Summavielle, o nome que veio do País Basco francês

O novo presidente do CCB faz 60 anos em agosto, é o sócio 33 do Hot Club, descendente de franceses e judeus
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Historiador de formação, Elísio Summavielle foi diretor-geral do Património, trabalhou nos Monumentos Nacionais e nem foi o primeiro Elísio Summavielle da família a fazê-lo. O pai, arquiteto, trabalhou nos Monumentos Nacionais uma vida. Cresceu em Lisboa, mas as suas origens, e do estranho apelido que o torna inconfundível, vão até ao Minho. Do lado da mãe a história vai até à Moita, onde o avô construiu a Praça de Touros, razão de muitas críticas ao novo presidente do Centro Cultural de Belém (CCB).

É preciso recuar a 1845, quando D. Luís era rei Portugal, para encontrar registo de um Summavielle em Portugal. Pode haver mais antigas, mas Parcídio Summavielle, antigo presidente da câmara municipal de Fafe e primo direito do novo presidente do CCB, (ainda) só encontrou esta. Pertence ao processo de casamento de José Summavielle, bisavô de ambos.

É o próprio Elísio Summavielle que conta que este seu primo é o mais interessado na história familiar. Vive em Fafe, pequena cidade minhota onde os Summavielle assentaram arraiais. Ali perto, havia outros, um tio e um primo que foram ouvidos quando a Igreja abriu um processo de averiguação do estado civil de José Summavielle atestando que estava apto para casar com a jovem escolhida, uma exposta, isto é, uma jovem que foi deixada numa instituição.

Parcídio Summavielle desfia a história familiar: montaram uma hospedaria próxima do centro de Fafe, "uma casa que ainda existe" - a Hospedaria da Boa União e Suficientes cómodos de José Summavielle Francês. "Um nome muito pândego", reconhece Parcídio Summavielle, dos tempos em que a vila era "uma terra de risco ao meio". Tem duas filhas e um filho.

A alcunha que se junta ao nome dá pistas sobre a origem do apelido e levaram Parcídio a descobrir uma localidade no País Basco francês, Bilhères, "uma terrinha encravada nos Pirinéus, onde o primo de Elísio Summavielle já foi. "Consegui chegar à casa de uma senhora velhinha, já viúva, que foi casada com um Summavielle - um homem que tinha sido porta-bandeira nas hostes franceses da I Grande Guerra. Ainda troca correspondência com um neto deste homem e foi através de documentação doada por este ramo da família, relacionada com partilhas do seu pai, que descobriu que José Summavielle Francês chegou ao Minho com o nome de Donat. Sem tradução literal para o nome, optou por adotar o José.

Chega com a profissão de capador e o descendente espantou-se com o rigor das averiguações feitas pelas Igreja neste processo eclesiástico, que chegou ao arcebispo de Braga, e cujos documentos estão hoje na Biblioteca Municipal de Fafe. Só não conseguiu ainda determinar os motivos que fizeram o primeiro Summavielle chegar a Portugal. Invasões francesas não lhe parece (foram antes), ou uma época de carência que os obrigou a emigrar? Inclina-se para a segunda. "Nas invasões francesas ele era muito jovem...", explica. Outra hipótese: "terem vindo com o exército de D. Maria II, formado com gente pedida a outras casas reais, na época da Maria da Fonte".

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