Vereadora diz que novo plano de teatros visa diversificar oferta cultural em Lisboa
"Este novo projeto passa, em primeiro lugar, pelo resgate de um espaço, que sempre foi um espaço teatral icónico da cidade, com uma grande relevância na vida cultural, que é o Teatro do Bairro Alto que, durante mais de 40 anos, esteve a ser utilizado pela companhia de teatro d'A Cornucópia", disse Catarina Vaz Pinto à agência Lusa.
Segundo a vereadora da Cultura, a definição do plano deveu-se também à saída inesperada do diretor artístico do Teatro Municipal Maria Matos - Mark Deputter, que transitou para a Culturgest - e visa, sobretudo, aumentar a diversidade da oferta cultural numa altura em que a cidade de Lisboa vive uma grande dinâmica, que é sentida por todos os lisboetas.
De acordo com o novo plano o Teatro Luís de Camões, em Belém, "ficará vocacionado para a programação infanto-juvenil", adiantou Catarina Vaz Pinto, enquanto o Teatro do Bairro Alto, entre o Príncipe Real e o largo do Rato, ficará direcionado para as artes performativas mais experimentais e de caráter emergente.
O Teatro do Bairro Alto vai, pois, ser cedido por arrendamento a uma entidade que apresente um projeto, a ser selecionado através de concurso.
Também o diretor artístico deste teatro será escolhido por concurso, referiu a vereadora, sublinhando que esta sala será gerida pela autarquia, tal como é atualmente o Teatro S. Luiz.
O modelo de gestão do Luís de Camões será semelhante ao do Bairro Alto, acrescentou.
Segundo a vereadora, apenas o Teatro Maria Matos será gerido por uma entidade externa.
A responsável acrescentou à Lusa que os trabalhadores do Maria Matos, que já foram informados da situação, não vão perder os postos de trabalho, já que continuam a ser funcionários da câmara, garantiu.
O que vai acontecer no Maria Matos "é semelhante ao que acontece atualmente com o Teatro Aberto, A Comuna, o Cinearte e o Teatro Taborda que, sendo teatros municipais, não são geridos pela autarquia", concluiu.
O novo plano municipal abrange onze teatros, dois dos quais -- São Luiz e Maria Matos - estão sob gestão da Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), sendo os restantes o Teatro Aberto, o Cinearte, o espaço do Teatro Meridional, o Teatro Taborda, A Comuna, o Capitólio, o Teatro Luís de Camões, o Teatro Variedades e o Teatro do Bairro Alto.
A vereadora conta que o novo modelo para estes teatros possa ser posto em prática a partir de setembro ou outubro do próximo ano, e concretizar-se até ao início de 2019, alegando que há todo um trabalho de programação que não se faz de um dia para o outro.
PCP e sindicato contra
O Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) manifestou-se surpreendido com o novo plano da autarquia para os teatros municipais, que passa pela concessão a privados do Maria Matos e do Teatro do Bairro Alto. O PCP, através do vereador Carlos Moura, diz "opor-se veementemente a esta posição", fez saber através de comunicado.
Em causa está a estratégia do executivo camarário liderado por Fernando Medina para a rede dos dez teatros municipais. Em entrevista publicada no domingo no Público, a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, revelou a intenção de avançar com a concessão a privados dos teatros Maria Matos e do Bairro Alto, após a saída de Mark Deputter para a Culturgest e o encerramento da Cornucópia, respetivamente. A abertura dos concursos de concessão está prevista para janeiro, contando a responsável tê-los concluídos em fevereiro ou março. Esta nova estratégia para a rede de teatros municipais prevê "novas vidas" para os teatros Luís de Camões (em Belém), do Bairro Alto, Maria Matos e, a médio prazo, para o Teatro Variedades, no Parque Mayer. A vereadora conta que o novo modelo possa ser posto em prática a partir de setembro, outubro, ou até em janeiro de 2019.
"Fomos surpreendidos, soubemos deste plano pela comunicação Social. Nem a administração da EGEAC, nem a vereadora [da Cultura] nos tinha transmitido essas intenções", afirmou o presidente do STML, Vítor Reis, revelando que vai pedir uma reunião às duas entidades para saber "o propósito desta decisão, o que significa, e qual a situação dos trabalhadores".
Já Carlos Moura, do PCP, rejeita a intenção anunciada pela vereadora, considerando "imprescindível ouvir a população de Lisboa, os agentes culturais e os trabalhadores da área para a definição da política cultural da cidade".
O DN tentou obter a posição de Ricardo Robles, vereador da autarquia eleito pelo Bloco de Esquerda e que viabilizou a maioria a Fernando Medina após as últimas eleições autárquicas, mas o bloquista não esteve disponível.