O broche que um dia pertenceu à rainha D. Amélia, a última rainha de Portugal, levado a leilão em abril pela Sotheby"s, em Hong Kong, com chamativo preço de licitação de um milhão de euros ficou sem vender e há mais história para contar atrás das esmeraldas e diamantes que o compõem..A primeira é que a pregadeira já não está exatamente como era quando chegou às mãos da jovem princesa que se casou com D. Carlos, em 1889. Tinha um pendente de esmeraldas e fiadas de diamantes, como é visível na fotografia. Surge, aliás, com evidente realce na capa da Illustração onde se exibe o enxoval da futura rainha com estes mesmos elementos..[artigo:5111544]."A grandeza deste broche reside não só na sua proveniência, mas também nas três atrativas esmeraldas colombianas, que são naturais e sem tratamento de clareza, em que a pedra central pesa uns impressionantes 12,22 quilates", descrevia a leiloeira no catálogo que acompanhava o leilão de 4 de abril. As esmeraldas, realçava a leiloeira, são "de elevado grau de clareza, raramente encontrado hoje"..Foi uma oferta do padrinho de D. Amélia, o duque de Aumale, um dos homens mais ricos de França, descendente direto da família real. Após a Implantação da República, em 1910 e após a inventariação dos bens da Coroa (e dos que a ela não pertenciam), foi entregue à última rainha de Portugal..A pregadeira não era peça única. Fazia jogo com outras duas peças em esmeralda e ouro: uma tiara e um colar nas mesmas cores. Foram ofertas dos pais, Luís Filipe, conde de Paris e último rei de França, e Maria Isabel de Orleães-Montpensier..A publicação Royal Magazin, um blogue dedicado a joias reais, oferece mais detalhes sobre estas pedras preciosas oferecidas pelo Duque de Aumale. "Estas são as joias que ele herdou da mulher"..É também por ocasião do seu casamento com o então príncipe Carlos que D. Amélia, então uma princesa com 21 anos, recebe o conjunto de tiara, colar, pregadeira e brincos que provêm da família real de Espanha. Eram da sua mãe, a condessa de Paris, filha da infanta de Espanha, Luísa Fernanda. Desconhece-se o paradeiro destas peças..Um enxoval valioso.O enxoval da rainha D. Amélia continha outras peças, descritas neste site especializado em joalharia: uma pulseira de safiras circundada por diamantes, oferecida pelos condes de Caserta; um relógio de mármore e bronze, por parte do príncipe Augusto de Saxe-Coburgo; uma pregadeira com um diamante flor de lis, presente do duque e da duquesa Vladimir da Rússia; diamantes da rainha Isabel II de Espanha; uma pulseira de ouro com um diamante e duas safiras, presente da princesa de Hohenzollern-Sigmaringen, a infanta Antónia de Portugal, irmã de D. Luís e, por sua vez, tia de D. Carlos..Herdada pelo sobrinho.D. Amélia, mãe do último rei de Portugal, D. Manuel II, partiu para o exílio em Inglaterra em 1910, aquando da proclamação da República. Viveu em Inglaterra e mais tarde em França, no seu palácio, em Le Chesnay, a cerca de 17 quilómetros de Paris, onde morreu em outubro de 1951, aos 86 anos. Em 1945 efetuou uma visita a Portugal - a última..Numa fotografia de 1931 a rainha ainda aparece com a pregadeira intacta. Após a sua morte, as suas joias são herdadas pelo sobrinho, Henri, conde de Paris, que reclama o trono francês. Foi casado com Marie Therese de Württemburg entre 1957 e 1984. Casou segunda vez com Micaëla Anna María Cousiño y Quiñones de León, uma união civil que durante anos não foi reconhecida pelos defensores da causa monárquica francesa. O casamento religioso só aconteceu em 2009..Calcula-se que terá sido na posse do atual conde de Paris que a joia perdeu as fiadas de diamantes e o pendente. "Eventualmente por questões de gosto pessoal", refere o historiador Hugo Xavier, conservador do Palácio da Pena..O valor histórico da peça que a Sotheby"s levou a leilão conferia-lhe mais importância. Apesar de não estar em mãos portuguesas há décadas..A sua última proprietária conhecida é Gabriele Murdock, que a pôs à venda na Sotheby"s, em Nova Iorque, em dezembro de 1999. A multimilionária, casada com o financeiro David H. Murdock, que morreu em 1985, aos 43 anos..Antes de ser comprada por esta colecionadora norte-americana, a joia tinha pertencido a uma princesa da casa real da Jugoslávia, que a tinha vendido também à leiloeira nova-iorquina em dezembro de 1981..No leilão levado a cabo pela Sotheby"s, em Hong Kong, a peça ficou sem compradores. O Estado português ficou fora da corrida, considerando preço em causa (entre 1 e 1,3 milhões de euros). A joia, acrescente-se, não faz parte do lote de peças a que se chama Joias da Coroa, isto é, pertença da Casa Real de Portugal, de acordo com os inventários de peças dos palácios reais, levados a cabo após a implantação da República.