dos mais populares e valeram-lhe várias distinções.

Roth foi premiado com dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle e, em 1998, com o Pulitzer, exatamente por "Pastoral Americana". Foi ainda galardoado com o Prémio Internacional Man Booker em 2011 e, um ano depois, venceu o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura.

Em 2012, quanto tinha 79 anos, e depois de publicar Nemesis, anunciou que não voltaria a escrever um livro. "Não penso que um livro a mais ou a menos mudará o que quer que seja naquilo que já fiz. E se eu escrever um novo livro será, muito provavelmente, um livro falhado. Quem é que precisa de ler mais um livro medíocre?", disse então em entrevista à revista francesa Les Inrockuptibles.

"Durante mais de 50 anos, os livros de Philip Roth estimularam, provocaram e divertiram um publico imenso, que continua a aumentar", afirmou Rick Gekoski, presidente do júri do Prémio Internacional Booker de 2011, durante o anúncio do vencedor. "A sua imaginação não só refundou a nossa ideia de identidade judaica, como reanimou a ficção, não apenas norte-americana, mas em geral", acrescentou.

Com a A Conspiração contra a América recebeu em 2005 o prémio da Sociedade de Historiadores Americanos pelo "excecional romance histórico sobre um tema americano, relativo a 2003-2004".

Philip Milton Roth nasceu a 19 de março de 1933, na cidade de Newark, no estado da Nova Jérsia, filho de um mediador de seguros de origem austro-húngara - a sua herança judaica estará sempre presente na sua obra, com personagens principais que muitos chamam de alter egos (sobretudo Nathan Zuckerman), algo de que o próprio nunca gostou. Apesar de relatar a experiência judaica na América, Roth também sempre recusou essa etiqueta, insistindo que era ateu: "Sou americano", disse ao Guardian numa entrevista em 2015.

O seu primeiro livro, a coletânea de contos Adeus, Columbus, foi publicado 1959, numa altura em que trabalhava como crítico de cinema na New Republic, e valeu-lhe oNational Book Award. O Complexo de Portnoy, dez anos depois, estabeleceu-o como uma das vozes irreverentes da literatura americana, devido às cruas descrições sexuais, que fizeram com que fosse banido na Austrália.

Três livros publicados nos anos 90 garantiram o seu lugar no panteão dos escritores norte-americanos: Pastoral Americana, Casei com um Comunista e A Mancha Humana.

Como a biógrafa Claudia Roth Pierpont escreveu na New Yorker, revista onde Roth publicou o seu primeiro conto em 1958, os grandes temas de Roth foram sempre "a família judaica, sexo, os ideais americanos, a traição dos ideais americanos, o fanatismo político, a identidade pessoal" e "o corpo humano (geralmente masculino) na sua força, fragilidade e frequentemente na sua necessidade ridícula".

Feministas, judeus e uma das ex-mulheres atacaram-no em público, por vezes pessoalmente. As críticas apontavam como as mulheres, nos seus romances, eram amiúde pouco mais do que objetos de desejo e raiva, tendo mesmo sido acusado de misoginia. A relação com a comunidade judaica foi também turbulenta. Uma das críticas que recebeu após o lançamento de "O Complexo e Portnoy" referia que aquele era o livro "pelo qual todos os antissemitas estavam a rezar".

Grande parte da obra de Philip Roth está editada e disponível em Portugal.

Com Lusa

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