Preséprio procura mecenas para investigar o seu passado

Museu Nacional de Arte Antiga lança campanha para angariar 40 mil euros para tratar de obra do escultor Barros Laborão
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O Presépio dos Marqueses de Belas está no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) desde 1937, adquirido pelo seu primeiro diretor, José de Figueiredo, a Sebastião de Carvalho Daun e Lorena, descendente do marquês de Pombal, mas ainda ninguém sabe quantas figuras se guardam dentro desta maquineta - o nome que se dá à caixa de madeira, circular, onde estão guardadas. As contas da historiadora de arte Maria João Vilhena de Carvalho apontam para "entre 130 e 150 figuras no total", mas só o processo de conservação e restauro em curso dará esta e outras respostas.

Há dias começou a retirada das figuras - 27 delas já estão em caixas, numeradas e fotografadas. O trabalho de conservação prosseguirá com o apoio dos cidadãos.

À semelhança do que aconteceu com a aquisição da pintura Adoração do s Magos, de Domingos Sequeira, o MNAA lança uma campanha - Todos Somos Mecenas - para reunir os 40 mil euros que custeiam as intervenções que vão ser levadas a cabo no presépio de Joaquim Barros Laborão, divulgou ontem o diretor do museu, António Filipe Pimentel.

É "o maior, de um particular, em Portugal", segundo Maria João Vilhena. "Foi terminado entre 1805 e 1806", calcula a historiadora de arte. A primeira observação permitiu detetar já peças datadas de 1796 da autoria do escultor Macedo, de quem se sabe, por exemplo, que trabalhou em Lisboa e se terá formado em Mafra, mas do qual não se conhece tanta obra.

Conceição Ribeiro, conservadora, alerta para outro trabalho que está a ser feito: entender os métodos de fabrico. "Há peças de vulto perfeito e outras vazadas", diz, mostrando uma imagem que se pode ver de qualquer ângulo, e logo a seguir pega numa vaca oca. O tempo destacou alguns fragmentos, que voltarão ao lugar. "O que é bom num museu é que nada se deita fora."

Com a investigação será também possível explicar (melhor) por que razão o Presépio dos Marqueses de Belas nada tem, afinal, que ver com esta família, importantes patronos do trabalho de Joaquim Barros Laborão. "Dizia-se que era dos marqueses de Belas porque eles estavam representados como forma de agradecimento", diz o historiador de arte Anísio Franco, somando-se à conversa. Defendia-se a tese de que estariam vestidos à oriental como numa festa em casa. Maria João Vilhena apoia-se na documentação de Barros Laborão e diz: "Ele fala de um mouro." Não de marqueses.

Encomendado no início do século XIX por José Joaquim de Castro, um rico comerciante e colecionador de figuras, tinha uma sala própria - a casa do presépio - no edifício pombalino onde vivia no bairro de São Mamede.

Capela aberta para restauro

Em "setembro, o mais tardar", António Filipe Pimentel espera ter reunidos os 40 mil euros do restauro. No Natal, acompanhando a época, esperam que a obra esteja no seu lugar, pronta para ser vista. A capela também. Aberta para restauro. "Até ser concluído é visitável. Será alvo de uma campanha ainda mais maciça", explica Pimentel. Por partes, como aconteceu no princípio. Para os azulejos, a talha dourada, a pintura... os cidadãos continuarão a ser os mecenas. "Pusemos em marcha um processo que não volta atrás." Quando estiver concluído o plano, António Filipe Pimentel diz que será possível visitar a galeria de têxteis, com exposições temporárias em versão longa, mobilizando a coleção e mudando as peças a cada nove meses.

Da sala dos presépios abrir-se-á uma porta com escadas e elevador ("porque um dos nossos problemas são as acessibilidades de pessoas com deficiência") e, ao fundo, fechando um elo, estará o presépio chamado dos Marqueses de Belas.

"Vai perder o aspeto de museu de arte sacra", promete o diretor. Mas terá um apontamento de ourivesaria e, entre outras, a cadeira que foi do patriarca D. Tomás de Almeida. Pelas passagens laterais vai chegar-se à Capela das Albertas, que os visitantes poderão ver exatamente como era quando o edifício era convento.

"A capela é uma estrutura estática, de talha, azulejo, etc., uma caixa dourada que era uma espécie de máquina performativa usada no quadro da dimensão litúrgica como espaço pluridisciplinar. É das regras do barroco: uma sintonia entre todos os elementos. Dos azulejos à escultura, da talha à ourivesaria, da música aos paramentos, parte importante da coleção que se pretende mostrar na galeria junto ao átrio. Deverá abrir até junho, nas contas de Pimentel.

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