Colômbia encontrou galeão afundado. É de Espanha?
Mede quase 39 metros de comprimento, tinha 64 canhões, pesaria 1037 toneladas e ainda não chegou a terra seca mas o debate sobre quem tem direito sobre os destroços e achados do Galeão San José, não tardou 24 horas. Quem pode reclamar propriedade sobre este navio, afundado há 307 anos pela armada britânica, liderada por Charles Wagner na batalha de Barú, e em que 600 pessoas perderam a vida? "Este património é de todos os colombianos", disse, sem hesitações, o presidente da Colômbia, Juan Manuel dos Santos, em conferência de imprensa, na base naval da cidade de Cartagena das Índias, local escolhido para anunciar ao mundo a descoberta. Não fez a coisa por menos: "Constitui um dos grandes achados e identificações de património submerso da história da humanidade".
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Em nome do governo de Espanha, o secretário de Estado da Cultura, José María Lassalle, disse que vai "solicitar ao colombiano uma informação precisa acerca da aplicação da legislação do seu país em que fundamenta e justifica a intervenção sobre os destroços espanhóis". Em causa está a legislação de colombiana de 2013 de proteção do património submerso, que prevê a possibilidade de comercializar 50% dos achados. Antes deste anúncio, Lassalle já considerava o diploma "preocupante" e já tinha debatido com homóloga colombiana, Mariana Garcés. E promete "uma clara defesa" do património subaquático de Espanha "e a reserva a adotar todas as medidas que o Governo espanhol considere adequadas para manter a defesa e salvaguarda do mesmo". Na justa medida do que a Unesco prevê, cita o diário El País.
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Conflito com americanos
Pelo meio, existe um conflito judicial que opõe o estado colombiano à empresa de exploração subaquática Sea Search Armada, que reclama ter identificado o San José em 1982 e que instaurou vários processos judiciais ao Estado colombiano. Alegam que foi acordada a divisão dos achados, mas depois o Governo recuou dizendo que todo o património pertence ao país. Um tribunal americano deu razão à Colômbia em 2011, mas o caso ainda não está encerrado.
O achado aconteceu na madrugada de 27 de novembro, no Mar das Caraíbas, segundo o jornal colombiano Heraldo. O sonar do navio Malpelo da Marinha colombiana detetou uma anomalia no fundo do mar que revelou ser uma embarcação que souberam ser o San José, graças aos golfinhos gravados nos canhões de bronze que foram encontrados.
Eram uma marca da coroa espanhola, explicou na conferência de imprensa o investigador Ernesto Montenegro, diretor do Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH). Foi ele que liderou a expedição, em parceria com a marinha colombiana e uma empresa privada. Entre os técnicos envolvidos na operação está um técnico que participou nos trabalhos do Titanic e que se encontra na Malásia a trabalhar os destroços do avião MH370.
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Desconhece-se a empresa que participou nesta expedição e a regra é dizer pouco. "A informação é um assunto de Estado, pelo que se encontra sob reserva da lei", afirmou o presidente colombiano. Algumas perguntas ficaram resposta. Por exemplo, o lugar exato do mar das Caraíbas onde foram descobertos os destroços e a que profundidade. Os jornais dividem-se entre os 600 e os 250 metros.
Mas Ernesto Montenegro avançou com pelo menos mais um dado: cerca de 100 objetos, entre potes de cerâmica e frascos de vidro foram encontrados à superfície. O seu tesouro, avaliado em milhões, são lingotes de ouro e prata peruana, de acordo com o historiador Roberto Segovia. Intactos os destroços esperam a entrada em cena dos arqueólogos subaquáticos. Serão o acervo de "um grande museu" do galeão, semelhante aos dos escandinavos, prometido por Juan Manuel dos Santos.